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Os dados hoje divulgados pelo IBGE para o PIB mostram com clareza
a matriz da recessão que vem se instalando no país.
Trata-se de uma crise cuja origem está em uma redução
extremamente forte do investimento, um sintoma da derrocada das
expectativas empresariais, mas agravado pela política de
ajuste. Esta, pelo menos em seus primeiros impactos, deprime adicionalmente
as expectativas, introduz incertezas, sobre como por exemplo,
aumento de impostos, e ainda reduz os investimentos públicos,
carregando as inversões privadas associadas.
Como se não
bastasse, a crise da Petrobrás levou ao encolhimento de
suas inversões e de seus fornecedores e a política
de juros do Banco Central constitui fator a mais de bloqueio das
decisões de novos investimentos.
Por ser o
setor que mais repercute o colapso das expectativas e por ser
atingido em cheio quando uma crise é comandada pelo investimento,
a indústria de transformação se destaca como
segmento símbolo da atual retração da economia
brasileira.
A surpresa
positiva dos dados da economia no primeiro trimestre veio do setor
externo. As exportações de bens e serviços
cresceram e as importações cederam em níveis
apreciáveis. Seguramente, a desvalorização
da moeda colaborou para esses resultados, em particular no caso
da queda das importações. Mas provavelmente o fator
mais decisivo foi a forte diminuição das importações
de produtos industriais devido à própria crise da
indústria.
Infelizmente,
o encolhimento do investimento e da indústria, característico
do primeiro trimestre deste ano, tende a se generalizar para a
economia como um todo. Para o consumo devido ao menor emprego
e restrições crescentes no crédito e, do
ponto de vista da oferta, para o setor de serviços, refletindo
o menor rendimento e consequentemente menor capacidade de consumo
da população.
A queda do
PIB brasileiro no primeiro trimestre deste ano foi de 0,2% com
relação ao último trimestre do ano passado
– considerados os ajustes sazonais. Uma queda já
esperada, que se torna maior (–1,6%) ao se comparar com
o primeiro trimestre de 2014.
No acumulado
dos três primeiros meses deste ano, o valor agregado (VA)
da Indústria e dos Serviços caiu, respectivamente,
0,3% e 0,7% frente ao quarto trimestre de 2014 (com ajuste sazonal)
e 3,0% e 1,2% ante o primeiro trimestre também do ano passado.
Na comparação
primeiro trimestre de 2015 e igual trimestre de 2014, sobressai,
dentro da Indústria, a forte retração do
valor agregado da Indústria de Transformação
(–7,0%) e a também significativa queda do VA da Construção
(–2,9%). Por sua vez, a queda expressiva do VA do Comércio
(–6,0%) foi o que puxou para baixo o VA do setor de Serviços
como um todo.
Do lado da
oferta, somente o setor Agropecuário apresentou variação
positiva no primeiro trimestre deste ano (4,7% frente ao quarto
trimestre de 2014 – com ajuste sazonal – e 4,0% ante
o primeiro trimestre também do ano passado).
Pela outra
ótica, a da despesa, o consumo das famílias, o consumo
do governo e os investimentos (Formação Bruta de
Capital Fixo) caíram no primeiro trimestre deste ano, em
qualquer comparação. O consumo das famílias
recuou 1,5% frente ao quarto trimestre de 2014 (com ajuste sazonal)
e 0,9% quando comparado com o primeiro trimestre do ano passado.
Na mesma ordem de comparações, as taxas de variação
do consumo do governo foram –1,3% e –1,5%, e dos investimentos,
–1,3% e –7,8%.
Ainda do lado
da despesa, as exportações avançaram e as
importações caíram no primeiro trimestre
de 2015. As vendas externas do País cresceram 5,7% na margem
(comparação com o quarto trimestre de 2014) e 3,2%
ante o primeiro trimestre do ano passado. As importações
caíram 1,2% ou 4,7%, respectivamente, caso a comparação
seja feita na margem ou com relação ao primeiro
trimestre do ano passado.
Observa-se,
portanto, que o setor Agropecuário, pelo lado da oferta,
e as exportações líquidas, pelo lado das
despesas, colaboraram para que a queda do PIB brasileiro não
fosse mais intensa. A Agropecuária manteve, no início
deste ano, o processo de recuperação observado no
último trimestre de 2014, após os resultados fracos
ou negativos em períodos anteriores. No caso das exportações,
o efeito do câmbio desvalorizado pode explicar parte desse
resultado positivo, algo que requer uma melhor análise.
A retração
persistente dos investimentos continua sendo a grande preocupação.
Quanto ao consumo das famílias, sua retração
está ligada ao aumento das taxas de desemprego e aos decréscimos
do rendimento real do trabalho. Aqui, temos um processo que está
se iniciando. É provável que o consumo caia ainda
mais nos próximos trimestres.
A falta de
perspectiva de uma retomada da produção industrial,
o fim do ciclo de produção da construção,
a retração dos investimentos, o menor consumo das
famílias e do governo, as incertezas do setor externo,
tudo isso aponta para um cenário muito ruim para a economia
brasileira em 2015. Uma queda do PIB de mais de 2,0% no corrente
ano já não é uma estimativa tão pessimista.
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Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro
trimestre de 2015 atingiu os R$1,408 trilhão a preços de
mercado. O índice trimestral com ajuste sazonal, por sua vez, assinalou
frente ao trimestre imediatamente anterior uma contração
de 0,2%. Frente ao mesmo trimestre de 2014, o PIB brasileiro assinalou
recuo de 1,6%.
Ótica da Oferta:
Da ótica da oferta, na comparação do índice
do 1º trimestre de 2015 com o 4º trimestre de 2014, Agropecuária
(4,7%) cresceu, enquanto a Indústria (–0,3%) e Serviços
(–0,7%) recuaram. Dentre as atividades dos serviços, podemos
destacar a retração de transporte, armazenagem e correio
(–2,1%) e administração, saúde e educação
pública (–1,4%). Na indústria, colaborou para o resultado
negativo a indústria de transformação (–1,6%)
e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (–4,3%),
enquanto extrativa mineral (3,3%) e construção civil (1,1%)
cresceram.
Frente ao mesmo trimestre
de 2014, o resultado de –1,6% foi influenciado pela Indústria
(–3,0%) e Serviços (–1,2%), já que a Agropecuária
(4,0%) obteve variação positiva nesta comparação.
Dentre os subsetores da indústria, a indústria de transformação
(–7,0%) e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza
urbana (–12,0%) influenciaram negativamente o resultado. Nos Serviços,
destacaram–se as contrações em comércio (–6,0%)
e transporte, armazenagem e correio (–3,6%).
Ótica da Demanda: O desempenho do primeiro trimestre
do PIB em 2015 em relação ao trimestre anterior (com ajuste
sazonal) foi resultado da retração de todos os componentes
da demanda interna: o consumo das famílias (–1,5%), a FBKF
(–1,3%) e o consumo do governo (–1,3%). No setor externo,
por sua vez, as exportações (5,7%) e as importações
(1,2%) de bens e serviços cresceram em relação ao
quarto trimestre de 2014.
Na comparação
com mesmo trimestre de 2014, destacou–se negativamente o resultado
da formação bruta de capital fixo (–7,8%), seguida
pelo consumo do governo, que recuou 1,5%, e do consumo das famílias
(–0,9%). Em relação à demanda externa, as exportações
expandiram (3,2%) enquanto as importações recuaram (–4,7%).
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