24 de fevereiro de 2016

Crédito
Dimensão da queda


   

 
O crédito às empresas secou ainda mais neste início de ano. Segundo os dados divulgados hoje pelo Banco Central, as concessões de crédito para pessoas jurídicas em janeiro sofreram, em termos reais, uma redução dramática, de 23,3% frente ao mesmo mês do ano anterior. Vale lembrar que o ritmo de queda no último trimestre de 2015 era de 14%. Portanto, caso seja confirmado, o resultado de janeiro configura uma nova e ainda mais grave fase de contração do crédito no país. A situação do crédito às famílias não está muito diferente, -20,1% em janeiro e -16,9% no quarto trimestre do ano passado. O que já era ruim parece estar piorando.

A contração mais intensa do crédito às empresas em janeiro foi resultado da evolução das concessões do crédito livre, que caíram 20,6%, mas sobretudo do crédito direcionado, ainda que, a priori, este tipo de crédito devesse se comportar de maneira menos pró-cíclica do que estamos verificando. Em janeiro, o recuo de suas concessões chegou a 43,0%, patamar bastante superior àquele do final de 2015 (-25,8%, no último trimestre).

Vejamos quais modalidades do crédito corporativo tiveram maior queda. Dentre aquelas do crédito livre, chamam atenção a redução de 39,5% das concessões de capital de giro, em termos reais e frente a janeiro de 2015, e as evoluções de conta garantida (-18,9%) e cheque especial (-15,3%). Todas essas modalidades estão fortemente relacionadas ao nível de atividade das empresas, mas também estão mais sujeitas ao racionamento decorrente da maior aversão a riscos por parte dos bancos.

No crédito direcionado, as concessões ao setor imobiliário em janeiro caíram 64,4% frente ao mesmo mês do ano anterior, depois de terem apresentado variação negativa ao longo de quase todo o ano de 2015. Isso se deve ao acúmulo de estoques de imóveis não vendidos, à elevação dos distratos e, consequentemente, ao adiamento de novos lançamentos, que têm caracterizado o setor imobiliário já há algum tempo.

Igualmente preocupante é a retração de 42,0% das concessões de financiamento do BNDES ao investimento das empresas. Essa taxa denota que por enquanto não há indícios de alteração do quadro do final de 2015 (-44,8% no último trimestre). O ambiente de forte incerteza continua, assim, prejudicando a expectativas dos empresários e bloqueando as decisões de investimento.

Setorialmente, a contar pela evolução real dos saldos de crédito, o setor mais atingido tem sido a construção, com queda de 13,2% em relação a janeiro de 2015, seguida pelo comércio (-9,9%) e pela indústria de transformação (-6,1%). O saldo de crédito ao setor de serviços, exceto comércio, recuou 1%.

Um comentário final diz respeito à evolução da inadimplência, que continua em elevação. O destaque vai para a inadimplência das empresas no crédito livre, cuja alta de 1,2 p.p. em relação a janeiro de 2015 a levou para o patamar de 4,7% neste início de 2016. No caso do crédito direcionado, apesar do patamar inferior, a inadimplência quase dobrou nos últimos doze meses, passando de 0,5% para 0,9%.

A inadimplência total das empresas progrediu de 2,0% para 2,7% das carteiras, entre janeiro de 2015 e de 2016, e aquela das famílias, de 3,7% para 4,3%. Essa trajetória começa a trazer inquietações porque ocorre a despeito do intenso esforço de renegociação de dívidas promovido pelos bancos, como forma de evitar previamente atrasos dos pagamentos.
 

 
Resultados Gerais. Os dados de crédito do Brasil divulgados hoje pelo Banco Central indicaram que o saldo das operações alcançou R$ 3.216,0 bilhões, que corresponde a uma participação no PIB de 53,7%. As operações de crédito realizadas a partir de recursos livres responderam por 27,1% e a parcela que corresponde a recursos direcionados, 26,6% do PIB.

A carteira de crédito a partir de recursos livres atingiu R$ 1.616,5 bilhões o que representou uma retração de 1,2% frente ao mês anterior. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a expansão foi de 3,3%. O valor destas operações realizadas junto a pessoas físicas correspondeu a R$ 803.800,0 milhões, uma expansão de 2,3% frente ao mesmo mês do ano anterior. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas alcançou R$ 831.800,0 milhões, aumento de 4,4% frente a janeiro de 2015.

O estoque de crédito originado de operações feitas com recursos direcionados atingiu em dezembro R$ 1.582,7 bilhões, apresentando estabilidade frente ao mês anterior e expansão de 9,3% frente a janeiro de 2015. O valor relacionado às operações junto a pessoas físicas foi de R$ 710,1 bilhões (aumento de 11,2% sobre o mesmo mês do ano anterior), enquanto que, para pessoas jurídicas, foi de R$ 872,6 bilhões (7,7% maior do que o mês de janeiro de 2015).

No mês de dezembro foram concedidos R$ 256,7 bilhões em novas operações de crédito, frente a R$ 295,5 bilhões no mesmo mês do ano passado, o que em termos reais representa uma variação negativa de 21,5%. Deste volume, R$ 236,3 bilhões foram originados de recursos livres (decrescimento de 18,5% frente ao mesmo mês do ano anterior), sendo que 57,5% em operações junto a pessoas físicas e 42,5% para a pessoas jurídicas. Quanto às concessões com recursos direcionados, a variação foi de -45,2% frente ao mesmo mês do ano anterior, atingindo R$ 20,4 bilhões. Deste montante, 50,5% foram destinados como crédito às famílias e 49,5% destinados a pessoas jurídicas.

 

 
Setores.
Do saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para indústria alcançou R$ 821,8 bilhões, o que representa uma redução de 4,7% frente ao último mês de janeiro. No caso da indústria de transformação, o recuo foi de 6,1% nesta mesma comparação. O setor agropecuário respondeu por R$ 24,9 bilhões (redução de 3,8% frente ao mesmo janeiro de 2015). O saldo do setor de serviços foi de R$ 795,8 bilhões, diminuição de 4,5% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Juros e Inadimplência. A taxa média de juros total atingiu 31,4% a.a. em janeiro. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 49,4% a.a. (avanço de 10,3 p.p. em relação a janeiro de 2015): 66,1% para pessoas físicas e 31,5% para pessoas jurídicas. Já no âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 11,0 % a.a (aumento de 2,6 p.p.): média de 9,9% para pessoas físicas e 12,3% para pessoas físicas.

A inadimplência total de dezembro atingiu 3,5%, um aumento de 0,7 p.p. em relação a janeiro de 2015. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência média registrada foi de 5,4%: 6,2% para pessoas físicas e 4,7% para pessoas jurídicas. Para os contratos feitos com recursos direcionados, a taxa média foi de 1,4% (variação de -0,3 p.p. desde janeiro de 2015): 2,1% para as famílias e 0,9% para empresas.

 

 

 

 

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