|
|
Os dados da produção industrial de dezembro, divulgados
pelo IBGE, completam o quadro de crise que a indústria
enfrentou em 2015 e dão alguns indícios sobre sua
evolução neste começo de 2016. Eis os objetivos
de nossa Análise de hoje. Em comparação com
dezembro do ano anterior, a produção da indústria
no último mês de 2015 teve contração
de 11,8%. Frente a novembro, com ajuste sazonal, a variação
foi de -0,7%.
Vamos ao nosso
primeiro objetivo. O aspecto mais evidente a marcar o desempenho
da indústria em 2015 foi, sem dúvida, o nível
de contração da produção, -8,3%, o
mais intenso da atual serie da produção industrial
do IBGE iniciada em 2002; superando, inclusive, o baque da crise
global, que levou a uma queda de 7,1% em 2009. Observa-se, também,
que em 2015 a indústria de transformação
sofreu ainda mais (-9,9% contra -7,0% em 2009).
Outro aspecto
importante foi o perfil disseminado de queda. Dos 26 ramos pesquisados
pelo IBGE 25 apresentaram recuo no ano passado, atingindo 78,3%
dos produtos levados em conta pela pesquisa. Dentre as categorias
econômicas, as perdas foram lideradas por bens de capital
(-25,5%) e bens de consumo duráveis (-18,7%).
Na raiz desse
processo esteve uma engrenagem perversa a penalizar sobretudo
o investimento e, consequentemente, a indústria: deterioração
generalizada do estado de confiança dos empresários
e das famílias, contração real do crédito,
abrupta correção das tarifas públicas, queda
da massa real de salários, elevação dos juros,
intenso corte do investimento público e paralisia das inversões
da Petrobras e do setor de construção pesada.
Dessa forma,
a variação negativa de dezembro, frente a novembro
com ajuste, nada tem de surpreendente, mas sua composição
setorial fez dele um mês atípico. A boa notícia
é que 3 das 4 categorias econômicas apresentaram
aumento da produção: bens de consumo duráveis
(+9,4%), bens intermediários (+0,7%) e bens de consumo
semi e não duráveis (+0,3%). Também tiveram
alta 11 dos 24 ramos pesquisados.
Algumas hipóteses
podem ser levantadas para o comportamento na margem desses setores.
A indústria pode não ter precisado reduzir produção
para ajustar expectativas frustradas de demanda, que levaram à
acumulação de estoques ao longo de todo o ano de
2015. Ademais, também é possível que o novo
patamar de câmbio já esteja promovendo alguma substituição
de importações. Contudo, é ainda pouco provável
que o mercado internacional esteja na raiz dessa melhora.
A má
notícia é que o setor de bens de capital continua
encolhendo. Foi a única categoria a presentar contração
(-8,2%) frente a novembro. Isso é grave não só
por ter sido o maior recuo do ano todo, mas principalmente porque
pode estar a indicar uma nova rodada de queda do investimento.
Dito isso,
chegamos ao segundo objetivo da nossa Análise, identificar
algumas perspectivas para 2016. O ano se abre, então, com
apreensão sobre o comportamento do investimento. Se a queda
na ponta de bens de capital estiver refletindo uma piora adicional
das decisões de investir na economia, significa que, bem
ou mal, ela deve se alastrar para os demais segmentos industriais.
A isso se
soma o fato de que ainda existem problemas para a sustentação
da produção daqueles setores que apresentaram melhora,
bens duráveis e bens semi e não duráveis.
No caso dos primeiros, a despeito da recuperação
embrionária das expectativas das famílias, a penúria
de crédito não dá nenhum sinal de inflexão.
No caso dos segundos, a redução do emprego coloca
desafios importantes, ainda que a elevação do salário
mínimo deva recompor o poder de compra de parcela da sociedade.
|
Resultados Gerais. Segundo dados do IBGE, a indústria
geral assinalou queda de 0,7% em dezembro frente a novembro de 2015 na
série com dados dessazonalizados, após recuo de 2,3% em
novembro. Frente ao mesmo mês do ano anterior, a produção
industrial recuou 11,9%, 22ª taxa negativa consecutiva nesta comparação.
No ano, a indústria geral acumulou um decréscimo de 8,3%,
comparativamente ao recuo de 3,0% no ano de 2014.
Categorias
de Uso. Entre as categorias de uso na comparação
com o mês imediatamente anterior, bens de capital foi a única
categoria a assinalar recuo (-8,2%) em dezembro de 2015. Os demais segmentos
apontaram taxas positivas nesse mês, com bens de consumo duráveis
(+9,4%) registrando a expansão mais significativa do mês,
seguido pelos bens intermediários (+0,7%) e bens de consumo semi
e não-duráveis (+0,3%).
Na comparação
com igual mês do ano anterior, entretanto, os resultados foram negativos
em todas as categorias uso, com destaque para bens de capital (-31,9%)
e bens de consumo duráveis (-24,7%). No caso dos bens de capital,
chamaram atenção os recuos dos ramos produtores de bens
de capital para equipamentos de transporte (-32,9%). Os bens intermediários
(-11,4%) e de bens de consumo semi e não-duráveis (-4,2%)
também mostraram variações negativas nesse mês,
mas ambos os casos abaixo da média nacional (-11,9%).
No índice acumulado
do ano, por sua vez, o setor de bens de capital (-25,5%) e bens de consumo
duráveis (-18,7%) lideraram a contração da produção
industrial. Os segmentos de bens de consumo semi e não-duráveis
(-6,7%) e de bens intermediários (-5,2%) também assinalaram
variações negativas em 2015.
Setores. Na
passagem de novembro para dezembro, 13 dos 24 ramos pesquisados apresentaram
queda. As influências negativas mais significativas ocorreram em
máquinas e equipamentos (-8,3%), bebidas (-8,4%), metalurgia (-5,0%)
e perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal
(-3,5%). Outros destaques negativos foram: máquinas, aparelhos
e materiais elétricos (-6,6%), produtos de metal (-4,5%), produtos
têxteis (-9,1%), produtos de minerais não-metálicos
(-3,5%) e produtos de madeira (-5,6%). Entre os setores que apresentaram
avanço na produção, destacaram-se produtos alimentícios
(2,6%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis
(3,3%), veículos automotores, reboques e carrocerias (4,7%), equipamentos
de informática, produtos eletrônicos e ópticos (12,2%)
e celulose, papel e produtos de papel (5,4%).
Na comparação
com dezembro de 2014 a produção industrial recuou em 24
das 26 atividades pesquisadas. Os maiores recuos nesta comparação
vieram dos segmentos de veículos automotores, reboques e carrocerias
(-30,9%), indústrias extrativas (-11,5%), máquinas e equipamentos
(-25,2%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis
(-7,6%), metalurgia (-14,1%), equipamentos de informática, produtos
eletrônicos e ópticos (-37,1%), produtos de metal (-19,0%),
máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-22,3%), produtos
de minerais não-metálicos (-15,3%), bebidas (-11,1%), outros
produtos químicos (-7,5%), produtos de borracha e material plástico
(-12,1%), de confecção de artigos do vestuário e
acessórios (-18,4%) e de outros equipamentos de transporte (-22,0%).
Por outro lado, produtos alimentícios (4,4%) e celulose, papel
e produtos de papel (2,6%) foram as únicas atividades que avançaram.
Já no acumulado
de 2015, a indústria decresceu 8,3%, com 25 dos 26 setores investigados
assinalando recuo na produção. Os impactos negativos mais
expressivos vieram de veículos automotores, reboques e carrocerias
(-25,9%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos
e ópticos (-30,0%), máquinas e equipamentos (-14,6%), coque,
produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-5,9%),
metalurgia (-8,9%), produtos de metal
(-11,4%), produtos alimentícios (-2,3%), produtos de borracha e
material plástico (-9,1%), máquinas, aparelhos e materiais
elétricos (-12,2%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos
(-12,2%), produtos de minerais não-metálicos (-7,8%), outros
produtos químicos (-4,9%), vestuário e acessórios
(-10,8%) e produtos têxteis (-14,6%). A única influência
positiva foi observada em indústrias extrativas (3,9%).
|
|