2 de janeiro de 2016

Indústria
Apreensões para 2016


  

 
Os dados da produção industrial de dezembro, divulgados pelo IBGE, completam o quadro de crise que a indústria enfrentou em 2015 e dão alguns indícios sobre sua evolução neste começo de 2016. Eis os objetivos de nossa Análise de hoje. Em comparação com dezembro do ano anterior, a produção da indústria no último mês de 2015 teve contração de 11,8%. Frente a novembro, com ajuste sazonal, a variação foi de -0,7%.

Vamos ao nosso primeiro objetivo. O aspecto mais evidente a marcar o desempenho da indústria em 2015 foi, sem dúvida, o nível de contração da produção, -8,3%, o mais intenso da atual serie da produção industrial do IBGE iniciada em 2002; superando, inclusive, o baque da crise global, que levou a uma queda de 7,1% em 2009. Observa-se, também, que em 2015 a indústria de transformação sofreu ainda mais (-9,9% contra -7,0% em 2009).

Outro aspecto importante foi o perfil disseminado de queda. Dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE 25 apresentaram recuo no ano passado, atingindo 78,3% dos produtos levados em conta pela pesquisa. Dentre as categorias econômicas, as perdas foram lideradas por bens de capital (-25,5%) e bens de consumo duráveis (-18,7%).

Na raiz desse processo esteve uma engrenagem perversa a penalizar sobretudo o investimento e, consequentemente, a indústria: deterioração generalizada do estado de confiança dos empresários e das famílias, contração real do crédito, abrupta correção das tarifas públicas, queda da massa real de salários, elevação dos juros, intenso corte do investimento público e paralisia das inversões da Petrobras e do setor de construção pesada.

Dessa forma, a variação negativa de dezembro, frente a novembro com ajuste, nada tem de surpreendente, mas sua composição setorial fez dele um mês atípico. A boa notícia é que 3 das 4 categorias econômicas apresentaram aumento da produção: bens de consumo duráveis (+9,4%), bens intermediários (+0,7%) e bens de consumo semi e não duráveis (+0,3%). Também tiveram alta 11 dos 24 ramos pesquisados.

Algumas hipóteses podem ser levantadas para o comportamento na margem desses setores. A indústria pode não ter precisado reduzir produção para ajustar expectativas frustradas de demanda, que levaram à acumulação de estoques ao longo de todo o ano de 2015. Ademais, também é possível que o novo patamar de câmbio já esteja promovendo alguma substituição de importações. Contudo, é ainda pouco provável que o mercado internacional esteja na raiz dessa melhora.

A má notícia é que o setor de bens de capital continua encolhendo. Foi a única categoria a presentar contração (-8,2%) frente a novembro. Isso é grave não só por ter sido o maior recuo do ano todo, mas principalmente porque pode estar a indicar uma nova rodada de queda do investimento.

Dito isso, chegamos ao segundo objetivo da nossa Análise, identificar algumas perspectivas para 2016. O ano se abre, então, com apreensão sobre o comportamento do investimento. Se a queda na ponta de bens de capital estiver refletindo uma piora adicional das decisões de investir na economia, significa que, bem ou mal, ela deve se alastrar para os demais segmentos industriais.

A isso se soma o fato de que ainda existem problemas para a sustentação da produção daqueles setores que apresentaram melhora, bens duráveis e bens semi e não duráveis. No caso dos primeiros, a despeito da recuperação embrionária das expectativas das famílias, a penúria de crédito não dá nenhum sinal de inflexão. No caso dos segundos, a redução do emprego coloca desafios importantes, ainda que a elevação do salário mínimo deva recompor o poder de compra de parcela da sociedade.
   

 
Resultados Gerais. Segundo dados do IBGE, a indústria geral assinalou queda de 0,7% em dezembro frente a novembro de 2015 na série com dados dessazonalizados, após recuo de 2,3% em novembro. Frente ao mesmo mês do ano anterior, a produção industrial recuou 11,9%, 22ª taxa negativa consecutiva nesta comparação. No ano, a indústria geral acumulou um decréscimo de 8,3%, comparativamente ao recuo de 3,0% no ano de 2014.

Categorias de Uso. Entre as categorias de uso na comparação com o mês imediatamente anterior, bens de capital foi a única categoria a assinalar recuo (-8,2%) em dezembro de 2015. Os demais segmentos apontaram taxas positivas nesse mês, com bens de consumo duráveis (+9,4%) registrando a expansão mais significativa do mês, seguido pelos bens intermediários (+0,7%) e bens de consumo semi e não-duráveis (+0,3%).

Na comparação com igual mês do ano anterior, entretanto, os resultados foram negativos em todas as categorias uso, com destaque para bens de capital (-31,9%) e bens de consumo duráveis (-24,7%). No caso dos bens de capital, chamaram atenção os recuos dos ramos produtores de bens de capital para equipamentos de transporte (-32,9%). Os bens intermediários (-11,4%) e de bens de consumo semi e não-duráveis (-4,2%) também mostraram variações negativas nesse mês, mas ambos os casos abaixo da média nacional (-11,9%).

No índice acumulado do ano, por sua vez, o setor de bens de capital (-25,5%) e bens de consumo duráveis (-18,7%) lideraram a contração da produção industrial. Os segmentos de bens de consumo semi e não-duráveis (-6,7%) e de bens intermediários (-5,2%) também assinalaram variações negativas em 2015.

Setores. Na passagem de novembro para dezembro, 13 dos 24 ramos pesquisados apresentaram queda. As influências negativas mais significativas ocorreram em máquinas e equipamentos (-8,3%), bebidas (-8,4%), metalurgia (-5,0%) e perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-3,5%). Outros destaques negativos foram: máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-6,6%), produtos de metal (-4,5%), produtos têxteis (-9,1%), produtos de minerais não-metálicos (-3,5%) e produtos de madeira (-5,6%). Entre os setores que apresentaram avanço na produção, destacaram-se produtos alimentícios (2,6%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,3%), veículos automotores, reboques e carrocerias (4,7%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (12,2%) e celulose, papel e produtos de papel (5,4%).

 

 
Na comparação com dezembro de 2014 a produção industrial recuou em 24 das 26 atividades pesquisadas. Os maiores recuos nesta comparação vieram dos segmentos de veículos automotores, reboques e carrocerias (-30,9%), indústrias extrativas (-11,5%), máquinas e equipamentos (-25,2%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-7,6%), metalurgia (-14,1%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-37,1%), produtos de metal (-19,0%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-22,3%), produtos de minerais não-metálicos (-15,3%), bebidas (-11,1%), outros produtos químicos (-7,5%), produtos de borracha e material plástico (-12,1%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-18,4%) e de outros equipamentos de transporte (-22,0%). Por outro lado, produtos alimentícios (4,4%) e celulose, papel e produtos de papel (2,6%) foram as únicas atividades que avançaram.

Já no acumulado de 2015, a indústria decresceu 8,3%, com 25 dos 26 setores investigados assinalando recuo na produção. Os impactos negativos mais expressivos vieram de veículos automotores, reboques e carrocerias (-25,9%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-30,0%), máquinas e equipamentos (-14,6%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-5,9%), metalurgia (-8,9%), produtos de metal
(-11,4%), produtos alimentícios (-2,3%), produtos de borracha e material plástico (-9,1%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-12,2%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-12,2%), produtos de minerais não-metálicos (-7,8%), outros produtos químicos (-4,9%), vestuário e acessórios (-10,8%) e produtos têxteis (-14,6%). A única influência positiva foi observada em indústrias extrativas (3,9%).

 

 

 

 

 

 

 

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