13 de março de 2015

Indústria
A produtividade industrial em 2014:
Muito aquém do necessário


  

 
A produtividade industrial encerrou 2014 com expansão pífia de 0,7%, resultado do recuo de 3,2% da produção industrial e de 3,9% das horas pagas. No quadriênio 2011-2014 a produtividade industrial apresentou expansão de 0,9% ao ano, e a produção industrial recuo em média de 0,8%. O fraco desempenho da produção e da produtividade ocorreram com queda no emprego industrial (-3,2% em 2014), a terceira consecutiva desde 2011
(-1,4% em 2012, e - 1,1% em 2013).

Mesmo com a queda sistemática dos indicadores de emprego, a remuneração média do trabalhador tem apresentado ganhos reais. Em 2012 a folha de pagamento média registrou aumento de 5,8%, em 2013 de 2,5% e em 2014 de 2,2%. Num contexto de fraco desempenho da produtividade, o aumento na remuneração média real implica pressão de custo da mão de obra. No quadriênio 2011-14, enquanto a produtividade cresceu em média abaixo de 1%, a remuneração média do trabalho e o custo da mão de obra cresceram acima de 3% em média ao ano. Em termos de tendência o custo da mão de obra industrial é crescente desde 2010, e desde 2012 situa-se em nível superior ao de 2001.

Os resultados acumulados da produção, produtividade e do mercado de trabalho industrial apontam para o agravamento de problemas estruturais na indústria. Assim, o fraco desempenho de 2014 deve ser entendido como indo além de um ajuste defensivo do setor a uma conjuntura econômica desfavorável de retração das demandas doméstica e externa.

Desta forma, argumenta-se que o resultado da produtividade nos últimos anos deve estar relacionado a mudanças mais profundas na estrutura produtiva, refletidas na contínua queda do valor adicionado da indústria no total da economia. A participação da indústria no valor adicionado total caiu de 2011 a 2014, passando de 16,2% em 2011 para 15,1% em 2014 (até o 3º. trimestre). Este resultado ocorreu em um cenário de desvalorização da taxa real de câmbio de cerca de 20% no período.

Estes fatores contribuíram para a deterioração do grau de confiança na economia. Uma consequência imediata do baixo grau de confiança é o desestímulo ao investimento em ativo de capital, variável chave para a retomada do crescimento da produtividade. Segundo as Contas Nacionais Trimestrais, o indicador de investimento na economia apresentou recuo de 7,4% em 2014 (até o 3º. trimestre). Esta queda confirma que o estado de confiança é muito baixo, e somente quando expectativas positivas começarem a se formar, a reversão do investimento deve ser observada.
   

 
Do ponto de vista setorial, dos dezesete setores industriais com informações compatíveis nas pesquisas de produção industrial (PIM-PF) e de emprego e salário (PIMES), em oito observou-se aumento de produtividade: Indústrias extrativas (8,0%); Coque, refino de petróleo, combustíveis nucleares e álcool (7,9%); Calçados e couro (4,9%); Fumo (4,8%); Máquinas e aparelhos elétricos, eletrônicos, de precisão e de comunicações (1,6%); Máquinas e equipamentos (1,2%); Papel e gráfica (1,0%) e Vestuário (0,7%). Apenas os setores de Indústrias extrativas e de Coque, refino de petróleo, combustíveis nucleares e álcool apresentaram expansão na produção. Com a queda na produção em todos os demais setores, os indicadores de emprego e das horas pagas mostraram retração, com exceção dos setores de Minerais não metálicos e de Produtos químicos, que registraram pequeno crescimento no emprego (0,7% e 1,4%, respectivamente) e nas horas pagas (0,7% e 0,8%, respectivamente). Com estes resultados pode-se dizer que a nível setorial, o padrão predominante de comportamento da produtividade industrial em 2014 foi o de contração na produção, no emprego e nas horas pagas.

O maior destaque negativo em termos de produtividade foi o setor de Fabricação de meios de transporte que apresentou a maior contração na produção (-16,8%) e a maior queda na produtividade (-11,3%). Este resultado merece destaque não só porque o percentual de queda na produtividade foi muito acentuado (o segundo pior desempenho foi observado no setor de Produtos químico com queda de 4,4%) como porque este setor exibiu a quarta maior taxa de expansão da produtividade em 2013 (9,2%) e a maior taxa de crescimento da produção (9,6%) naquele ano.

Em termos de evolução do custo da mão da obra a nível setorial, em um ano com fraco desempenho da produtividade e de queda na taxa de desemprego, apenas quatro setores conseguiram reduzir o custo da mão de obra - Indústrias extrativas (-5,1%), Coque, refino de petróleo, combustíveis nucleares e álcool (-4,2%), Madeira (-1,0%) e Papel e gráfica (-0,2%) - e todos os setores analisados, com exceção de dois, apresentaram ganho real na remuneração média (Madeira e Produtos químicos). Dos oito setores com ganho de produtividade, em cinco observou-se aumento no custo da mão da obra: Fumo (4,1%), Máquinas e equipamentos (3,7%), Vestuário (2,7%), Máquinas e aparelhos elétricos, eletrônicos, de precisão e de comunicações (0,6%) e Calçados e couro (0,3%).

O desempenho da produtividade industrial dentre as regiões pesquisadas apresentou resultados bem díspares em 2014 com destaque para Espírito Santo, que registrou crescimento de 9,6% e Rio de Janeiro e São Paulo decréscimo de 1,2%. O crescimento da produtividade da indústria do Espírito Santo foi resultado do expressivo aumento da produção (5,6%) acompanhado de diminuição das horas pagas (-3,6%). Pernambuco teve o segundo maior incremento de produtividade dentre os locais pesquisados (1,6%), seguido de Rio Grande do Sul (1,1%). Minas Gerais e Bahia obtiveram resultados idênticos à média nacional (0,7%). No Ceará (0,1%) e Paraná (-0,2%) a produtividade ficou estabilizada.

Os demais locais registraram contrações próximas a -1%: Santa Catarina (-0,9%), Rio de Janeiro (-1,2%) e São Paulo (-1,2%). Em todos os locais foi observado contração nas horas pagas. São Paulo se destacou por registrar as maiores quedas de horas pagas (-5,1%) e pessoal ocupado (-4,3%) desde 2002, quando se iniciou a série dessas variáveis para o estado. Na maioria dos locais houve aumento da folha de pagamento real por trabalhador e queda na produtividade, havendo, portanto, acréscimo do custo da mão de obra em 8 dos 10 locais pesquisados, destacando-se São Paulo (4,7%) e Paraná (4,9%).

 

 

 

 

 

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