1º de dezembro de 2015

PIB
Devastação industrial


   

 
A devastação da presente recessão brasileira parece não ter fim e não encontrar paralelo em qualquer outro momento da nossa história econômica recente. O PIB do terceiro trimestre do ano, divulgado hoje pelo IBGE, teve redução de 1,7% frente ao trimestre anterior, com ajuste sazonal. Se considerássemos a taxa anualizada, como fazem outros países, a contração que vivemos nos últimos três meses se encontraria num patamar de 7%.

Ninguém mais duvida da gravidade da atual recessão, mas o quadro fica mais claro quando tomamos as variações trimestrais ao longo do corrente ano. No primeiro, segundo e terceiro trimestres, frente ao mesmo período do ano anterior, a evolução do PIB total foi, respectivamente, de -2%, -3% e -4,5%.

Cabe destacar algumas características dessa trajetória. Primeiramente, do lado da oferta, está claro que a presente crise é predominantemente uma crise industrial, ainda que outros desdobramentos tenham afetado muito certos segmentos de serviços.

De fato, o mergulho do PIB foi liderado pela Indústria de Transformação: -7,3% e -8,1% nos dois primeiros trimestres do ano, respectivamente, e ultrapassando dois dígitos no terceiro trimestre, -11,3%, variação que nos remete ao início de 2009, quando a crise internacional atingiu o país.

Ainda do lado da oferta, em Serviços, os destaques são o Comércio e Transporte, armazenagem e correios, que também apresentaram desempenho ainda mais negativo no terceiro trimestre, -9,9% e -7,7%, respectivamente.

Pelo lado da demanda, a Formação Bruta de Capital Fixo teve queda de 15%, que sucedeu variações de -10,1% e -12,9% nos dois primeiros trimestre de 2015. Com isso, a taxa de investimento do país chegou a 18,1%. A matriz da retração econômica sem dúvida alguma está localizada na queda do investimento. Tal queda é explicada por fatores de toda ordem, desde a decorada das expectativas empresariais até o flagelo de cadeias inteiras de produção, devido à crise da Petrobras e do setor da construção pesada em virtude dos processos da Lava a Jato, passando pelos graves efeitos sobre o investimento público determinados pelo ajuste fiscal.

Do lado do setor externo, o destaque é a queda das Importação de bens e serviços, que foi, nada mais nada menos, de 20% no último trimestre, em relação ao mesmo trimestre de 2014.

O colapso do investimento impacta fortemente a indústria que vê agravada sua crise, a qual teve início já em 2011. A crise industrial arrasta consigo as importações de bens e serviços e boa parcela dos investimentos, uma vez que o peso do setor industrial na Formação Bruta de Capital Fixo é grande, apesar da pequena participação (10%) da indústria no PIB. Por outro lado, outros componentes do investimento, como a construção civil e as obras de infraestrutura também afetam o desempenho da indústria. Por isso, uma crise liderada pelo investimento tem uma gravidade particularmente maior sobre a indústria.

A fragilização industrial gera ainda menor movimentação de cargas, explicando o pior desempenho do setor de Transportes, armazenagem e correios, e prejudica o Comércio, que também sofre com a corrosão pela inflação do poder de compra da população e com a deterioração do mercado de trabalho.

Se a crise não for superada rapidamente muitas empresas da indústria irão sucumbir, gerando uma devastação do parque industrial nacional. A indústria não aguentará outro ano de crise como este de 2015. Até o terceiro trimestre, o setor manufatureiro acumulou queda de 9%, podendo ultrapassar 10% no ano como um todo.

Outros setores a puxarem para baixo o PIB nacional, cuja queda acumulou no ano 3,2%, foram a Construção (-8,4%), Comércio (-7,7%) e Transporte, armazenagem e correios (-5,7). Do lado da demanda, a FBKF e as Importações acumularam contração de 12,7% e 12,4%, respectivamente. Nesse andar da carruagem, ao final do ano é possível que a queda do PIB chegue a 4% e a do Investimento a 15%.

Para não dizer que tudo é um pesadelo, existem dois aspectos dos dados hoje divulgados que podem ser vistos como favoráveis. O primeiro deles é que a queda da Construção foi menor, passando de -10,6%, no segundo trimestre, para -6,3%, no terceiro trimestre, sempre em relação ao mesmo período de 2014. Se isso virar uma tendência, a construção pode drenar menos o crescimento do PIB no próximo trimestre.

O segundo aspecto é que as exportações, a despeito da queda, com ajuste sazonal, de -1,8% em relação ao trimestre anterior, continuam apresentando variação positiva no acumulado do ano (4%), assim, contribuindo positivamente para o crescimento do PIB.

Pelo que os dados mostram, o câmbio ainda não teve um impacto decisivo sobre a evolução das exportações, mas, juntamente com a recessão interna, é explicativo da menor importação. Se há alguma esperança para o PIB nos próximos trimestres é que as exportações comecem a reagir com mais vigor ao novo patamar da taxa de câmbio.
  

 
Segundo o IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do país recuou 1,7% no terceiro trimestre de 2015, em relação ao trimestre anterior (com o ajuste sazonal). Já em relação ao mesmo trimestre de 2014, houve queda de 4,5%. No acumulado do ano, o PIB brasileiro decresceu 3,2%, enquanto que no acumulado dos últimos quatro trimestres, o PIB foi 2,5% menor.

Ótica da oferta. O desempenho do terceiro trimestre do PIB em relação ao trimestre anterior (com ajuste sazonal) foi resultado do decréscimo em todas as atividades: Agropecuária (-2,4%), a Indústria (-1,3%) e os Serviços (-1,0%).

No setor industrial, a maior queda foi observada na indústria de transformação (-3,1%), seguida pela construção civil (-0,5%) e extrativa mineral (-0,2%), enquanto eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana apresentou crescimento de 1,1%.

Nos Serviços, Administração, saúde e educação pública (0,8%) e Intermediação financeira e seguros (0,3%) apresentaram resultados positivos, enquanto as demais atividades registraram variação negativa, com destaque para o comércio (-2,4%).

 

 
Em relação ao mesmo trimestre de 2014, novamente todos os setores apresentaram queda: agropecuária (-2,0%), indústria (6,7%) e serviços (2,9%). Na indústria, novamente a indústria de tranformação registrou a maior queda (-11,3%), enquanto o comércio (-9,9%) assinalou o maior recuo nos serviços.

No ano, o PIB brasileiro acumulou recuo de 3,2% em relação a igual período de 2014, a maior queda acumulada no período de janeiro a setembro desde o início da série histórica iniciada em 1996. Nesta base de comparação a Agropecuária cresceu 2,1%, enquanto a indústria e os serviços recuaram, respectivamente, 5,6% e 2,1%.

No acumulado dos quatro últimos trimestres, o desempenho da Indústria e dos serviços continua em queda, com recuos de 4,7% e 1,6%, respectivamente. A Agropecuária, por sua vez, assinalou avanço de 2,1% no mesmo período.

Ótica da demanda. Sob a ótica da demanda, na comparação com o segundo trimestre de 2015 (com ajuste sazonal), a Formação Bruta de Capital Fixo teve o nono trimestre consecutivo de queda nessa comparação (-4,0%). O consumo das famílias (-1,5%) também apresentou retração, enquanto o consumo do governo cresceu 0,3%. No setor externo, as exportações tiveram queda de 1,8%, enquanto que as importações recuaram 6,9%.

Na comparação entre o terceiro trimestre de 2015 e 2014, a formação bruta de capital fixo teve a maior queda da série histórica iniciada em 1996 (-15,0%). O consumo das famílias (-4,5%) teve a terceira queda consecutiva nessa comparação, enquanto o consumo do governo apresentou variação negativa de 0,4%. No setor externo, as exportações apresentaram expansão de 1,1%, enquanto que as importações caíram em 20,0%, influenciadas pela desvalorização cambial registrada no período.

No ano, a FBKF teve uma queda de 12,7%, seguida pelo consumo das famílias (-3,0%) e o consumo do governo (-0,4%). No setor externo, as importações apresentaram uma queda de 12,4%, enquanto que as exportações cresceram 4,0%. No acumulado dos últimos quatro trimestres, a formação bruta de capital fixo continua em queda: -11,2%. Os demais componentes do PIB também apresentaram queda nessa comparação: Consumo das Famílias (-1,8%) e Consumo do Governo (-0,4%). No setor externo, as exportações mantiveram-se praticamente estáveis (0,1%), enquanto que as importações recuaram 10,4%.

 

 

 

 

 

 

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