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A indústria produtora e o varejo de bens não duráveis
(como alimentos, vestuário e medicamentos), de bens duráveis
(como automóveis, móveis e eletrodomésticos)
e também de material de construção têm
motivos de preocupação nesse início de ano,
haja vista os resultados dos meses finais de 2015.
Isso porque
os dados hoje divulgados pelo IBGE sugerem que a retração
do setor vem se acelerando. No acumulado de 2015, o volume de
vendas do varejo restrito caiu 4,3%, mas no último trimestre
a queda chegou a 6,9%. Já para o varejo ampliado, que leva
em conta as vendas de automóveis e materiais de construção,
o desempenho do ano foi de -8,6%, também apontando piora
no último trimestre (-12,0%).
Continuamos
sem nenhuma evidência clara de reversão de muitos
fatores que concorreram para a evolução dramática
do comércio em 2015, como o arrocho e encarecimento do
crédito ou a falta de confiança dos consumidores.
Outros fatores,
entretanto, seguem em trajetória cadente. É o caso
principalmente do emprego e do rendimento médio real da
população, que devem se sobrepor a qualquer alento
ao poder de compra proveniente de um patamar de inflação
relativamente menor em 2016.
De fato, a
alta da inflação em 2015, devido à brusca
e intensa correção de tarifas públicas, como
as de energia elétrica e de água e esgoto, além
do aumento dos preços de combustíveis, corroeu o
poder de compra das famílias e contribuiu para a retração
do comércio no último ano.
A alarmante
subida da taxa básica de juros em reação
à inflação foi repassada aos juros dos empréstimos.
A situação do crédito, que já não
era favorável no início de 2015, só piorou
ao longo do ano. A contração real das concessões
e o encarecimento do crédito atingiu em cheio as vendas
daqueles bens que exigem algum tipo de financiamento. É
o caso de automóveis, cujo volume de vendas caiu 17,8%,
móveis (-16,2%), eletrodomésticos (-12,9%) e material
de construção (-8,4%).
A deterioração
das expectativas das famílias, afligidas pelo medo do desemprego,
também impactou o desempenho desses segmentos porque fez
com que evitassem assumir novas dívidas. O quadro de aumento
do desemprego e retração do rendimento real, agravado
no segundo semestre do ano, contribuiu ademais para o resultado
de -2,5% do volume de vendas de hiper e supermercados, produtos
alimentícios, bebidas e fumo.
Outros segmentos
do comércio varejista cujas vendas dependem de um mix de
crédito e renda igualmente apresentaram variações
negativas, como tecidos, vestuário e calçados (-8,7%),
outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,3%), equipamentos
de informática e comunicação (-1,7%) e livros,
jornais, revistas e papelaria (-10,9%). Sendo que em todos os
casos a situação no final do ano configurava-se
muito pior do que essas variações acumuladas indicam.
O único
segmento do comércio a se salvar em 2015 foi o de artigos
farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria
e cosméticos, que obteve crescimento de 3,0% no acumulado
do ano. Só que aqui, mais uma vez, o desempenho do último
trimestre (+1,6%) indica haver limites à sua capacidade
de resistência.
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Resultados Gerais. Segundo o IBGE, o comércio
varejista brasileiro apresentou variação de -2,7% na passagem
de novembro para dezembro com dados livres de efeitos sazonais, após
apresentar crescimento nos dois meses anteriores (0,3% em outubro e 1,6%
em novembro). Na comparação com dezembro de 2014, o comércio
assinalou recuo de 7,1%. A variação acumulada entre janeiro
e dezembro de 2015, contra igual período do ano anterior, foi de
-4,3%.
Setores. Setorialmente,
na comparação dezembro / novembro na série livre
dos efeitos sazonais, 6 das 8 atividades do comércio varejista
restrito assinalaram queda. Os principais destaques foram observados em:
móveis e eletrodomésticos (-8,7%), outros artigos de uso
pessoal e doméstico (-3,6%), hipermercados, supermercados, produtos
alimentícios, bebidas e fumo (-1,0%), tecidos, vestuário
e calçados (-2,1%) e livros, jornais, revistas e papelarias (-1,4%).
As taxas positivas foram registradas nos setores de artigos farmacêuticos,
médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos
(0,4%) e combustíveis e lubrificantes (0,5%). No varejo ampliado,
veículos e motos, partes e peças (0,4%) e material de construção
(1,1%) registraram variações positivas.
Na comparação
mensal (mês/mesmo mês do ano anterior), quase todos os setores
registraram variação negativa: móveis e eletrodomésticos
(-17,7%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios,
bebidas e fumo (-3,7%), tecidos, vestuário e calçados (-10,3%),
outros artigos de uso pessoal e doméstico (-7,9%) e combustíveis
e lubrificantes (-10,0%), equipamentos e material para escritório,
informática e comunicação (-15,4%) e livros, jornais,
revistas e papelaria (-14,9%). Por outro lado, artigos farmacêuticos,
médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos
(3,1%) foi o único a exercer pressão positiva.
No ano, para a taxa
global de -4,3%, sete setores contribuíram negativamente, com destaque
para: móveis e eletrodomésticos (-14,0%); hipermercados,
supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-2,5%); tecidos,
vestuário e calçados (-8,7%) e combustíveis e lubrificantes
(-6,2%). As demais atividades com desempenho negativo foram: livros, jornais,
revistas e papelaria (-10,9%); equipamentos e material de escritório,
informática e comunicação (-1,7%) e outros artigos
de uso pessoal e doméstico (-1,3%). O único setor que apresentou
aumento no volume de vendas foi artigos farmacêuticos, médicos,
ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (+3,0%).
Regiões.
Na passagem de novembro para dezembro de 2015, na série
com ajuste sazonal, as vendas no varejo foram negativas para todas as
unidades da federação, com destaque para os estados do Pará
(-11,0%), Bahia (-7,2%) e Sergipe (-6,4%). Frente a dezembro de 2014,
o comércio também registrou queda no volume de vendas para
os 27 estados, com destaque para o Amapá (-24,9%). Em termos de
participação na composição da taxa negativa
do varejo, destacaram-se São Paulo (-5,8%) e Rio de Janeiro (-5,5%).
O desempenho acumulado
de 2015 mostrou redução no volume das vendas do comércio
varejista em 26 das 27 unidades da federação, com destaque
para o Amapá (-12,4%), Paraíba (-10,3%) e Goiás (-10,2%).
A exceção ficou por conta de Roraima, com avanço
de 6,5%.
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