A Carta IEDI que será divulgada hoje mostra que, em 2015,
a balança comercial do País voltou à condição
superavitária, de US$ 19,7 bilhões, revertendo o
sinal de 2014 e a tendência de piora no saldo que vinha
desde 2012. No caso dos bens tipicamente produzidos pela indústria
de transformação, o déficit retrocedeu do
patamar recorde US$ 63,6 bilhões de 2014 para um resultado
negativo de US$ 30,7 bilhões.
Este retorno
ao superávit decorreu de uma queda das importações
de 25,1% mais do que compensando a retração de 15,1%
das exportações. Quanto às mercadorias provenientes
da indústria de transformação, suas exportações
diminuíram pela segunda vez consecutiva, de US$ 133,5 bilhões
em 2014 para US$ 120,2 bilhões em 2015, recuo de 10,0%.
Logo a magnitude do déficit encolheu pela forte retração
nas importações não só dos itens da
indústria de transformação, de 23,4%, mas
também dos demais bens – agropecuários e minerais
– da balança comercial brasileira, queda de 35,9%.
O IEDI vem
ao longo do tempo acompanhando o comércio exterior dos
bens da indústria de transformação pela classificação
de intensidade tecnológica nos moldes da OCDE, que abarca
quatro faixas: de alta intensidade, de média-alta, média-baixa
e baixa. Cada uma delas é subdividida em segmentos ou ramos,
somando dezenove ao todo.
Um modo de
visualizar os fluxos comerciais por tal critério reside
em concatenar tais faixas e ramos em termos quer do saldo, quer
do comportamento das exportações, se cresceram ou
não em 2015. Assim, pode-se verificar quatro situações,
cada uma consistindo em um quadrante ou caixa de um gráfico
de dispersão:
- Na primeira
situação, a melhor delas, estão os segmentos
superavitários no ano, cujas exportações
em dólares correntes cresceram frente ao ano anterior.
Nenhuma das quatro faixas se encaixaram nesse quadrante em 2015.
Dez anos antes, as de média-alta, média-baixa e
de baixa intensidade estavam nele. Dos dezenove ramos, só
dois: um de alta intensidade, a indústria aeronáutica,
e um de baixa intensidade, produtos madeireiros, de papel e celulose
e impressão gráfica. Em 2005, nove ramos combinavam
superávit com expansão exportadora;
- A segunda
abarca aqueles que, embora deficitários, exportaram mais
do que no ano anterior. Só a faixa de alta intensidade
logrou ampliar suas exportações, puxadas pela indústria
aeronáutica, mas insuficiente para se tornar superavitário.
Registrou déficit de R$ 22,8 bilhões. Dez anos antes,
também só essa faixa se encontrava em tal situação.
Dentre os agrupamentos, nenhum se encaixou nessa situação
em 2015. Significa que somente exportaram mais em 2015 os dois
ramos antes mencionados.
- Em 2015,
na terceira e pior situação ficaram as faixas de
média-alta (déficit de US$ 42,7 bilhões)
e média-baixa intensidade (déficit de US$ 524 milhões).
Portanto combinaram saldo negativo com declínio exportador.
Dos dezenove ramos, treze registraram déficit com vendas
externas cadentes: quatro da faixa de alta intensidade –
produtos farmacêuticos e os três ramos do complexo
eletrônico; todos os cinco de média-alta, i.e., dois
de materiais de transporte terrestres, os dois ramos de máquinas
e equipamentos e a indústria química; dois de média-baixa,
a saber, produtos de borracha e plásticos e os produtos
derivados de petróleo e afins; e dois de baixa intensidade,
produtos diversos e o ramo de têxteis, vestuário,
calçados e artigos de couro.
- O quarto
quadrante encampa os superavitários cujas exportações
declinaram no ano. É onde está a faixa de baixa
intensidade em 2015, com seu expressivo saldo, de US$ 35,3 bilhões.
Tal magnitude só foi possível por conta dos alimentos
industrializados, bebidas e fumo, com superávit de US$
29,8 bilhões, conjunto de bens que ocupava a primeira caixa
em 2005. Além desse ramo, outros três, todos de média-baixa,
compõem essa caixa: construção naval, outros
produtos de minerais não-metálicos e os produtos
metálicos (inclui os produtos da siderurgia).
Logo
o seleto grupo de bens da indústria de transformação
cujas exportações cresceram ficou ainda mais seleto
em 2015 do que em 2014. Se eram cinco de dezenove, em 2015 restaram
dois. Dentro está um segmento intensivo em tecnologia, a
indústria aeronáutica, cujo êxito está
associado a esforços governamentais que partiram de uma empresa
estatal e principalmente da formação de recursos humanos
qualificados e especializados. O outro segmento, de produtos madeireiros,
de papel e celulose e impressão gráfica, é
caracterizado pelo processo produtivo intensivo em recursos naturais.
Em
suma, se houve melhora no resultado comercial, não se pode
comemorar. Retomar as exportações passa a ser a chave
para a economia voltar a crescer. Mas também permanece como
desafio.
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