A escalada do desemprego

Julio Gomes de Almeida – Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e Professor do Instituto de Economia da Unicamp

Brasil Econômico – 26/06/2015

Vem caracterizando o momento econômico brasileiro a plena convicção de que estamos em um processo de retração da economia. Mais do que isso, o contexto atual parece indicar sob muitos pontos de vista que o futuro próximo será ainda pior do que este que estamos vivenciando. Ou seja, tudo indica que o quadro é ruim e deve piorar ou que há uma retração que dentro de pouco tempo se transformará em uma recessão.

O colapso das importações talvez seja o indicador mais contundente de que a situação econômica do país é grave. Vem caindo, tanto quanto ou mais do que a produção doméstica, a importação de bens de capital e as compras externas de bens intermediários, e mesmo de bens duráveis. Muitos outros indícios vão na mesma direção, com o agravante de que os últimos dados parecem indicar que a fase adversa só está começando. Por exemplo, a arrecadação tributária vem caindo, o que é de todo ruim, seja para o ajuste fiscal que o governo se auto impôs, seja porque desencadeia a crise fiscal em estados e municípios. Porém, mais grave ainda, é que este processo parece estar se acelerando, em uma indicação de que o mais grave ainda pode vir a ocorrer — por exemplo, quanto aos investimentos públicos, os quais, segundo noticiado, estão retrocedendo em uma base como 30%.

O mesmo vale para o crédito, que regride não é de hoje, mas que pode involuir mais ainda, especialmente no crédito com recursos livre, se a inadimplência de famílias e empresas aprofundar sua trajetória de aumento — algo que já ocorre, porém em bases moderadas. Aqui também o futuro próximo sugere maiores contratempos, com efeitos também muito nocivos para o crescimento de curto prazo.

Os dados ontem divulgados pelo IBGE para o emprego e a renda nas grandes regiões metropolitanas brasileiras indicam a mesma coisa: o quadro já pode ser considerado grave, mas pode piorar. O índice de desemprego de 6,7% da força de trabalho referente a maio correspondeu à maior desocupação desde 2010. Este nível de desocupação foi 1,8 ponto percentual superior ao seu correspondente em maio do ano passado, ilustrando como tem sido rápida a reversão da situação no mercado de trabalho neste período. O rendimento médio real dos trabalhadores, espelhando o quadro do emprego e a maior inflação, aprofundou sua queda, 5% na comparação anual (-2,9% em abril), sendo este o fator decisivo para que a massa real de rendimentos da população ocupada retrocedesse 5,8% na mesma comparação.

Maior desemprego e declínio de renda são ingredientes para a ampliação do quadro recessivo. Primeiro, porque leva à redução de consumo de bens e serviços por parte da população, o que impõe queda ao comércio e acentua o menor faturamento em serviços, que é um setor muito empregador. Em segundo lugar, agrava a situação financeira das famílias, aumenta a inadimplência e aprofunda a retração do crédito.

Chama ainda a atenção a rapidez com que o quadro do desemprego vem evoluindo nas regiões metropolitanas. Comparado a maio de 2014, o número de desocupados subiu em maio último nada menos do que 38,5%, enquanto nos dois meses anteriores o aumento havia sido de 32,7% e 23,1%.

Há uma escalada do desemprego. Em parte, isso decorre do recuo da ocupação em setores como, especialmente, a indústria, mas é reflexo também do maior número de pessoas que procuram trabalho, um meio ao qual as famílias recorrem para minimizar os problemas criados pelo próprio desemprego e pela queda real de rendimentos.

Entre maio de 2014 e maio de 2015, o número de desocupados aumentou em 454 mil pessoas nas seis regiões metropolitanas o que, em média, representa um acréscimo de 38 mil pessoas desocupadas por mês. Somente entre abril e maio de 2015, o número de pessoas sem ocupação cresceu 76 mil, o que sugere aceleração da crise de emprego. A situação de São Paulo é ilustrativa do que vem ocorrendo: em um ano, o número de desocupados aumentou 198 mil, o equivalente a uma média de 17 mil por mês, mas somente em maio a evolução correspondeu a 55 mil pessoas.


Julio Gomes de Almeida é Ex-Secretário de Política Econômica do
Ministério da Fazenda e Professor do Instituto de Economia da Unicamp