28 de janeiro de 2016

Emprego
Por causa da indústria


   

 
A evolução do desemprego em 2015 foi digna de nota, para dizer o mínimo. Em apenas doze meses, a taxa de desocupação saltou de 4,3% em dezembro de 2014 para 6,9% em dezembro de 2015. Voltamos assim a um patamar de desemprego muito próximo, um pouco superior até, daquele provocado pelo impacto da crise global (6,8% em dez/09). Regredimos em um ano o que tínhamos progredido em cinco.

A escalada do desemprego deveu-se sobretudo à queda do número de pessoas ocupadas. Em 2015, foram 642 mil trabalhadores a perderem seus empregos. Isso representa uma redução acumulada no ano de 1,6%.

Essa variação esconde uma trajetória nociva em que os recuos foram cada vez mais expressivos a cada trimestre do ano: -0,7%, -0,8%, -1,4% e finalmente -3,3%, em relação aos mesmos trimestres de 2014.

O motor desse processo foi a queda da ocupação da indústria, que já vinha ocorrendo desde outubro de 2013. A essa altura dos acontecimentos, não há surpresa nesta afirmação. A diferença, agora, não se deve tão somente ao agravamento da crise industrial, que por certo ocorreu, mas também ao fato de que os demais setores deixaram de compensar o impacto da desindustrialização sobre o emprego.

Vamos aos números: a indústria foi responsável por quase metade da redução total dos ocupados, -296 mil pessoas entre dezembro de 2014 e dezembro de 2015, sendo apenas de longe seguida pelo comércio (-112 mil) e por serviços (-103 mil).

Aqui se revela outra consequência extremamente adversa da crise industrial. Em função do tipo de contratação mais frequente na indústria, a redução de sua população ocupada determinou a queda da formalização para o conjunto do país. É sobretudo por essa razão que houve redução de 656 mil ocupados com carteira assinada nas seis maiores regiões metropolitanas.

Parte desse contingente, premida pela necessidade, certamente migrou para ocupações por conta própria, ajudando a explicar o aumento de 205 mil ocupados nesta categoria. Trata-se assim de um “empreendedorismo forçado”, que não raras vezes vem acompanhado da perda de rendimentos.

Isso nos leva a um último aspecto a ser destacado na pesquisa. O rendimento médio real habitual no acumulado do ano sofreu contração de 3,7%. O último ano a apresentar variação negativa foi 2004, mas em um nível muito menor (-1,2%). E como no caso da ocupação, o quadro estava muito pior no último trimestre (-7,2%).

A velocidade do processo de deterioração é que marca o ano de 2015. O declínio do emprego que começou de forma tímida no segundo semestre de 2014 avançou rapidamente ao longo do ano passado a ponto de gerarem perdas recordes. E as condições que levaram a isso permaneciam integralmente de pé na virada do ano, razão pela qual essa trajetória deve continuar nesse início de 2016.

O mesmo vale para a massa real de rendimentos, base do consumo de bens agrícolas, industriais e de serviços. Seu declínio mediu ao longo do último ano 5,2%, o que não tem paralelo na base de dados do IBGE, e no último trimestre mostrou tendência clara de intensificação (-10,2%). Sinal de que os primeiros meses de 2016 poderão ser negativos para o varejo e para a compra de serviços no Brasil.
  

 
Resultados Gerais. Em dezembro, a taxa de desocupação foi estimada em 6,9%, resultado 0,6 ponto percentual (p.p.) inferior ao dado do mês imediatamente anterior (sem ajuste sazonal). Entretanto, este foi o pior resultado para um mês de dezembro desde 2007 (7,4%). A taxa de desocupação média de janeiro a dezembro de 2015 foi estimada em 6,8%, contra apenas 4,8% em 2014.

Regiões. Regionalmente, na passagem de novembro para dezembro de 2015, a taxa de desocupação recuou em todas as regiões metropolitanas pesquisadas: Recife (10,0%), Rio de Janeiro (5,1%) e Porto Alegre (5,9%) registraram recuo de 0,8 p.p.; Salvador (11,9%) e São Paulo (7,0%) recuaram 0,4 p.p. e Belo Horizonte foi a localidade a assinalar o menor recuo (-0,2 p.p., fechando o ano em 5,9% da PEA). Em relação a dezembro de 2014, por sua vez, todas assinalaram avanço da taxa de desocupação: Recife (+4,5 p.p.), Salvador (+3,8 p.p.), Belo Horizonte (+3,0 p.p.), São Paulo (+2,6 p.p.), Porto Alegre (+2,3%) e Rio de Janeiro (+1,6 p.p.).

PD, PO e PEA. Em dezembro de 2015, a população desocupada nas seis regiões pesquisadas (1,733 milhão) recuou 7,5% em relação a novembro (1,874 milhão) e cresceu 61,5% contra dezembro de 2014 (1,073 milhão). Na média do ano, a população desocupada foi estimada em 1,71 milhão de pessoas, 42,5% acima da média de 2014 (1,2 milhão). Já a população ocupada chegou a 23,213 milhões, crescendo 0,3% em relação a novembro e recuando (-2,7%) frente a dezembro de 2014. Na média anual, a população ocupada foi de 23,341 milhões de pessoas, recuando 1,6% em relação a 2014. A população economicamente ativa, por sua vez, totalizou 24,946 milhões de pessoas em dezembro de 2015, representando uma queda de 0,3% frente a novembro de 2015 e pequena alta de 0,1% frente a dezembro de 2014.

 

 
Ocupação por Posição na Ocupação. No mês de dezembro, os 23,2 milhões de ocupados distribuíram-se majoritariamente em trabalhadores com carteira assinada (12,54 milhões), trabalhadores por conta própria (4,65 milhões) e empregados sem carteira assinada (3,03 milhões). Na comparação mensal (mês/mesmo mês do ano anterior), a única ocupação a assinalar alta foi conta própria (+4,6%), enquanto o número dos trabalhadores com carteira (-5,0%) e sem carteira (-4,5%) registrou queda.

Setores. O número de ocupados registrou alta passagem de novembro para dezembro especialmente nos setores de serviços domésticos (2,5%) e comércio, reparação de veículos automotores e de objetos pessoais e domésticos (2,2%). As principais quedas foram verificadas na indústria extrativa e de transformação e produção e distribuição de eletricidade, gás e água (-3,6%) e na construção civil (-3,9%). Na comparação entre dezembro de 2014 e dezembro de 2015, o único setor a registrar alta no número de ocupados foi outras atividades (7,5%), enquanto os destaques negativos foram a indústria (-8,3%), intermediação financeira (-2,6%) e comércio (-2,5%).

Rendimento Médio Real. O rendimento médio real habitual dos trabalhadores foi estimado, para o conjunto das seis regiões pesquisadas, no mês de dezembro de 2015, em R$ 2.235,50. Este resultado ficou 1,4% acima do registrado em novembro e 5,8% abaixo do assinalado em dezembro do ano passado (R$ 2.373,02). Regionalmente, em relação a novembro de 2015, o rendimento apresentou retração em Belo Horizonte (-3,0%) e Salvador (-0,9%). Por sua vez, Recife (2,9%), São Paulo (2,7%), Rio de Janeiro (1,4%) e Porto Alegre (0,9%) assinalaram alta. Frente a dezembro de 2014, o rendimento apresentou resultado negativo em todas as regiões metropolitanas: Salvador (-10,9%), Belo Horizonte (-8,5%), Rio de Janeiro (-7,9%), Porto Alegre (-7,0%), São Paulo (-3,8%) e Recife (-3,5%).

 

 

 

 

Leia outras edições de Análise IEDI no site do IEDI


Leia no site do IEDI: Para Vencer a Crise - Documento do IEDI que oferece ao debate nacional linhas gerais de um programa destinado a recolocar o País na trilha do desenvolvimento