29 de maio de 2015

PIB
A crise industrial e do investimento
tende a se generalizar


   

 
Os dados hoje divulgados pelo IBGE para o PIB mostram com clareza a matriz da recessão que vem se instalando no país. Trata-se de uma crise cuja origem está em uma redução extremamente forte do investimento, um sintoma da derrocada das expectativas empresariais, mas agravado pela política de ajuste. Esta, pelo menos em seus primeiros impactos, deprime adicionalmente as expectativas, introduz incertezas, sobre como por exemplo, aumento de impostos, e ainda reduz os investimentos públicos, carregando as inversões privadas associadas.

Como se não bastasse, a crise da Petrobrás levou ao encolhimento de suas inversões e de seus fornecedores e a política de juros do Banco Central constitui fator a mais de bloqueio das decisões de novos investimentos.

Por ser o setor que mais repercute o colapso das expectativas e por ser atingido em cheio quando uma crise é comandada pelo investimento, a indústria de transformação se destaca como segmento símbolo da atual retração da economia brasileira.

A surpresa positiva dos dados da economia no primeiro trimestre veio do setor externo. As exportações de bens e serviços cresceram e as importações cederam em níveis apreciáveis. Seguramente, a desvalorização da moeda colaborou para esses resultados, em particular no caso da queda das importações. Mas provavelmente o fator mais decisivo foi a forte diminuição das importações de produtos industriais devido à própria crise da indústria.

Infelizmente, o encolhimento do investimento e da indústria, característico do primeiro trimestre deste ano, tende a se generalizar para a economia como um todo. Para o consumo devido ao menor emprego e restrições crescentes no crédito e, do ponto de vista da oferta, para o setor de serviços, refletindo o menor rendimento e consequentemente menor capacidade de consumo da população.

A queda do PIB brasileiro no primeiro trimestre deste ano foi de 0,2% com relação ao último trimestre do ano passado – considerados os ajustes sazonais. Uma queda já esperada, que se torna maior (–1,6%) ao se comparar com o primeiro trimestre de 2014.

No acumulado dos três primeiros meses deste ano, o valor agregado (VA) da Indústria e dos Serviços caiu, respectivamente, 0,3% e 0,7% frente ao quarto trimestre de 2014 (com ajuste sazonal) e 3,0% e 1,2% ante o primeiro trimestre também do ano passado.

Na comparação primeiro trimestre de 2015 e igual trimestre de 2014, sobressai, dentro da Indústria, a forte retração do valor agregado da Indústria de Transformação (–7,0%) e a também significativa queda do VA da Construção (–2,9%). Por sua vez, a queda expressiva do VA do Comércio (–6,0%) foi o que puxou para baixo o VA do setor de Serviços como um todo.

Do lado da oferta, somente o setor Agropecuário apresentou variação positiva no primeiro trimestre deste ano (4,7% frente ao quarto trimestre de 2014 – com ajuste sazonal – e 4,0% ante o primeiro trimestre também do ano passado).

Pela outra ótica, a da despesa, o consumo das famílias, o consumo do governo e os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) caíram no primeiro trimestre deste ano, em qualquer comparação. O consumo das famílias recuou 1,5% frente ao quarto trimestre de 2014 (com ajuste sazonal) e 0,9% quando comparado com o primeiro trimestre do ano passado. Na mesma ordem de comparações, as taxas de variação do consumo do governo foram –1,3% e –1,5%, e dos investimentos, –1,3% e –7,8%.

Ainda do lado da despesa, as exportações avançaram e as importações caíram no primeiro trimestre de 2015. As vendas externas do País cresceram 5,7% na margem (comparação com o quarto trimestre de 2014) e 3,2% ante o primeiro trimestre do ano passado. As importações caíram 1,2% ou 4,7%, respectivamente, caso a comparação seja feita na margem ou com relação ao primeiro trimestre do ano passado.

Observa-se, portanto, que o setor Agropecuário, pelo lado da oferta, e as exportações líquidas, pelo lado das despesas, colaboraram para que a queda do PIB brasileiro não fosse mais intensa. A Agropecuária manteve, no início deste ano, o processo de recuperação observado no último trimestre de 2014, após os resultados fracos ou negativos em períodos anteriores. No caso das exportações, o efeito do câmbio desvalorizado pode explicar parte desse resultado positivo, algo que requer uma melhor análise.

A retração persistente dos investimentos continua sendo a grande preocupação. Quanto ao consumo das famílias, sua retração está ligada ao aumento das taxas de desemprego e aos decréscimos do rendimento real do trabalho. Aqui, temos um processo que está se iniciando. É provável que o consumo caia ainda mais nos próximos trimestres.

A falta de perspectiva de uma retomada da produção industrial, o fim do ciclo de produção da construção, a retração dos investimentos, o menor consumo das famílias e do governo, as incertezas do setor externo, tudo isso aponta para um cenário muito ruim para a economia brasileira em 2015. Uma queda do PIB de mais de 2,0% no corrente ano já não é uma estimativa tão pessimista.
  

 
Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2015 atingiu os R$1,408 trilhão a preços de mercado. O índice trimestral com ajuste sazonal, por sua vez, assinalou frente ao trimestre imediatamente anterior uma contração de 0,2%. Frente ao mesmo trimestre de 2014, o PIB brasileiro assinalou recuo de 1,6%.

Ótica da Oferta: Da ótica da oferta, na comparação do índice do 1º trimestre de 2015 com o 4º trimestre de 2014, Agropecuária (4,7%) cresceu, enquanto a Indústria (–0,3%) e Serviços (–0,7%) recuaram. Dentre as atividades dos serviços, podemos destacar a retração de transporte, armazenagem e correio (–2,1%) e administração, saúde e educação pública (–1,4%). Na indústria, colaborou para o resultado negativo a indústria de transformação (–1,6%) e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (–4,3%), enquanto extrativa mineral (3,3%) e construção civil (1,1%) cresceram.

Frente ao mesmo trimestre de 2014, o resultado de –1,6% foi influenciado pela Indústria (–3,0%) e Serviços (–1,2%), já que a Agropecuária (4,0%) obteve variação positiva nesta comparação. Dentre os subsetores da indústria, a indústria de transformação (–7,0%) e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (–12,0%) influenciaram negativamente o resultado. Nos Serviços, destacaram–se as contrações em comércio (–6,0%) e transporte, armazenagem e correio (–3,6%).

 

 
Ótica da Demanda: O desempenho do primeiro trimestre do PIB em 2015 em relação ao trimestre anterior (com ajuste sazonal) foi resultado da retração de todos os componentes da demanda interna: o consumo das famílias (–1,5%), a FBKF (–1,3%) e o consumo do governo (–1,3%). No setor externo, por sua vez, as exportações (5,7%) e as importações (1,2%) de bens e serviços cresceram em relação ao quarto trimestre de 2014.

Na comparação com mesmo trimestre de 2014, destacou–se negativamente o resultado da formação bruta de capital fixo (–7,8%), seguida pelo consumo do governo, que recuou 1,5%, e do consumo das famílias (–0,9%). Em relação à demanda externa, as exportações expandiram (3,2%) enquanto as importações recuaram (–4,7%).

 

 

 

 

 

 

 

 

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