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O crédito às empresas secou ainda mais neste início
de ano. Segundo os dados divulgados hoje pelo Banco Central, as
concessões de crédito para pessoas jurídicas
em janeiro sofreram, em termos reais, uma redução
dramática, de 23,3% frente ao mesmo mês do ano anterior.
Vale lembrar que o ritmo de queda no último trimestre de
2015 era de 14%. Portanto, caso seja confirmado, o resultado de
janeiro configura uma nova e ainda mais grave fase de contração
do crédito no país. A situação do
crédito às famílias não está
muito diferente, -20,1% em janeiro e -16,9% no quarto trimestre
do ano passado. O que já era ruim parece estar piorando.
A contração
mais intensa do crédito às empresas em janeiro foi
resultado da evolução das concessões do crédito
livre, que caíram 20,6%, mas sobretudo do crédito
direcionado, ainda que, a priori, este tipo de crédito
devesse se comportar de maneira menos pró-cíclica
do que estamos verificando. Em janeiro, o recuo de suas concessões
chegou a 43,0%, patamar bastante superior àquele do final
de 2015 (-25,8%, no último trimestre).
Vejamos quais
modalidades do crédito corporativo tiveram maior queda.
Dentre aquelas do crédito livre, chamam atenção
a redução de 39,5% das concessões de capital
de giro, em termos reais e frente a janeiro de 2015, e as evoluções
de conta garantida (-18,9%) e cheque especial (-15,3%). Todas
essas modalidades estão fortemente relacionadas ao nível
de atividade das empresas, mas também estão mais
sujeitas ao racionamento decorrente da maior aversão a
riscos por parte dos bancos.
No crédito
direcionado, as concessões ao setor imobiliário
em janeiro caíram 64,4% frente ao mesmo mês do ano
anterior, depois de terem apresentado variação negativa
ao longo de quase todo o ano de 2015. Isso se deve ao acúmulo
de estoques de imóveis não vendidos, à elevação
dos distratos e, consequentemente, ao adiamento de novos lançamentos,
que têm caracterizado o setor imobiliário já
há algum tempo.
Igualmente
preocupante é a retração de 42,0% das concessões
de financiamento do BNDES ao investimento das empresas. Essa taxa
denota que por enquanto não há indícios de
alteração do quadro do final de 2015 (-44,8% no
último trimestre). O ambiente de forte incerteza continua,
assim, prejudicando a expectativas dos empresários e bloqueando
as decisões de investimento.
Setorialmente,
a contar pela evolução real dos saldos de crédito,
o setor mais atingido tem sido a construção, com
queda de 13,2% em relação a janeiro de 2015, seguida
pelo comércio (-9,9%) e pela indústria de transformação
(-6,1%). O saldo de crédito ao setor de serviços,
exceto comércio, recuou 1%.
Um comentário
final diz respeito à evolução da inadimplência,
que continua em elevação. O destaque vai para a
inadimplência das empresas no crédito livre, cuja
alta de 1,2 p.p. em relação a janeiro de 2015 a
levou para o patamar de 4,7% neste início de 2016. No caso
do crédito direcionado, apesar do patamar inferior, a inadimplência
quase dobrou nos últimos doze meses, passando de 0,5% para
0,9%.
A inadimplência
total das empresas progrediu de 2,0% para 2,7% das carteiras,
entre janeiro de 2015 e de 2016, e aquela das famílias,
de 3,7% para 4,3%. Essa trajetória começa a trazer
inquietações porque ocorre a despeito do intenso
esforço de renegociação de dívidas
promovido pelos bancos, como forma de evitar previamente atrasos
dos pagamentos.
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Resultados Gerais. Os dados de crédito do Brasil
divulgados hoje pelo Banco Central indicaram que o saldo das operações
alcançou R$ 3.216,0 bilhões, que corresponde a uma participação
no PIB de 53,7%. As operações de crédito realizadas
a partir de recursos livres responderam por 27,1% e a parcela que corresponde
a recursos direcionados, 26,6% do PIB.
A carteira de crédito
a partir de recursos livres atingiu R$ 1.616,5 bilhões o que representou
uma retração de 1,2% frente ao mês anterior. Em relação
ao mesmo mês do ano anterior, a expansão foi de 3,3%. O valor
destas operações realizadas junto a pessoas físicas
correspondeu a R$ 803.800,0 milhões, uma expansão de 2,3%
frente ao mesmo mês do ano anterior. Já o valor das operações
junto a pessoas jurídicas alcançou R$ 831.800,0 milhões,
aumento de 4,4% frente a janeiro de 2015.
O estoque de crédito
originado de operações feitas com recursos direcionados
atingiu em dezembro R$ 1.582,7 bilhões, apresentando estabilidade
frente ao mês anterior e expansão de 9,3% frente a janeiro
de 2015. O valor relacionado às operações junto a
pessoas físicas foi de R$ 710,1 bilhões (aumento de 11,2%
sobre o mesmo mês do ano anterior), enquanto que, para pessoas jurídicas,
foi de R$ 872,6 bilhões (7,7% maior do que o mês de janeiro
de 2015).
No mês de dezembro
foram concedidos R$ 256,7 bilhões em novas operações
de crédito, frente a R$ 295,5 bilhões no mesmo mês
do ano passado, o que em termos reais representa uma variação
negativa de 21,5%. Deste volume, R$ 236,3 bilhões foram originados
de recursos livres (decrescimento de 18,5% frente ao mesmo mês do
ano anterior), sendo que 57,5% em operações junto a pessoas
físicas e 42,5% para a pessoas jurídicas. Quanto às
concessões com recursos direcionados, a variação
foi de -45,2% frente ao mesmo mês do ano anterior, atingindo R$
20,4 bilhões. Deste montante, 50,5% foram destinados como crédito
às famílias e 49,5% destinados a pessoas jurídicas.
Setores. Do saldo total de crédito do sistema financeiro
nacional, a carteira de operações para indústria
alcançou R$ 821,8 bilhões, o que representa uma redução
de 4,7% frente ao último mês de janeiro. No caso da indústria
de transformação, o recuo foi de 6,1% nesta mesma comparação.
O setor agropecuário respondeu por R$ 24,9 bilhões (redução
de 3,8% frente ao mesmo janeiro de 2015). O saldo do setor de serviços
foi de R$ 795,8 bilhões, diminuição de 4,5% em relação
ao mesmo mês do ano anterior.
Juros e Inadimplência.
A taxa média de juros total atingiu 31,4% a.a. em janeiro.
Nas operações originadas a partir de recursos livres, a
taxa média foi de 49,4% a.a. (avanço de 10,3 p.p. em relação
a janeiro de 2015): 66,1% para pessoas físicas e 31,5% para pessoas
jurídicas. Já no âmbito das operações
de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média
foi de 11,0 % a.a (aumento de 2,6 p.p.): média de 9,9% para pessoas
físicas e 12,3% para pessoas físicas.
A inadimplência
total de dezembro atingiu 3,5%, um aumento de 0,7 p.p. em relação
a janeiro de 2015. Nas operações feitas com recursos livres,
a taxa de inadimplência média registrada foi de 5,4%: 6,2%
para pessoas físicas e 4,7% para pessoas jurídicas. Para
os contratos feitos com recursos direcionados, a taxa média foi
de 1,4% (variação de -0,3 p.p. desde janeiro de 2015): 2,1%
para as famílias e 0,9% para empresas.
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