27 de janeiro de 2016

Crédito
O arrocho do crédito é parte da crise


   

 
A pesquisa do Banco Central sobre a evolução do crédito bancário divulgada hoje mostra que as concessões totais caíram mais uma vez. Em dezembro de 2015, a variação real (deflacionada pelo IPCA) foi de -15,7% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Com isso, a contração do crédito no acumulado de 2015 chegou a 11,3% em termos reais. Esse desempenho merece alguns comentários.

Em primeiro lugar, é verdade que contribuiu para isso a redução da demanda por crédito, devido ao ambiente econômico recessivo. Mas a elevação dos juros pelo Banco Central e a crescente aversão a riscos dos bancos também impuseram um endurecimento das condições de oferta creditícia, com aumento das taxas de empréstimos e dos spreads e exigências maiores nas avaliações de risco.

Assim, fatores de demanda e de oferta combinaram-se e levaram a quedas cada vez mais intensas do crédito. No primeiro trimestre de 2015 o recuo das concessões totais era 7,7%, em termos reais, frente ao mesmo período de 2014, passando para 9,2% e 12,4% nos trimestres subsequentes, para chegar em 15,6% no último trimestre do ano. Isto mostra que o quadro está em deterioração.

Outro comentário pertinente é que, diferentemente dos anos anteriores, o crédito direcionado, em boa medida concedido por bancos públicos, não só não funcionou de forma anticíclica como seu comportamento aprofundou a crise do crédito. No ano, enquanto este último retrocedeu 8,9% em termos reais, as concessões do crédito direcionado despencaram 25,6% (31,6% só no último trimestre).

Influenciaram esse movimento a suspensão dos projetos de investimento, as restrições ao funding do financiamento imobiliário, devido aos grandes saques das cadernetas de poupança, bem como o ajuste das contas públicas. No ano, o crédito imobiliário às famílias ficou 28,8% menor, em termos reais, e as operações do BNDES com as empresas, 32,5%.

O último comentário destaca o fato de que tanto as empresas como as famílias foram penalizadas. As concessões para as empresas tiveram quedas reais superiores a 10% em todos os trimestres, fechando o ano em -12,8%. O crédito às famílias retrocedeu mais intensamente no segundo semestre, acumulando queda real de 9,9% no ano.

Já a elevação dos spreads e dos juros médios afetou mais as famílias (+5,1 p.p. e +7,2 p.p., respectivamente), mas não isentou as empresas (+1,9 p.p. e +4,4 p.p., respectivamente). Quanto à inadimplência, ocorreram aumentos de 0,5 p.p. no crédito às famílias e de 0,7 p.p. às empresas; mas o fato a ser observado é que dada a gravidade da recessão essas variações podem ser consideradas moderadas.

Em suma, por encarecer e rarear a concessão de crédito, e pela impossibilidade de se utilizar o crédito direcionado como instrumentos anticíclico, o sistema de crédito foi parte relevante na forte recessão que se abateu sobre a economia brasileira.
 

 
Os dados de crédito do Brasil divulgados hoje pelo Banco Central indicaram que a participação do crédito no PIB alcançou 54,3% em dezembro, uma expansão de 0,5 p.p. frente a novembro e aumento de 1,2 p.p. sobre dezembro de 2014. Do saldo total, 28,8% referem-se às operações realizadas junto a pessoas jurídicas e 25,5% a pessoas físicas.

O saldo de crédito concedido por instituições financeiras públicas chegou a 30,4% do PIB, aumentando sua participação em aproximadamente 9,4% em relação ao mesmo mês do ano passado. Já as instituições financeiras privadas atingiram 23,9% do PIB, sendo 15,9% de instituições nacionais e 8,0% de instituições estrangeiras.

No mês de dezembro foram concedidos R$ 343,8 milhões em novas operações de crédito, frente a R$ 408,0 milhões (em termos reais) no mesmo mês do ano passado, o que representa uma variação negativa de 15,7%. Em relação ao mês de novembro, a variação real foi positiva em 13,8%.

 

 
A participação das operações junto a pessoas jurídicas representou 50,4% das novas operações de crédito (aumento de 1,7 p.p. em relação a dezembro de 2014 e de 4,4 p.p. em relação a novembro de 2015), ao passo que participação das operações junto a pessoas físicas atingiu 49,6% (queda de 1,7 p.p. frente a dezembro último e de 4,4 p.p. frente a novembro de 2015).

A inadimplência total de dezembro manteve-se estável, em 3,4%. Nas operações ligadas a pessoas físicas, a taxa de inadimplência apresentou-se constante a 4,2%; sendo 2,0% para operações de recursos direcionados e 6,1% de recursos livres (2,20% e 6,00%, respectivamente, em novembro de 2015). Para operações junto a pessoas jurídicas, a taxa não apresentou variação, em 2,6%, em relação ao mês anterior; 0,9% nos contratos feitos com recursos direcionados e 4,5% para recursos livres (0,9% e 4,5% em outubro, respectivamente).

As taxas médias anuais dos contratos, em juros nominais, atingiram 20,9% e 37,9% para pessoas jurídicas e físicas, respectivamente. Em novembro, estas mesmas taxas alcançaram 21,2% a.a. e 38,7% a.a. Para pessoas jurídicas, as taxas médias de juros praticadas nas operações com recursos livres e recursos direcionados foram de 32,0% a.a. e 10,1% a.a. respectivamente. Para as pessoas físicas as taxas médias foram de 63,7% a.a. para operações recursos livres e 9,7% para operações com recursos direcionados.

 

 

 

 

Leia outras edições de Análise IEDI no site do IEDI


Leia no site do IEDI: Para Vencer a Crise - Documento do IEDI que oferece ao debate nacional linhas gerais de um programa destinado a recolocar o País na trilha do desenvolvimento