2 de julho de 2015

Indústria
Resultado favorável, mas sustentável?


  

 
A produção industrial brasileira cresceu 0,6% em maio frente abril, considerados os ajustes sazonais. Esse avanço refletiu, segundo o IBGE, o aumento em dois dos quatro grandes setores e em catorze dos vinte e quatro ramos industriais pesquisados pelo Instituto.

É um resultado bem-vindo, mas que não sinaliza nenhuma mudança de trajetória da atividade industrial, ou ainda, é muito cedo para se dizer que os números de maio indicam que a indústria brasileira começou a sair da crise pela qual vem passando há mais de um ano.

Pode-se observar, ainda de acordo com o IBGE, que os dois ramos industriais que mais influenciaram o resultado positivo de maio foram outros equipamentos de transporte (8,9%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,1%) – taxas de variação de maio com relação a abril, com ajuste sazonal. São ramos produtivos importantes dentro da indústria nacional, mas que não traduzem o comportamento mais geral da atividade industrial do País. O comportamento do primeiro ramo reflete, sobretudo, as vendas de aviões para o mercado externo; o do segundo, as decisões de produção da Petrobras.

Quanto aos outros ramos industriais que apresentaram números positivos em maio, muitos deles vinham acumulando resultados bastante adversos nos últimos meses, como, por exemplo, o ramo de produtos farmoquímicos e farmacêuticos, cuja taxa de crescimento foi de 3,6% em maio, mas que acumulava queda de 18,6% nos primeiros quatro meses deste ano. Ou ainda, nos ramos de confecção de artigos do vestuário e acessórios (3,4% em maio contra uma queda de 13,6% no período janeiro-abril deste ano) ou de bebidas (2,7% em maio e –6,8% no mesmo acumulado).

Vale também observar que a produção do setor nuclear e de maior peso dentro da indústria brasileira, o de bens intermediários, continuou a cair em maio (–0,5%) e passou a acumular queda de 3,4% nos cinco primeiros meses do ano – uma queda acumulada expressiva na história recente desse setor.

O aumento da produção do setor de bens semi e não duráveis (1,2%) reverteu uma sequência de sete resultados negativos consecutivos, sendo este o resultado mais favorável apurado pela pesquisa industrial em maio, segundo nosso ponto de vista. Mas, infelizmente, o prosseguimento desse desempenho encontrará um sério obstáculo nos próximos meses, dados os ajustes (para baixo) que estão ocorrendo no mercado de trabalho brasileiro, isto é, no nível de emprego e na massa de rendimento real, que é a base do consumo desses bens.

Em outras comparações, os números do IBGE mostram que a atividade industrial está, nos dois primeiros meses do segundo trimestre deste ano, tão ruim ou pior que o registrado no primeiro trimestre.

No setor de bens de capital, a produção, que havia caído 17,9% no primeiro trimestre, recuou 24,9% no acumulado abril-maio (os dois primeiros meses do segundo trimestre). Esse comportamento ocorre em quase todos os seus segmentos: no de bens de capital para a indústria, a produção passou de +0,8% no primeiro trimestre para –10,0% no acumulado abril-maio; no de bens de capital para transporte, de –24,7% para –30,1%; no de bens de capital para energia, de –7,9% para –22,3%; no de bens de capital para construção, de –24,5% para –40,0%; e no de bens de capital para uso misto, de –18,9% para –26,8% – todas as taxas estão apresentadas sempre na mesma ordem, qual seja, primeiro trimestre e acumulado abril-maio, comparados com igual período de 2014.

Isso também pode ser visto em outros setores, como, por exemplo, no setor de bens duráveis: no seu segmento de eletrodomésticos da linha branca, a produção passou de uma queda de 7,6% no primeiro trimestre para 14,6% no acumulado abril-maio; no de móveis, de –6,5% para –9,9%, na mesma ordem.
   

 
Segundo dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial de maio registrou variação de 0,6% frente a abril na série livre de influências sazonais, após ter apresentado queda no mês anterior. Na comparação com maio de 2014 a indústria assinalou queda de 8,8%. Dessa forma, a indústria acumulou decréscimo de 6,9% nos primeiros cinco meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2014. O indicador acumulado dos últimos doze meses frente a igual período imediatamente anterior apresentou variação negativa de 5,3%.

Entre as categorias de uso na comparação com o mês imediatamente anterior, duas categorias de uso assinalaram queda na produção industrial: bens intermediários (–0,5%) e bens de consumo duráveis (–0,1%). O setor de bens de capital apresentou alta de 0,2%. O melhor resultado nessa comparação foi obtido por bens de consumo (1,4%) devido ao desempenho de bens de consumo semiduráveis e não duráveis, cujo crescimento foi de 1,2%.

Na comparação com igual mês do ano anterior, todas categorias apresentaram taxas negativas: bens de capital (–26,3%), bens de consumo duráveis (–17,8%), bens de consumo semi e não–duráveis (–10,4%) e bens intermediários (–4,9%).

No acumulado do ano, bens de capital (–20,6%), bens de consumo duráveis (–17,8%) e bens de consumo semi e não–duráveis (–7,5%) foram as categorias com maior queda na produção, enquanto o segmento de bens intermediários (–3,4%) teve recuo inferior a média nacional (–6,9%).

 

 
Em termos setoriais, o avanço de 0,6% da indústria entre abril e maio foi resultado do crescimento de 14 dos 24 ramos pesquisados, com destaque para outros equipamentos de transporte (8,9%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,1%) e perfumaria, sabões, detergentes e produtos de limpeza (1,9%). Outras contribuições positivas vieram das atividades de bebidas (2,7%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (3,6%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (3,4%), produtos diversos (6,2%), produtos de madeira (4,9%) e celulose, papel e produtos de papel (1,7%). Por outro lado, entre os dez ramos que reduziram a produção nesse mês, os desempenhos de maior importância foram assinalados por produtos alimentícios (–1,9%), máquinas e equipamentos (–3,8%) e produtos têxteis (–6,5%). Vale citar também os impactos negativos assinalados por indústrias extrativas (–0,5%), produtos de metal (–2,1%), veículos automotores, reboques e carrocerias (–0,5%) e produtos de borracha e de material plástico (–1,2%).

Na comparação com maio de 2014, a produção industrial mostrou queda de 8,8%, influenciada pelo recuo da produção de 23 dos 26 ramos pesquisados. Vale citar que maio de 2015 (20 dias) teve um dia útil a menos do que igual mês do ano anterior (21). Entre as atividades, a de veículos automotores, reboques e carrocerias (–25,5%) exerceu a maior influência negativa na formação da média da indústria. Outras contribuições negativas relevantes vieram de produtos alimentícios (–8,7%), máquinas e equipamentos (–20,8%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (–32,4%), produtos de metal (–14,3%), metalurgia (–8,0%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (–16,4%), produtos de borracha e de material plástico (–10,0%), bebidas (–10,9%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (–11,7%), produtos têxteis (–17,3%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (–11,9%), produtos de minerais não–metálicos (–6,9%) e outros produtos químicos (–4,4%). Por outro lado, entre as três atividades que aumentaram a produção, o principal impacto foi observado em indústrias extrativas (7,7%), impulsionado, em grande parte, pelos avanços nos itens minérios de ferro pelotizados e em bruto e óleos brutos de petróleo.

No índice acumulado para o período janeiro–maio de 2015, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial mostrou queda de 6,9%, com perfil disseminado de taxas negativas, já que as quatro grandes categorias econômicas, 24 dos 26 ramos. Entre os setores, o principal impacto negativo foi observado em veículos automotores, reboques e carrocerias (–22,3%). Outras contribuições negativas relevantes vieram dos setores de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (–29,2%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (–6,4%), máquinas e equipamentos (–11,0%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (–18,1%), produtos alimentícios (–3,4%), metalurgia (–7,6%), produtos de metal (–9,1%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (–13,2%), bebidas (–7,5%), produtos de borracha e de material plástico (–6,5%), produtos de minerais não–metálicos (–5,7%), outros produtos químicos (–3,3%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (–6,0%), produtos têxteis (–9,0%) e outros equipamentos de transporte (–7,0%). Por outro lado, entre as duas atividades que ampliaram a produção, a principal influência foi observada em indústrias extrativas (9,9%).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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