27 de novembro de 2015

Crédito
Inadimplência em alta moderada,
mas progressiva


   

 
Os dados de crédito, divulgados nesta sexta-feira pelo Banco Central, confirmam a tendência de contração das concessões que marca o ano de 2015. Em outubro, as concessões totais de crédito foram, em termos reais, 4,6% menores que em setembro. No acumulado de janeiro a outubro a queda chega a 10,7%.

Trata-se de uma retração forte do crédito, que, de um lado, reflete a baixa demanda de recursos por parte de investidores e consumidores. Por outro, espelha também a resistências dos financiadores em colocar à disposição do público fundos em condições razoáveis de financiamento, o que aprofunda a recessão da economia.

Esse movimento tem sido liderado pelo crédito às empresas, às quais demandam menos recursos do sistema bancário diante do quadro recessivo da economia. Esse fator, aliado à aversão a riscos dos bancos já salientada, produziu, no ano, uma queda real de 12,8% das concessões totais às empresas. Para as famílias, a queda foi de 8,9% na mesma comparação.

Dois aspectos adicionais devem ser enfatizados. O primeiro deles é o crescimento moderado, mas persistente da inadimplência. No ano de 2015 temos visto uma reversão da trajetória de queda da inadimplência que ocorria desde o último trimestre de 2012. No entanto, entre janeiro e outubro a inadimplência total do crédito bancário foi progredindo paulatinamente partindo de 2,8% até chegar a 3,2% no mês passado. Aqui, novamente, o ritmo de deterioração dos empréstimos às empresas é quem lidera, subindo de 2% para 2,5% nesse período. Ainda que as famílias apresentem um nível mais elevado de inadimplência, esta cresceu um pouco menos, de 3,7% para 4,1%, em 2015.

É possível que uma alta mais expressiva da inadimplência das famílias esteja sendo gestada. A queda real dos rendimentos, o maior desemprego e o recuo do crédito têm empurrado famílias em pior situação financeira para modalidades de empréstimo com taxas de juros mais altas. E o pior é que essas taxas estão em elevação. É o caso das concessões para cheque especial e cartão de crédito que, em outubro frente a setembro, cresceram 1% e 2,7%, em termos reais, respectivamente.

O segundo aspecto a ser destacado diz respeito à escalada dos juros. Em outubro, os juros médios cobrados no crédito bancário chegaram a 30,5% ao ano, em termos nominais, o maior patamar da série iniciada em março de 2011 e, em termos reais, o maior desde junho de 2012. A alta tem ocorrido tanto para as empresas como para as famílias. No ano aumento tem sido expressivo para as taxas de juros do cheque especial (60 p.p., em termos reais), cartão de crédito (+23,4 p.p.) e, inclusive, do crédito renegociado (+12 p.p.). Esses dados constituem outra indicação de que as famílias poderão enfrentar problemas ainda maiores no futuro próximo.
 

 
Os dados de crédito do Brasil divulgados hoje pelo Banco Central indicaram que a participação do crédito no PIB alcançou 54,7% em outubro, uma retração de 0,3 p.p. frente a setembro e aumento de 1,3 p.p. sobre outubro 2014. Do saldo total, 28,9% referem-se às operações realizadas junto a pessoas jurídicas e 25,8% a pessoas físicas.

O saldo de crédito concedido por instituições financeiras públicas chegou a 30,5% do PIB, aumentando sua participação em aproximadamente 4,1% em relação ao mesmo mês do ano passado. Já as instituições financeiras privadas atingiram 24,2% do PIB, sendo 16,3% de instituições nacionais e 7,9% de instituições estrangeiras.

 

 
No mês de outubro foram concedidos R$ 294,1 milhões em novas operações de crédito, frente a R$ 330,0 milhões no mesmo mês do ano passado, o que representa uma variação real negativa de 19,0%. Em relação ao mês de setembro, a variação real foi de -4,6%. Na comparação entre 2014 e 2015 do desempenho acumulado (entre janeiro e outubro) das novas concessões apresentou declínio real de 10,7%.

A participação das operações junto a pessoas jurídicas representou 46,9% das novas operações de crédito (aumento de 1,1 p.p. em relação a outubro de 2014 e queda de 1,3 p.p. em relação a setembro de 2015), ao passo que participação das operações junto a pessoas físicas atingiu 53,1% (redução de 1,1 p.p. frente a outubro de 2014 e retração de 0,8 p.p. frente a setembro de 2105).

A inadimplência total de setembro registrou pequena variação de 0,1 p.p., alcançando 3,2%. Nas operações ligadas a pessoas físicas, a taxa média de inadimplência subiu para 4,1% (variação de 0,2 p.p), sendo 2,1% para operações com recursos direcionados e 5,8% com recursos livres (eram 1,9% e 5,7%, respectivamente, em setembro de 2015). Para operações junto a pessoas jurídicas, a taxa se manteve em 2,5% (0,1 p.p. maior que o mês anterio, sendo 0,8% nos empréstimos com recursos direcionados e 4,3% naqueles com recursos livres (0,7% e 4,1% em setembro, respectivamente).

As taxas médias anuais dos contratos, em juros nominais, atingiram 21,5% e 38,7% para pessoas jurídicas e físicas, respectivamente. Em setembro, estas mesmas taxas alcançaram 20,4% a.a. e 37,4% a.a. Para pessoas jurídicas, as taxas médias de juros praticadas nas operações com recursos livres e recursos direcionados foram de 30,2% a.a. e 11,1% a.a. respectivamente. Para as pessoas físicas as taxas médias foram de 64,8% a.a. para operações recursos livres e 9,9% para operações com recursos direcionados.

 

 

 

 

 

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