A Carta IEDI que será divulgada hoje resume e comenta,
com ênfase no Brasil, o Atlas da Complexidade de 2014, que
trata da complexidade das exportações mundiais.
O IEDI também procurou aprofundar a análise da situação
brasileira por meio do desempenho de suas microrregiões,
a partir da base de dados DataViva, construída por iniciativa
do Governo de Minas Gerais.
O Atlas da
Complexidade 2014 foi elaborado pelos economistas Ricardo Hausmman
e César Hidalgo, respectivamente da Universidade de Harvard
e do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) dos Estados
Unidos, que argumentam que a complexidade das exportações
é determinante para o crescimento econômico de longo
prazo dos países.
Isso se explica
porque existem conjuntos de produtos no núcleo do tecido
produtivo que são mais essenciais para dinamizar outras
atividades produtivas, por conta de seus efeitos de encadeamento
e transbordamento, sejam de oferta (porque reduzem custos produtivos
e geram progresso técnico) sejam de demanda (porque criam
e expandem mercados).
Colocando
de modo simples, alguns setores produtivos estabelecem mais conexões
com o restante das atividades econômicas. Neste grupo estão,
principalmente, máquinas, materiais para construção,
químicos e produtos relacionados à saúde
e vestuário.
Já
petróleo cru, algodão, arroz e soja tendem a ter
menor conectividade e complexidade. Petróleo refinado,
em contrapartida, é um dos produtos mais complexos, o que
sinaliza que exportar recursos naturais não significa necessariamente
uma baixa capacidade tecnológica. Sua transformação
produtiva pode, na verdade, gerar bens de alto valor agregado.
O indicador
de complexidade criado pelos autores considera as dimensões
da diversificação e da ubiquidade. A diversificação
é tomada em termos da quantidade de produtos exportados
por um país, enquanto a ubiquidade é avaliada pela
quantidade de países que exporta cada produto. Quanto maior
a variedade de bens que um país consegue exportar e quanto
mais exclusivos forem seus produtos exportados, maior a complexidade
econômica. Em outras palavras, a complexidade econômica
é maior quanto menos ubíquos e mais diversificados
os produtos exportados.
No quesito
complexidade, o Brasil vai de mal a pior. Em 2004, as exportações
brasileiras ocupavam o 41º lugar no ranking mundial da complexidade;
já em 2014 caíram para a 51ª posição,
atrás de diversos países em desenvolvimento, como
México, Uruguai, El Salvador e Costa Rica. Neste ranking,
que em 2014 incluía 123 países, o líder é
o Japão, seguido por Alemanha, Suíça, Coreia
do Sul, Suécia, Áustria, República Tcheca,
Finlândia, Hungria e Eslovênia. Esses últimos
países em desenvolvimento, fazem parte dos esquemas regionais
de integração intra-industrial, recebendo investimentos
preferenciais de Alemanha, EUA e Japão.
Como cabe
notar, os vinte países mais complexos incluem economias
de alta renda e alguns poucos de renda média, como Eslováquia
ou México, para onde houve realocação da
produção relacionada às cadeias produtivas,
respectivamente, da União Europeia e do NAFTA. Contudo,
há exceções de países ricos que não
estão entre os mais complexos – devido à baixa
diversidade de suas pautas de exportação –
como Noruega (31ª), Emirados Árabes (63ª) e Austrália
(79ª). Mas sem dúvida, da 80ª posição
em diante, ou seja, os países menos complexos do ranking,
são de baixa renda. Portanto, pode-se traçar uma
nova divisão centro/periferia baseada na complexidade das
exportações, ainda que não haja uma perfeita
correlação positiva com a qualidade de vida e padrão
de renda dos países.
A queda do
Brasil no ranking da complexidade das exportações
entre 2004 e 2014 se deve à deterioração
da pauta, cada vez mais concentrada em produtos minerais (27%
em 2014), produtos vegetais (17%) e alimentos (12%). Dentre os
gêneros industriais destacam-se equipamentos de transporte
(7%), máquinas/elétricos (6%), produtos de metal
(6%) e químicos e relacionados (5%).
Por outro
lado, as importações brasileiras são compostas
de itens industriais mais complexos como máquinas/elétricos
(25%), produtos minerais (21%), químicos e relacionados
(16%) e equipamentos de transporte (11%). No caso de máquinas,
o principal município exportador em 2014 foi Petrópolis,
seguido de Piracicaba; com os Estados Unidos como destino central.
Já em transportes, teve-se São José dos Campos
e São Bernardo do Campo, com a Argentina como maior mercado.
Para avaliar
de que locais no Brasil partem suas exportações
mais ou menos complexas, o IEDI recorreu à base de dados
DataViva, que disponibiliza informações no nível
tanto municipal como estadual, além de agrupamentos em
micro, meso e macrorregiões.
Dessa forma,
quando se avalia a complexidade das exportações
brasileiras por microrregiões, destacam-se São Paulo+ABC,
Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e Guarulhos,
todas elas áreas bastante industrializadas. Dentre as vinte
microrregiões com exportações mais complexas,
a maioria pertence ao Estado de São Paulo, mas também
incluem Rio de Janeiro, Manaus, Caxias do Sul, Curitiba, Porto
Alegre, Ipatinga e Vale do Paraíba Fluminense.
Em relação
ao tipo de produto exportado, na lista dos vinte mais complexos,
que somados responderam por apenas 0,2% das exportações
brasileiras em 2014, há alguns itens das seções
de química, instrumentos, máquinas e metais. Contudo
é somente na 148ª posição do ranking
de complexidade do país que se encontra um bem cujas exportações
excederam US$ 1 bilhão, qual seja, peças de veículos
(US$ 2,58 bilhões).
A diversidade
de produção e exportação de bens no
Brasil é alta, porém bastante concentrada na região
Sudeste, berço também de produtos de maior complexidade
tecnológica. Todavia, os bens mais complexos estão
longe de ser os mais importantes da pauta comercial brasileira,
inclusive a do Sudeste. Ao contrário, até 2014 existia
a tendência de maior parcela de itens de baixíssima
complexidade.
O enfraquecimento
da posição comercial do Brasil é uma ameaça
ao futuro da sua trajetória de desenvolvimento. Cada vez
mais suas cadeias produtivas estão sendo corroídas,
perdendo elos sofisticados, de modo que as exportações
estão se especializando em atividades menos conectadas
e menos complexas.
A conclusão
geral desta análise é que exceto se o Brasil voltar
a praticar políticas industriais e macroeconômicas
corretas em prol do reerguimento industrial e do fomento às
exportações mais complexas ficará comprometida
a capacidade de crescimento de sua economia.