17 de fevereiro de 2016

Serviços
A sequência da retração


  

 
O consumo de serviços guarda relações estreitas com a renda média da população e com o nível geral de atividade econômica. Para as famílias, representa uma modernização de estilo de vida que acompanha a ascensão da sua renda. Muitos desses serviços, como os de educação, planos de saúde e comunicação, tornam-se conquistas que as famílias resistem em abrir mão. Para as empresas, acompanha a sofisticação da economia, que exige maiores quantidades e diversidade de serviços técnicos, bem como a concentração de esforços em seus negócios principais, terceirizando atividades de apoio.

Por essas razões, o setor de serviços foi bastante beneficiado pelo crescimento econômico da última década e tem apresentado, em comparação com outros setores, condições um pouco melhores para enfrentar o ambiente recessivo de 2015, inclusive pelo fato de estar menos suscetível ao colapso do crédito. Enquanto no ano passado a indústria encolheu 8,3% e as vendas do comércio varejista 4,3%, o setor de serviços caiu menos, 3,6%.

Mas ainda assim houve queda, com destaque para aqueles serviços mais sensíveis à retração do poder de compra e do emprego e à deterioração das expectativas das famílias, como alimentação fora de casa e viagens, e para aqueles dependentes do ritmo de atividade, como serviços de transporte.

Se considerarmos a ocorrência de dois trimestres consecutivos de queda como critério, o setor de serviços como um todo entra em nítida recessão a partir de junho de 2015, puxado, em primeiro lugar, pelos serviços prestados às famílias, em recessão desde o terceiro trimestre de 2014. Em volume, estes serviços acumularam no ano passado queda de 5,3%, condicionados principalmente por aqueles de alojamento e alimentação (-5,5%).

Os serviços técnicos profissionais prestados também entraram em recessão já em 2014, mas a retração atingiu um patamar mais elevado somente em 2015. No ano, a queda acumulada foi de preocupantes 9,7%, em muito associada a cortes de projetos de investimento das empresas e à paralização do setor de construção, entre outros fatores.

Já os serviços administrativos e complementares, que incluem várias atividades terceirizadas pelas empresas, entraram em recessão apenas no final de 2015, devido a relações contratuais que lhe conferem alguma inércia temporária em relação à queda dos negócios. Ainda assim, caíram 2,4% no acumulado do ano.

Outro segmento a demorar a entrar em recessão, segundo critério aqui adotado, foi o de serviços de informação e comunicação a ponto de ter fechado o ano em estagnação, devido à sua essencialidade para as famílias e para as empresas e por ser caracterizado por seguidas inovações na oferta de seus serviços.

Por sua vez, o segmento de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio só apresentou seu segundo trimestre de queda em meados de 2015, ainda que desde o final de 2014 já tivesse perdido bastante dinamismo. Acumulou no ano passado contração de 6,1%, em grande medida decorrente da brutal queda de 10,4% dos transportes terrestres.

O resultado de outros serviços foi o pior entre os grandes segmentos pesquisados pelo IBGE. A retração chegou a 9,0% no ano. Sua composição diversificada, que reúne serviços financeiros, imobiliários, à agropecuária e de reparos, lhe dá um comportamento particular, apresentando variações negativas em quase todos os trimestres desde 2013. Em 2015, contudo, tornaram-se mais expressivas, especialmente no segundo semestre (-10,5%).

Em suma, o desempenho dos serviços em 2015 reforça o caráter generalizado da crise nesse ano que, de fato, penalizou mais a indústria, mas não poupou ninguém. O quadro em que se encontravam os serviços no final do ano passado traz ainda uma má notícia para os demais setores da economia, devido, sobretudo, ao fato de ser um setor muito empregador.
   

 
Resultados Gerais. De acordo com dados divulgados hoje pela Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE para o mês de dezembro último, houve queda do volume de serviços prestados sobre o mesmo mês do ano anterior, de 5,0%. No acumulado do ano de 2015, a retração foi de 3,6%.

Frente ao mês de dezembro de 2014, todos os grupos pesquisados apresentaram queda do volume de vendas. As maiores oscilações negativas ficaram por conta das categorias outros serviços (-10,0%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-8,8%). No acumulado do ano de 2015, o segmento serviços de informação e comunicação apresentou variação nula, enquanto todos os outros registraram retração. O pior desempenho foi do grupo de outros serviços (-9,0%), seguido por transportes, serviços de transportes e correio (-6,1%).

Segmentos. O segmento de Serviços prestados às famílias apresentou uma queda de 7,0% no volume de serviços, em dezembro sobre igual mês do ano anterior, mantendo a série constante de variações negativas de volume, a partir de maio de 2014. A variação acumulada, no ano ficou em -5,3%, resultado da queda de 5,5% de Serviços de alojamento e alimentação e de 4,0% de Outros serviços prestados às famílias.

Os Serviços de informação e comunicação registraram variação de -0,4% no volume de serviços em dezembro, na comparação com igual mês do ano anterior. A variação acumulada no ano ficou em 0,0%. Esse resultado foi influenciado pela alta de 0,6% do volume de Serviços de tecnologia da informação e comunicação-TIC (-0,4% de Telecomunicações e +4,5% de Serviços de tecnologia da informação) e a retração de 3,8% de Serviços audiovisuais, de edição e agências de notícias.

 

 
O segmento de Serviços profissionais, administrativos e complementares apresentou queda no volume de serviços de 8,8%, em dezembro, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. A variação de volume acumulada no ano ficou em -4,3%. Entre seus componentes, os Serviços técnico-profissionais (mais intensivos em conhecimento) apresentaram recuo no ano de 9,7% em volume de serviços e os Serviços administrativos e complementares (intensivos em mão-de-obra),por sua vez, caíram 2,4%.

O segmento de Transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio registrou variação negativa de volume de 6,9%, em dezembro, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. A variação de volume, acumulada no ano ficou em
-6,1%. Por modalidade, os resultados acumulados em 2015 de volume foram: Transporte terrestre, com -10,4%, Transporte aquaviário, com 17,6% e Transporte aéreo, com 4,3%. A atividade de Armazenagem, serviços auxiliares dos transportes e correio apresentou decréscimo de 4,0%.

O segmento de Outros serviços apresentou variação de volume de -10,0%, em dezembro de 2015 frente ao mesmo mês do ano anterior, e de -9,0% no acumulado do ano.

As Atividades turísticas registraram queda de volume de 1,4% em dezembro, na comparação com dezembro de 2014. A variação acumulada no ano ficou em -2,1%.

Regional. Na análise por unidade federativa, apenas o estado de Rondônia registrou crescimento do volume de serviços na comparação do ano de 2015 com 2014, de 5,3%. Todos os demais apresentaram desempenho negativo, capitaneados por Amapá (11,8%), Maranhão (-11,3%), Amazonas (-9,8%), Paraíba (-6,2%), Espírito Santo (-6,1%), Bahia (-6,0%), Sergipe (-5,4%), Piauí (-5,4%) e Acre (-5,4%). São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais tiveram oscilações negativas de -3,0%, -3,1% e -4,5%, respectivamente.

 

 

 

 

 

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