19 de novembro de 2015

Emprego
Má notícia para o comércio e a indústria


   

 
Não é segredo para os analistas do comércio e da indústria que um dos fatores mais determinantes do consumo das famílias é o rendimento real médio ou a massa real de rendimentos do trabalho. A renda familiar é a base da compra de bens de consumo mais essenciais e também daqueles de valor unitário não tão elevado.

O comércio e a indústria de alimentos, remédios, vestuário e calçados, dentre outros ramos têm seu dinamismo vinculado a este fator, o qual também afeta uma faixa de consumo mais diferenciado, por exemplo, produtos de limpeza, cosméticos e utensílios para o lar.

A renda real é ainda a referência sobre a qual o crédito é capaz de multiplicar o poder de compra da população. Quanto maior é a renda e quanto mais alta é a perspectiva de seu crescimento, menor é o risco de inadimplência e maior a disposição dos bancos em ampliar o crédito pessoal e o crédito ao consumo.

Os dados da pesquisa mensal de emprego referentes a outubro de 2015 dão conta de uma situação cada vez mais adversa para o quadro do rendimento do trabalho e da massa real de rendimentos da população. E, portanto, também para as perspectivas de crescimento do varejo e da indústria de bens de consumo nesse final do ano e nos meses iniciais de 2016. O rendimento médio real nas seis principais regiões metropolitanas do país teve queda de 7% relativamente a outubro de 2014.

Este índice é, em si, um fator de apreensão, porque informa uma queda preocupante da renda da população, dada a inflação elevada que vem se impondo ao longo do ano. Ademais, o mês de outubro também registra um forte revés no número de pessoas ocupadas, da ordem de -3,5% com relação ao mesmo mês de 2014. Daí a queda percentual recorde nos últimos doze anos para a massa real de rendimentos (-10,3%), já que esta nada mais é do que o resultado da multiplicação do número de pessoas ocupadas pelo seu rendimento real médio.

Não é somente o nível – que já se revela muito elevado – de declínio do rendimento médio e da massa de rendimentos que chama atenção. Sua rapidíssima involução é digna de registro. Tomemos a massa de rendimento habitual, cujo declínio em outubro último frente ao mesmo mês de 2014 chegou a 10,3%, como já foi registrado. Pois bem, em dezembro do ano passado este percentual era positivo em 1,1%, progredindo em seguida para -4,1% em junho e -6,1% em setembro. Trata-se de uma deterioração rápida e que, aparentemente, encontra-se ainda em processo, razão pela qual não devem ser nada favoráveis as expectativas para a evolução do varejo e da indústria de bens de consumo na entrada de 2016.

Outros números da última PME devem também ser sublinhados. A taxa de desocupação alcançou 7,9% (4,7% em outubro de 2014). Aqui também se tratou de uma evolução meteórica, que em um ano fez retroceder a taxa de desemprego em seis anos. Vale dizer, a nossa taxa de desemprego equivalia em outubro último à do ano crítico de 2009.

Uma segunda observação, a queda do emprego de 3,5% teve como destacado líder a indústria, onde o retrocesso no número de pessoas ocupadas chegou a 8,7%. Em seguida, vieram construção, -5,2%, intermediação financeira, -3,7%, serviços domésticos, -2,1%, e comércio, -1,5%.
  

 
Resultados Gerais. Os dados de outubro da Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE apontaram uma elevação da taxa de desocupação, que alcançou 7,9% nas principais regiões metropolitanas do país. O aumento foi de 0,3 p.p. em relação ao mês de setembro e de 3,2 p.p. frente ao mesmo mês do ano anterior. A média acumulada do ano, de janeiro a outubro, ficou em 6,8% enquanto que a taxa média dos últimos 12 meses alcançou 6,4%.

PD, PO e PEA. Em outubro, o número de pessoas desocupadas foi de 1,913 milhão, 3,2% superior ao mês de setembro e 67,5% maior que outubro de 2014. A população ocupada, de 22,453 milhões de pessoas, retraiu 1,0% em relação a setembro e 3,5% ante o mesmo mês do ano anterior. A população economicamente ativa (PEA), por sua vez, manteve-se praticamente estável, tanto frente ao mês de setembro quanto a outubro, com variações de -0,7% e -0,2%, respectivamente.

 

 
Regiões. Dentre as metrópoles pesquisadas, Recife, Salvador e Rio de Janeiro apresentaram decréscimo da taxa de desocupação de 0,6 p.p., 0,2 p.p. e 0,3 p.p. na passagem de setembro para outubro, atingindo taxas de 9,8%, 12,8% e 6,0%, respectivamente. Em sentido oposto, São Paulo (8,1%), Porto Alegre (6,8%) e Belo Horizonte (6,6%) tiveram aumento da taxa de desocupação de 0,8 p.p., 0,5 p.p. e 0,7 p.p., respectivamente.
Com relação ao mesmo mês do ano de 2014, o aumento da taxa de desocupação foi generalizado entre as regiões pesquisadas, com destaque para Salvador (+4,3 p.p.), São Paulo (+3,7 p.p.), Recife (+3,1 p.p.), Belo Horizonte (+3,1 p.p.), Rio de Janeiro (+ 2,2 p.p.) e Porto Alegre (+2,2 p.p.).

Ocupação por posição na ocupação. Em outubro, os 22,4 milhões de ocupados concentraram-se majoritariamente no grupo de trabalhadores com carteira assinada (12,2 milhões), trabalhadores por conta própria (4,5 milhões) e empregados sem carteira assinada (2,9 milhões). Em relação a setembro, o número de trabalhadores por conta própria aumentou 1,0% enquanto os demais grupos apresentaram retração: com carteira assinada (-0,8%), sem carteira assinada (-3,3%) empregadores (-1,6%) e trabalhadores não remunerados, membro da unidade domiciliar (-15,4%).
Na comparação sobre o mesmo mês do ano anterior, o número de trabalhadores por conta própria manteve-se praticamente estável (expansão de 0,6%), enquanto que os demais grupos apresentaram retração: com carteira assinada (-4,5%), sem carteira assinada (-6,3%), empregadores (-4,9%) e trabalhadores não remunerados, membro de unidade domiciliar (-19,1%).

Setores. Dentre os grupamentos de atividades, em relação a outubro de 2014, todos apresentaram retração no número de pessoas ocupadas, puxados por indústria extrativa e de transformação e produção e distribuição de eletricidade, gás e água (-8,7%) e construção (-5,2%) e outras atividades (-16,0%). Outros grupos apresentaram variações negativas menores, como: intermediação financeira e atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados à empresa (-3,7%), administração pública (-1,1%), defesa, seguridade social, educação, saúde e serviços sociais (-1,1%), serviços domésticos (-2,9%), comércio, reparação de veículos automotores e de objetos pessoais e domésticos (-1,5%).

Rendimento médio real. O rendimento médio real dos trabalhadores apresentou retração de 7,0% frente ao mês de outubro de 2014 e registrou o valor de R$ 2.182. Todas as regiões metropolitanas pesquisadas tiveram variações negativas, puxadas por: Salvador (-10,1%), Recife (-8,8%), Belo Horizonte (-7,8%), Rio de Janeiro (-7,2%), São Paulo (-6,8%) e Porto Alegre (-5,8%).

A massa de rendimentos calculada a partir do rendimento médio real atingiu em outubro R$ 48,995 bilhões, valor 10,3% inferior ao valor de outubro de 2014. Nesta mesma comparação, todas as regiões pesquisadas apresentaram forte retração, como Salvador (-16,5%), Recife (-13,0%), Belo Horizonte (-12,3%), São Paulo (-10,5%), Porto Alegre (-9,1%) e Rio de Janeiro (-7,9%).

 

 

 

 

 

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