17 de setembro de 2015

Indústria
Características de longo prazo da
indústria brasileira – 2002-2015


 

 
A Carta IEDI desta semana mostra que a indústria brasileira vive a reversão de um ciclo de crescimento iniciado nos primeiros anos da década de 2000. Após o pico histórico da série com ajuste sazonal em junho de 2013, a indústria brasileira registrou rápida desaceleração, de modo que em junho de 2015 o patamar da produção já era similar ao do final de 2006. Tal queda reflete fundamentalmente o comportamento da indústria de transformação, pois a indústria extrativa mineral assinala tendência positiva que culminou em altos e sem precedentes níveis de produção em 2015.

Tomando-se por base o ano de 2002, na série com ajuste sazonal, a produção média da indústria de transformação entre 2003 e 2006 foi de 109, avançando entre 2007 e 2010 para 122 e com um leve aumento para 125 entre 2011 e junho de 2015 – ainda que com forte tendência declinante nos dois últimos anos.

Como padrão geral de comportamento, os manufaturados de baixa tecnologia e mais intensivos em mão-de-obra, com exceção de alimentos e bebidas, tiveram redução absoluta da produção e foram relativamente os setores que mais sentiram perdas, enquanto certos bens de consumo duráveis e bens de capital de média e alta tecnologia foram os que assinalaram maior alta no período como um todo de 2003 a 2015.

Contudo, tal crescimento da produção foi exíguo se comparado à evolução do consumo aparente, notadamente a partir de 2010. Porém, tal como destacam Carvalho e Ribeiro (2015), a dinâmica setorial do consumo também guarda diferenças marcantes.

Nem todos os setores registraram crescimento: também tomando-se a média de 2002 como base, houve redução do consumo aparente em Couro, produtos do couro e calçados, Produtos do fumo e Têxteis. Ao contrário, o consumo aparente aumentou substancialmente nas indústrias de Veículos automotores, reboques e carrocerias e Equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos, mais do que dobrando entre 2002 e 2013. O consumo aparente também se ampliou expressivamente em Máquinas e Equipamentos, Outros equipamentos de transporte e Farmoquímicos e farmacêuticos.

Além da produção não ter acompanhado o ritmo da demanda de bens industriais, cedendo espaço para o produto importado, a utilização de capacidade instalada tem retido uma crescente parcela ociosa que leva a uma menor taxa de investimento em capital fixo na economia. Assim, de acordo com os dados dessazonalizados da CNI, a utilização da capacidade chegou ao seu patamar mais alto, de 84,5%, em janeiro de 2008. O grau de utilização cai desde então, recuperando o nível anterior em meados de 2010. Contudo, o indicador cai desde 2011, acompanhando a redução da produção da indústria de transformação, atingindo em junho de 2015 um de seus momentos mais baixos, de 80,1%.

É possível distinguir 4 padrões entre os setores da indústria de transformação no Brasil no que diz respeito ao desempenho da produção e do consumo aparente:

I – Fortalezas: Setores em que a produção e o consumo aparente cresceram acima das respectivas médias da indústria de transformação: Outros equipamentos de transporte, Bebidas, Farmoquímicos e Farmacêuticos, Produtos de metal, excluindo máquinas e equipamentos, Produtos de minerais não metálicos, Químicos, Coque, derivados do petróleo e biocombustíveis, Produtos de Madeira.

II – Fraquezas: Setores em que a produção aumentou mais do que a média da indústria de transformação e o consumo aparente cresceu menos do que a média ou retraiu: Celulose e papel.

III – Ameaças: Setores em que tanto a produção quanto o consumo aparente decresceram ou cresceram menos do que a média da indústria de transformação: Têxteis, Fumo, Couro, produtos do couro e calçados, Metalurgia, Produtos alimentícios, Vestuário e Acessórios, Máquinas, aparelhos e materiais elétricos, Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos.

IV – Oportunidades: Setores em que o consumo aparente aumentou mais do que a média da indústria de transformação, porém a produção cresceu menos do que a média ou retraiu: Máquinas e equipamentos, Veículos automotores, reboques e carrocerias, Produtos de borracha e material plástico.

Ocorreram também mudanças significativas no padrão de comércio internacional de bens industriais. De 2003 a 2007 o saldo de exportações líquidas da indústria de transformação foi positivo, tendo alcançado o maior valor em dólares FOB em 2005, de acordo com os dados da FUNCEX. Desde 2007 o saldo torna-se negativo, tendo sido recorde no ano de 2014. Por sua vez, os saldos positivos das indústrias extrativas, de baixo valor entre 2003 e 2007, firmaram-se positivos e expressivos desde 2008. Entretanto, estão se retraindo nos anos mais recentes em comparação ao pico atingido em 2011. Tal comportamento está intimamente relacionado à forte expansão e posterior desaceleração econômica da China.

Como resultado dessa maior dinâmica importadora, de 2003 a 2015 o coeficiente de penetração das importações praticamente dobrou: de 12% no quarto trimestre de 2002 para 22% no segundo trimestre de 2015. Tomando-se somente o da indústria de transformação, a passagem foi de 10,5% para 20,4%.

Por seu turno o coeficiente de exportações da indústria de transformação passou de 13% ao final de 2002 para 19% em 2005 – seu nível máximo (assim como o saldo da balança comercial de manufaturados brasileiros). Depois retraiu até o nível de 13% novamente no início de 2010, e desde então cresce suavemente até chegar a 16% no segundo trimestre de 2015.

Distinguem-se também 4 padrões de internacionalização dos diferentes setores industriais brasileiros, que estão direta e indiretamente associados ao desempenho da produção. Tomando-se os coeficientes trimestrais de penetração das importações (CPI) e de exportação (CE), a preços de 2007, média de 2011 a junho de 2015, apresentam-se os seguintes grupos:

I – Internacionalizados: Setores que apresentaram CPI e CE acima das respectivas médias da indústria de transformação: Outros equipamentos de transporte (onde se destaca a produção de aviões) e Máquinas e equipamentos.

II – Fraquezas: Setores com alta penetração de importados, porém baixo coeficiente de exportação: Têxteis, Veículos automotores, reboques e carrocerias, Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, Produtos químicos, Indústrias diversas, Farmoquímicos e farmacêuticos, Máquinas, aparelhos e materiais elétricos.

III – Nacionalizados: Setores em que tanto a penetração de importações quanto o percentual da produção exportado estão abaixo da média da indústria de transformação: Vestuário e Acessórios, Bebidas, Produtos de metal, Produtos de borracha e material plástico, Móveis, Produtos minerais não metálicos.

IV – Competitivos: Setores em que o CE supera a média da indústria de transformação, com CPI inferior à média: Produtos do fumo, Celulose e papel, Produtos da madeira, Couro, produtos do couro e calçados, Produtos alimentícios, Metalurgia.

Leia aqui o texto completo desta Análise.