27 de outubro de 2015

Crédito
O diferencial é o revés
do crédito direcionado


   

 
No cenário em que não houve mudanças significativas da inadimplência e que os juros dos empréstimos continuam influenciados pelo aperto da política monetária, o grande fator a destacar na evolução do crédito bancário é a contração das concessões, que está em aceleração, segundo os dados de ponta. As concessões de crédito bancário em setembro totalizaram R$ 305,3 milhões, de acordo com os dados divulgados hoje pelo Banco Central, apresentando, em termos reais, uma queda de 15,1%, em relação a setembro de 2014, e de 9,8% no acumulado do ano. Com isso, o estoque de créditos totais chegou a R$ 3,16 bilhões no nono mês de 2015, com contração real de 0,4% frente ao mesmo mês do ano anterior e de 2,7% no ano.

Essa evolução está intimamente relacionada ao cenário de crise da atividade econômica. No ano, as contrações reais têm sido mais fortes para as concessões de crédito às empresas (-12,3%) do que para aquelas às famílias (-7,4%), afetando sobretudo o crédito direcionado, justamente a modalidade que deveria apresentar um comportamento mais anticíclico. A queda real das concessões de crédito direcionado já chega a 23,4% em 2015, contra 7,6% das concessões de crédito livre (ou seja, das modalidades em que as condições dos empréstimos são livremente pactuadas entre credores e tomadores). Esse quadro ainda se encontra em deterioração, conforme sugerem as variações em setembro de 2015 frente a setembro de 2014: -15,4% para as concessões às empresas e -28% para as concessões de crédito direcionado.

A análise da composição do crédito direcionado mostra, ainda, que aquelas modalidades associadas às decisões de investimento que amargam fortes quedas. As concessões totais do BNDES às empresas decresceram, em termos reais, 34% no acumulado do ano (-48,2% frente a setembro de 2014), com as linhas do banco ao investimento contraindo 33,4% (-46% frente ao mesmo mês de 2014).

Outra modalidade importante de crédito direcionado, aquele ao setor imobiliário, também têm apresentado contração. Esse comportamento tem sido condicionado tanto pela perda de atratividade das cadernetas de poupança (funding do sistema) em um cenário de elevação das taxas de juros, como pelo impacto da crise sobre a renda das famílias, obrigando-as a sacar recursos de suas cadernetas ou a deixar de realizar depósitos. As concessões de crédito imobiliário a famílias já acumulam queda de 19% no ano (-40,5% na comparação com setembro de 2014) e a empresas, de 32% (mesma variação na comparação mensal).

Setorialmente, o estoque de crédito à indústria apresentou contração de 2,3% frente a setembro de 2014, acumulando queda de 3,4% no ano, em termos reais. Esse movimento tem sido condicionado pela indústria de transformação, que testemunha uma queda de operações de crédito de 4,1% no ano (-3,8% frente a setembro de 2014), e principalmente pela construção civil, cujos financiamentos estão 9% menores em 2015 (-9,6% frente a setembro de 2014). Em sentido oposto, o crédito à indústria extrativa continua em expansão (alta de 10,9% no acumulado do ano e de 17,4% em comparação com setembro de 2014).
 

 
Os dados apresentados hoje pelo Banco Central do Brasil apresentaram uma participação do crédito no PIB de 55,1% em setembro, representando um aumento 0,24 p.p. em relação a agosto e 1,79 p.p. em relação a setembro de 2014. Do percentual apresentado, 29,2% referem-se às operações realizadas por pessoas jurídicas e 25,9% por pessoas físicas.

O saldo de crédito de instituições públicas chegou a 30,6% do PIB, aumentando sua participação em aproximadamente 7,8% em relação a setembro de 2014. Já as instituições financeiras privadas atingiram 24,4% do PIB, sendo 16,5% de instituições nacionais e 7,9% de instituições estrangeiras.

 

 
Foram concedidos em crédito R$ 305 milhões em setembro de 2015, frente a R$ 360 milhões em setembro do ano passado, significando, em termos reais, uma queda de 15,1%. Na comparação do acumulado entre 2014 e 2015, entre janeiro e setembro de cada ano, houve um declínio de 9,8%. Entretanto, em relação a agosto de 2015, houve um aumento, em termos reais, de 3,4% na concessão de crédito no mês de setembro. A participação das operações junto a pessoas jurídicas representou 48,1% das operações de crédito (queda de 0,01 p.p. em relação a setembro de 2014 e aumento de 3,0 p.p. em relação a agosto de 2015), enquanto que a participação das operações junto a pessoas físicas representou 51,9% (aumento de 0,01 p.p. em relação a setembro de 2014 e queda de 3,0% p.p. em relação a agosto de 2015).

A inadimplência total de setembro manteve-se estável em relação a agosto, permanecendo em 3,10%. Nas operações ligadas a pessoas físicas, as taxas de inadimplência praticamente não se alteraram em relação a agosto; 1,90% para operações de recurso direcionados e 5,70% de recursos livres (1,90% e 5,60%, respectivamente, em agosto de 2015). Para operações junto a pessoas jurídicas, também não houve alteração significativa em relação ao mês anterior; 0,7% em recursos direcionados, mesmo percentual de agosto, e 4,1% em recursos livres (4,2% em agosto).

As taxas médias anuais dos contratos, em juros nominais, mantiveram-se estáveis para pessoas jurídicas (20,4%) e aumentaram de 37,0% para 37,4% em relação a agosto. Para pessoas jurídicas, as taxas médias de juros praticadas nas operações com recursos livres e recursos direcionados foram de 29,3% a.a. e 9,7% a.a. respectivamente. Para as pessoas físicas as taxas médias foram de 62,3% a.a. para operações recursos livres e 9,8% para operações com recursos direcionados.

 

 

 

 

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