29 de fevereiro de 2016

Balança Comercial
O seletíssimo grupo dos que
exportaram mais em 2015


   

 
A Carta IEDI que será divulgada hoje mostra que, em 2015, a balança comercial do País voltou à condição superavitária, de US$ 19,7 bilhões, revertendo o sinal de 2014 e a tendência de piora no saldo que vinha desde 2012. No caso dos bens tipicamente produzidos pela indústria de transformação, o déficit retrocedeu do patamar recorde US$ 63,6 bilhões de 2014 para um resultado negativo de US$ 30,7 bilhões.

Este retorno ao superávit decorreu de uma queda das importações de 25,1% mais do que compensando a retração de 15,1% das exportações. Quanto às mercadorias provenientes da indústria de transformação, suas exportações diminuíram pela segunda vez consecutiva, de US$ 133,5 bilhões em 2014 para US$ 120,2 bilhões em 2015, recuo de 10,0%. Logo a magnitude do déficit encolheu pela forte retração nas importações não só dos itens da indústria de transformação, de 23,4%, mas também dos demais bens – agropecuários e minerais – da balança comercial brasileira, queda de 35,9%.

O IEDI vem ao longo do tempo acompanhando o comércio exterior dos bens da indústria de transformação pela classificação de intensidade tecnológica nos moldes da OCDE, que abarca quatro faixas: de alta intensidade, de média-alta, média-baixa e baixa. Cada uma delas é subdividida em segmentos ou ramos, somando dezenove ao todo.

Um modo de visualizar os fluxos comerciais por tal critério reside em concatenar tais faixas e ramos em termos quer do saldo, quer do comportamento das exportações, se cresceram ou não em 2015. Assim, pode-se verificar quatro situações, cada uma consistindo em um quadrante ou caixa de um gráfico de dispersão:

  • Na primeira situação, a melhor delas, estão os segmentos superavitários no ano, cujas exportações em dólares correntes cresceram frente ao ano anterior. Nenhuma das quatro faixas se encaixaram nesse quadrante em 2015. Dez anos antes, as de média-alta, média-baixa e de baixa intensidade estavam nele. Dos dezenove ramos, só dois: um de alta intensidade, a indústria aeronáutica, e um de baixa intensidade, produtos madeireiros, de papel e celulose e impressão gráfica. Em 2005, nove ramos combinavam superávit com expansão exportadora;
     
  • A segunda abarca aqueles que, embora deficitários, exportaram mais do que no ano anterior. Só a faixa de alta intensidade logrou ampliar suas exportações, puxadas pela indústria aeronáutica, mas insuficiente para se tornar superavitário. Registrou déficit de R$ 22,8 bilhões. Dez anos antes, também só essa faixa se encontrava em tal situação. Dentre os agrupamentos, nenhum se encaixou nessa situação em 2015. Significa que somente exportaram mais em 2015 os dois ramos antes mencionados.
     
  • Em 2015, na terceira e pior situação ficaram as faixas de média-alta (déficit de US$ 42,7 bilhões) e média-baixa intensidade (déficit de US$ 524 milhões). Portanto combinaram saldo negativo com declínio exportador. Dos dezenove ramos, treze registraram déficit com vendas externas cadentes: quatro da faixa de alta intensidade – produtos farmacêuticos e os três ramos do complexo eletrônico; todos os cinco de média-alta, i.e., dois de materiais de transporte terrestres, os dois ramos de máquinas e equipamentos e a indústria química; dois de média-baixa, a saber, produtos de borracha e plásticos e os produtos derivados de petróleo e afins; e dois de baixa intensidade, produtos diversos e o ramo de têxteis, vestuário, calçados e artigos de couro.
     
  • O quarto quadrante encampa os superavitários cujas exportações declinaram no ano. É onde está a faixa de baixa intensidade em 2015, com seu expressivo saldo, de US$ 35,3 bilhões. Tal magnitude só foi possível por conta dos alimentos industrializados, bebidas e fumo, com superávit de US$ 29,8 bilhões, conjunto de bens que ocupava a primeira caixa em 2005. Além desse ramo, outros três, todos de média-baixa, compõem essa caixa: construção naval, outros produtos de minerais não-metálicos e os produtos metálicos (inclui os produtos da siderurgia).

Logo o seleto grupo de bens da indústria de transformação cujas exportações cresceram ficou ainda mais seleto em 2015 do que em 2014. Se eram cinco de dezenove, em 2015 restaram dois. Dentro está um segmento intensivo em tecnologia, a indústria aeronáutica, cujo êxito está associado a esforços governamentais que partiram de uma empresa estatal e principalmente da formação de recursos humanos qualificados e especializados. O outro segmento, de produtos madeireiros, de papel e celulose e impressão gráfica, é caracterizado pelo processo produtivo intensivo em recursos naturais.

Em suma, se houve melhora no resultado comercial, não se pode comemorar. Retomar as exportações passa a ser a chave para a economia voltar a crescer. Mas também permanece como desafio.
  

 

 

 

 

Leia outras edições de Análise IEDI na seção Economia e Indústria do site do IEDI


Leia no site do IEDI: O Cúmulo da Cumulatividade Tributária - Estudo sobre a cumulatividade de impostos no Brasil, um problema que aparece quando os tributos pagos na compra de bens e serviços necessários à produção não são recuperados pelo produtor quando completa a produção e o produto é vendido.