A crise da indústria brasileira continua aguda. No primeiro
semestre deste ano, segundo o IBGE, a produção industrial
recuou 6,3%. Em todos os grandes setores industriais, a produção
caiu fortemente no acumulado janeiro-junho de 2015: –20,0%
no setor de bens de capital; –14,8% no de bens de consumo
duráveis; – 6,7% no de bens de consumo semi e não–duráveis;
e –3,0% no de bens intermediários.
Vale observar
que, nos setores de bens de capital e de bens duráveis,
a crise no primeiro semestre deste ano se iguala à crise
vivida por esses mesmos dois setores no primeiro semestre de 2009,
quando suas produções desabaram, respectivamente,
21,0% e 15,2%. Esses setores sofrem hoje com a queda dos investimentos
autônomos, com a restrição de crédito,
com o aumento das taxas de juros e com a queda da confiança
de empresários e consumidores com relação
ao desempenho econômico atual e futuro.
Ainda considerando
os grandes setores, observa-se também que a queda da produção
no segundo trimestre deste ano foi mais intensa do que no primeiro
trimestre para bens de capital (–17,7% no primeiro trimestre
para –22,5% no segundo), bens intermediários (–2,7%
para –3,5%, na mesma ordem) e bens de consumo semi e não
duráveis (–5,8% para –7,6%). No setor de bens
duráveis, a produção recuou menos no segundo
trimestre (–13,5%) do que no primeiro (–15,7%), mas,
ainda assim, continuou caindo a uma taxa muito expressiva. Ou
seja, no segundo trimestre, a produção da indústria
nacional continuou caindo severamente e/ou piorou.
Pode-se observar,
no entanto, alguns sinais positivos – “na margem”
– nos dois últimos meses da pesquisa do IBGE, ou
ainda, em maio e junho deste ano, na série que compara
mês contra mês imediatamente anterior, com ajuste
sazonal. Esses sinais positivos aparecem nos setores de bens intermediários
e, sobretudo, no de bens de consumo semi e não duráveis.
No primeiro setor, a produção começou a apresentar
recuos menores em maio (–0,3%) e em junho (–0,2%).
No setor de bens de consumo semi e não duráveis,
a produção avançou em maio (1,2%) e em junho
(1,7%).
O setor de
bens intermediários é o de maior peso na indústria
brasileira e representa as compras internas da indústria.
Esse arrefecimento da retração de sua produção
em maio e junho pode indicar uma acomodação da crise
industrial atual. Do mesmo modo, o crescimento da produção
de bens de consumo semi e não duráveis pode significar
que os ramos industriais cuja produção está
mais ligada a bens-salário iniciaram uma retomada de suas
atividades, ainda que para recomposição de estoques.
O fato é que é muito cedo para enxergar alguma reação
mais consistente da produção industrial. O terceiro
trimestre será, muito provavelmente, negativo para a indústria
nacional. No quarto trimestre, sobretudo por conta das exportações
– e mesmo por um efeito estatístico (o quarto trimestre
de 2014 foi bastante negativo) –, poderá haver alguma
melhora nos resultados da produção industrial. 2015
será um dos piores anos da indústria brasileira,
mais grave do que a crise registrada em 2009, pois suas causas
são de outra natureza e, por isso mesmo, tenderá
a se alongar no tempo.
Leia
aqui o texto completo desta Análise.