26 de junho de 2015

Investimento Estrangeiro
O IDE mundial e a posição do Brasil


   

 
Nossa Carta IEDI de hoje trata dos resultados do relatório anual de investimentos (World Investment Report) deste ano da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), que mostra que em 2014 os fluxos mundiais de investimento estrangeiro direto (IED) despencaram 16% em relação a 2013, passando de U$ 1,47 trilhão para U$ 1,23 trilhão.

Desde a crise de 2008 o IED vem oscilando bastante, com variações positivas apenas em 2010, 2011 e 2013. O movimento dos investimentos estrangeiros é particularmente negativo e instável já que outras variáveis macroeconômicas mostram uma trajetória regular (e fraca) entre 2008 e 2014. Por exemplo, considerando somente a passagem de 2013 para o 2014, em termos mundiais houve aumento do PIB de 2,6%, do comércio de 3,4%, da formação bruta de capital fixo de 2,9% e do emprego de 1,3%.

A grande novidade de 2014 foi o fato de a China ter se tornado a principal receptora de fluxos de IED, seguida por Hong Kong. Além do notório crescimento dos países, o que explica esse novo ranking foi a brutal queda de 60% da entrada de IED nos EUA. Por esse motivo também houve uma expressiva redução no ingresso de IED nos países desenvolvidos (-28%), que no pós-crise deixaram de ser os principais receptores em benefício dos países em desenvolvimento (55% do total em 2014). A Rússia também assinalou uma queda brutal, da ordem de 70% em 2014 em relação a 2013. Canadá, Irlanda, Bélgica, França e Espanha também tiveram reduções expressivas. Por outro lado, houve crescimento no Reino Unido (mais de 50%), Suíça e Finlândia.

De modo geral, as economias em desenvolvimento tiveram maior ingresso de IED em 2014 (2%), puxadas pelo incremento de investimentos na Ásia em desenvolvimento (9%) – com destaque da Índia (22%) e China (4%), tendo em vista que caiu na África (-5% no Norte e -5% na sub-sahariana) e na América Latina (-14,4%).

A variação negativa na América Latina se deu após quatro anos consecutivos de alta, sendo que a maior parte dos países da região experimentou retração no ingresso de IED, com exceção do Chile. O Mercosul permaneceu com uma fatia de 6% dos ingressos de IED mundiais, porém assinalou queda de U$ 83 em 2013 para U$ 73 em 2014. O Brasil teve pequena queda de 2,3%, já que a reversão nos investimentos do setor primário compensou o maior fluxo destinado aos setores de indústria de transformação e serviços. O país passou da 7ª para a 6ª posição no ranking de entrada de IED e continua sendo o maior receptor da região (U$ 62,5 bilhões), seguido por Chile (U$ 22,9), México (U$ 22,8), Colômbia (U$ 16,1) e Peru (U$ 7,6).

Do lado das saídas dos fluxos de IED, as empresas dos países em desenvolvimento aumentaram seus investimentos no exterior em 23% em relação a 2013, somando U$ 468 bilhões. De 2007 a 2014 sua participação nas saídas de IED cresceu de 13% para 35%, tanto via investimentos greenfield, quanto por meio de fusões e aquisições. Dos U$ 468 milhões em IED vindos de países em desenvolvimento, U$ 432 provêm da Ásia,

No ranking dos países em termos de saída de IED, diferentemente do de entrada, predominam os países desenvolvidos e a liderança continua sendo dos EUA. Destaca-se também a ascensão de Hong Kong como segundo maior país de origem dos fluxos de IED, ocupando a posição anterior do Japão, que caiu para a 4ª colocação. Alemanha e França também angariaram posições.

A América Latina excluindo-se os centros financeiros offshore, em 2014 diminuiu em 23% suas saídas de IED, totalizando U$ 23 bilhões. A queda foi puxada pelo México, Colômbia e Brasil. As saídas de IED do Brasil caem a quatro anos consecutivos.

Na análise de setores, a tendência principal é a crescente importância do setor de serviços. Em termos de estoques totais do mundo, em 2012 (ano mais recente disponível) serviços equivaliam a 63% do total, a indústria de transformação 26% e o setor primário 7%. Em 1990 os serviços representavam 49% e a expansão foi praticamente toda em termos da participação da indústria. Essa nova composição é paralela à da produção mundial, porém mais exagerada tendo em vista a crescente liberalização do setor e a “servitização” das cadeias globais de valor.

A indústria de transformação registrou 14% de crescimento dos investimentos greenfield, sendo que os gêneros que mais expandiram foram coque, produtos do petróleo e combustíveis nucleares (60%), máquinas e equipamentos (29%) e outros transporte (32%). Tal expansão foi liderada essencialmente pelos países em desenvolvimento.

No Brasil, em termos totais houve transformações consideráveis na composição do IED: os projetos em greenfield em valor diminuíram de U$ 28,3 bilhões em 2013 para U$ 18,7 em 2014, enquanto F&A cresceu de cerca de U$10 bilhões para U$ 14,2 no mesmo período.
  

 

 

Leia outras edições de Análise IEDI no site do IEDI


Leia no site do IEDI: O Brasil e os Novos Acordos Preferenciais de Comércio: O Peso das Barreiras Tarifárias e Não Tarifárias - Levantamento do IEDI sobre o impacto de nossas exportações e importações na hipótese de celebração de acordos com 11 países ou blocos. As simulações incluem a queda de barreiras tarifárias e não tarifárias.