3 de dezembro de 2015

Indústria
Quedas impensáveis


  

 
Os dados de produção industrial de outubro mostram que a crise da economia continua estrangulando a indústria. Segundo os dados divulgados hoje pelo IBGE, a contração da indústria de transformação foi de 0,3%, em outubro, frente a setembro, já descontados os efeitos sazonais, resultado de quedas em todas as grandes categorias econômicas. Nem a indústria extrativa se salvou no último mês, apresentando variação de -2%. Com isso, o desempenho da indústria geral foi de -0,7%.

Além da crise generalizada da produção, chama atenção o tamanho das variações negativas, mesmo na comparação com ajuste sazonal, em relação ao mês de setembro. Vejamos a produção de bens de consumo duráveis que, em apenas um mês, caiu 5,6%; ou então, a de bens de capital, com queda de 1,9%. Já bens intermediários, só tem apresentado variações negativas desde o mês de fevereiro (-0,7% em outubro).

Se levarmos em conta as variações em relação ao mesmo mês do ano anterior, ainda que outubro de 2015 tenha tido dois dias úteis a menos, as quedas são impensáveis, chegando a 32,6% em bens de capital e 28,7% em bens de consumo duráveis. O esfacelamento da confiança do empresariado, diante de um ambiente político e econômico cada vez mais nebuloso, a elevação dos juros e a contração do crédito, o grande encolhimento do investimento público, da Petrobras e do complexo da construção pesada, além, da baixa disposição de consumir e redução da renda das famílias, têm produzido um efeito devastador sobre essas categorias.

Cabe ressaltar a crise pela qual alguns ramos industriais em particular vêm passando. Em outubro, dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE, 16 ultrapassaram o patamar queda de 10% frente ao mesmo mês de 2014. Isso já não é pouca coisa, mas é ainda pior para alguns deles. A situação foi particularmente grave na fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-35,8%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-34,9%) e em impressão e reprodução de gravações (-31,9%). Outros setores não ficaram muito atrás, como produtos têxteis (21,7%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-20,8%), produtos de metal (-17,1%), outros equipamentos de transporte (-17%) e calçados (-14,9%).

Vale lembrar ainda que não foi a primeira vez que esses ramos apresentam variações dessa magnitude. De fato, a maioria deles lidera o movimento de contração no acumulado do ano, contribuindo para o aprofundamento da crise da industrial. Se esta trajetória se mantiver, e nada indica o contrário, é muito provável que o presente ano se encerre com uma contração da ordem de 10% da indústria de transformação.
   

 
Em outubro, segundo dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial apontou variação negativa de 0,7% frente ao mês imediatamente anterior, na série livre de influências sazonais. No confronto com igual mês do ano anterior, o total da indústria mostrou queda de 11,2% em outubro de 2015 (20ª taxa negativa consecutiva nesse tipo de comparação). Assim, para o acumulado dos dez meses do ano a variação foi de -7,8%. O indicador acumulado nos últimos doze meses, com o recuo de 7,2%, em outubro de 2015, manteve a trajetória descendente iniciada em março de 2014, assinalando o resultado negativo mais intenso desde novembro de 2009 (-9,4%).

Categorias de Uso. Entre as categorias de uso na comparação com o mês imediatamente anterior, bens de consumo duráveis representou o recuo mais acentuado em outubro de 2015, com queda de 5,6%. A produção de bens de capital (-1,9%) também registrou queda mais intensa que a média nacional (-0,7%). Os bens intermediários (-0,7%) e bens de consumo semi e não-duráveis (-0,6%) também registraram taxas negativas.

No confronto com igual mês do ano anterior, os setores produtores de bens de capital (-32,6%) e bens de consumo duráveis (-28,7%) assinalaram as reduções mais acentuadas. Os setores produtores de bens intermediários (-7,5%) e de bens de consumo semi e não-duráveis (-7,4%) também mostraram resultados negativos nesse mês, mas ambos com recuos abaixo da média nacional (-11,2%).

No acumulado do ano, bens de capital (-24,5%) e bens de consumo duráveis (-17,2%) assinalaram perda de dinamismo. Os segmentos de bens de consumo semi e não-duráveis (-7,2%) e de bens intermediários (-4,5%) também registraram taxas negativas nesta base de comparação.

 

 
Setores. A estagnação da atividade industrial na passagem de setembro para outubro de 2015 foi influenciada pelo recuo de 15 dos 24 ramos pesquisados, especialmente coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,7%), indústrias extrativas (-2,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,0%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-9,4%). Outras contribuições negativas importantes vieram das atividades de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-2,4%), de minerais não-metálicos (-2,1%), de celulose, papel e produtos de papel (-2,3%), de outros equipamentos de transporte (-3,4%) e de produtos de madeira (-4,4%). Por outro lado, entre os oito ramos que ampliaram a produção nesse mês, a maior contribuição para a média global veio de produtos alimentícios (1,7%).

Na comparação com outubro de 2014, o setor industrial mostrou queda de 11,2% em outubro de 2015, com perfil disseminado de resultados negativos: 24 dos 26 ramos apontaram redução na produção. Entre as atividades, podemos destacar: veículos automotores, reboques e carrocerias (-34,9%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-35,8%), máquinas e equipamentos (-18,6%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-7,6%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-20,9%), produtos de metal (-17,2%), metalurgia (-10,8%), produtos de borracha e de material plástico (-12,8%), produtos de minerais não-metálicos (-11,4%), produtos têxteis (-21,7%), impressão e reprodução de gravações (-31,9%), móveis (-24,6%), outros produtos químicos (-5,3%), artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-14,9%), outros equipamentos de transporte (-17,0%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (-9,3%). Por outro lado, na mesma comparação, produtos do fumo (10,1%) e bebidas (0,7%) aumentaram a produção no mês.

No índice acumulado no ano, houve queda em 25 dos 26 ramos (atingindo 75,5% dos 805 produtos investigados). Os principais impactos negativos foram observados em veículos automotores, reboques e carrocerias (-24,6%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-29,2%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-6,3%), máquinas e equipamentos (-13,6%), metalurgia (-8,5%), produtos alimentícios (-3,1%), produtos de metal (-11,2%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-13,3%), produtos de borracha e de material plástico (-8,4%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-11,0%), produtos de minerais não-metálicos (-7,0%), outros produtos químicos (-4,2%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-10,1%) e produtos têxteis (-13,7%). A única influência positiva veio de indústrias extrativas (6,3%).


 

 

 

 

 

 

 

 

Leia outras edições de Análise IEDI no site do IEDI


Leia no site do IEDI: Indústria e Desenvolvimento - Reflexões e Propostas do IEDI para a Economia Brasileira - Para celebrar o aniversário de 25 anos de fundação do IEDI e sua trajetória, produzimos o presente livro que reúne 30 trabalhos representativos do Instituto a respeito dos mais diversos temas da indústria e da economia brasileira.