1º de outubro de 2015

Balança Comercial
Exportações de manufaturados e importações de bens de capital e insumos: aprofundando a queda


   

 
A balança comercial brasileira continua melhorando. Em setembro o saldo atingiu US$ 2,9 bilhões, um valor somente superado em 2015 pelo resultado de junho (US$ 4,5 bilhões). No acumulado do ano até setembro o saldo soma US$ 10,2 bilhões, após amargar um resultado deficitário no mesmo período de -US$ 683,0 milhões.

Infelizmente, tais melhoras ocorrem pelos piores motivos, pois tanto as exportações quanto as importações vêm caindo vigorosamente, com a diferença de que as compras do exterior declinam bem mais (-23% no acumulado do ano) do que as vendas para o estrangeiro (-16,8% no acumulado do ano).

Queda de exportações é sintoma de falta de competitividade do produto brasileiro (no caso de manufaturados) e de fase negra de preços internacionais que agora se abate nossas commodities. Já o tombo das importações reflete, além de preços mais baixos de combustíveis, o colapso do investimento, da produção e do consumo na economia brasileira que atravessa dramática recessão.

A análise das exportações no corrente ano de 2015 deve sublinhar o retrocesso das exportações de produtos básicos, devido ao contexto de preços internacionais, e de produtos manufaturados, em decorrência, principalmente, de nossa incapacidade de aproveitar com presteza o atrativo da moeda desvalorizada. As variações negativas em um caso e no outro, calculadas segundo o valor médio por dia útil no acumulado dos nove meses iniciais deste ano, foram respectivamente de -22% e de -10,8%.

O quadro é ainda pior se levarmos em conta que em ambos os casos a marcha à ré das exportações parece estar em processo de aceleração. É o que denota o cotejo entre as taxas acima mencionadas e as que vigoraram para produtos básicos e produtos manufaturados no primeiro semestre do ano (21,6% e 8%, respectivamente), as primeiras superiores a estas últimas.

Para a indústria, o quadro negro das vendas externas de manufaturados é ruim porque impede que a recessão do mercado doméstico seja em alguma medida compensada pela exportação. Esperamos que as últimas rodadas de desvalorização do Real sirvam de incentivo para que nosso parque industrial se volte mais (como já foi no passado) para o mercado externo. Este canal poderá auxiliar em dar fim à recessão e abrir caminho à recuperação econômica.

O mesmo ocorre com as categorias de importação: estão em franca majoração as taxas de variação negativa das compras de bens de capital (-15,8% e -17%, respectivamente no primeiro semestre do ano e nos nove primeiros meses de 2015) e de matérias primas e bens intermediários (-15,1% e -18,7%, respectivamente no primeiro semestre do ano e nos nove primeiros meses de 2015). A sugestão desses dados é que o investimento e a produção na economia brasileira aprofundaram suas quedas no terceiro trimestre do ano.
  

 
De acordo com dados divulgados hoje pelo MDIC, a balança comercial brasileira apresentou em setembro saldo de US$ 2,944 bilhões, no sentido oposto do déficit de US$ 939 milhões observado no mesmo mês de 2014. As exportações somaram US$ 16,148 bilhões, valor 17,7% menor que o observado em setembro de 2014, enquanto que as importações atingiram US$ 13,204 bilhões, 35,8% inferior ao referido mês. Na comparação entre o acumulado de 2015 com o mesmo período de 2014, as exportações e importações apresentaram desempenho 16,8% e 23,0% menor, respectivamente. O saldo acumulado no ano foi de US$ 10,246 bilhões, frente a um déficit acumulado em setembro do ano passado de US$ 683,0 milhões.

Em setembro, a média diária (medida por dia útil) das exportações alcançou US$ 769,0 milhões, uma redução de 13,8% comparado ao mesmo mês do ano passado. O valor médio diário das importações registrou US$ 628,8 milhões (redução de 32,7% em relação a setembro de 2014).

Em referência às exportações, os produtos básicos responderam por 44,4% (US$ 7,163 bilhões), enquanto que os grupos de semimanufaturados (US$ 2,277 bilhões), manufaturados (US$ 6,330 bilhões) e operações especiais (US$ 378,0 milhões) registraram participações de 14,1%, 39,2% e 2,3%, respectivamente. No acumulado do ano, o valor exportado pelo grupo de produtos básicos apresentou desempenho 22,3% menor que o mesmo período do ano passado. Os semimanufaturados e manufaturados tiveram redução de 8,4% e 11,2%, respectivamente, na mesma base de comparação. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a média por dia útil de exportação dos produtos básicos variou -19,6%, dos semimanufaturados -12,2% e dos manufaturados -4,6%.

 

 
A importação de matérias-primas e intermediários (US$ 6,469 bilhões) representou 49,0% das entradas, enquanto que os grupos de bens de capital (US$ 2,815 bilhões), bens de consumo duráveis (US$ 1,195 bilhão) e bens de consumo não-duráveis (US$ 1,293 bilhão) responderam por 21,3%, 9,1% e 9,8%, respectivamente. Na comparação do desempenho acumulado do ano (janeiro-setembro) com o mesmo período do ano passado, todas as categorias tiveram variação negativa: matérias-primas e intermediários (-19,1%), bens de capital (-17,5%), bens de consumo duráveis (-21,6%) e não-duráveis (-9,7%). A média diária de importações (por dia útil), em relação a setembro do ano passado mantem a tendência negativa, com retrações de 27,4% dos bens de capital, 26,0% de matérias-primas e intermediários, 25,6% dos bens de consumo duráveis e 21,1% e dos não-duráveis.

 

 

 

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