O emprego industrial

Julio Gomes de Almeida – Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e Professor do Instituto de Economia da Unicamp

Brasil Econômico – 12/12/2014

O IBGE noticiou esta semana a redução do emprego no setor industrial brasileiro. Em 2014, até outubro, a retração acumulada chega a 3%, um índice que desde o início dos anos 2000 somente foi sobrepujado no ano de crise econômica global de 2009 (-4,9%). Não é de hoje que o efetivo industrial vem caindo. Taxas negativas começaram a aparecer em outubro de 2011 e não mais saíram de cena, de forma que o ano de 2012 registrou queda de 1,4%, seguido em 2013 de variação negativa de 1,1%. Considerado o triênio 2012-2014, o recuo acumulado é de 5,4%. Portanto, o quadro é negro e essa condição não é recente.

A causa maior do encolhimento do emprego foi o gradativo agravamento da situação industrial do país, que se inicia já em 2011, porém sem efeitos imediatos na geração de postos de trabalho. O agravamento da crise industrial em 2014, quando o setor declinará sua produção em 3%, aprofundou o processo. Com isso, o emprego acelerou seu declínio.

Como o produto industrial retrocedeu menos (-3,2% entre 2012 e 2014) do que o emprego, a produtividade do trabalho no setor evoluiu, muito embora o ganho de produtividade tenha sido baixo (não mais do que 1% como média anual) e obtido da pior maneira possível — vale dizer, com queda simultânea de produção e emprego. No cenário mais positivo, a maior produtividade combina melhora tanto na produção quanto no emprego, a primeira aumentando mais do que a segunda.

Isso ocorre quando o investimento industrial moderniza o maquinário, a educação e o treinamento melhoram a qualidade da mão de obra e inovações tecnológicas se multiplicam em um quadro de dinamismo econômico. O aumento salutar da produtividade vem com o crescimento, e decorre de novos investimentos fixos e em P&D.

Não foi o nosso caso recente, mas é possível que em alguns setores da indústria a redução do emprego tenha sido ditada não apenas pela produção em baixa, mas também por uma premência de investimentos em automação que se fizeram necessários para minimizar a aguda perda de competitividade da produção nacional diante da concorrência do produto estrangeiro. Se é assim, mesmo que venhamos em breve a presenciar uma recuperação da produção industrial — o que não está no radar —, o emprego seguirá em queda.

Essa não é uma boa perspectiva, pois a criação de novos postos de trabalho é um dos fatores que realimenta uma expansão e a espalha para o resto da economia. Foi assim no ciclo anterior iniciado em 2004. O emprego industrial não teve a mesma relevância de serviços para impulsionar a formalidade e o mercado interno consumidor, mas teve um destaque que dificilmente voltará a se repetir.

Como a indústria é capaz de gerar empregos de qualidade — formais e de qualificação e remuneração superiores — poderá se perder um dinâmico vetor de consumo e de fortalecimento das ocupações de média e alta renda.

Em apenas quatro ramos da indústria foi registrado aumento no emprego no último triênio: Alimentos e bebidas, Indústria extrativa, Produtos químicos e Borracha e plásticos, todos os casos, exceto o primeiro, com taxas muito modestas de variação. O setor de Alimentos e bebidas (+5%), que tem destacado peso na estrutura industrial brasileira, foi isoladamente o grande responsável por amortecer a queda do emprego global. Não fosse isso, o encolhimento teria sido muito maior.

Para ilustrar, nos segmentos mais tradicionais da indústria, reunindo Têxtil, Vestuário, Calçados, Madeira e Fumo, o número de trabalhadores caiu entre 13% e 18%. Em segmentos relevantes da indústria de base, como Refino de petróleo e álcool, Metalurgia básica (onde se destaca aço) e Produtos de metal, a diminuição oscilou entre 7% e 12,5%. A ocupação nos setores de mais alta tecnologia também não foi poupada. Em Máquinas e equipamentos, Máquinas e aparelhos elétricos e em Fabricação de meios de transporte a redução foi de 6% a 10%.

A menos que tenhamos um novo boom no ramo empregador, caso de Alimentos e bebidas, os dados mais desagregados sumarizados acima mostram que a perspectiva do emprego industrial é desfavorável, mesmo que a indústria supere a presente crise em que está mergulhada.


Julio Gomes de Almeida é Ex-Secretário de Política Econômica do
Ministério da Fazenda e Professor do Instituto de Economia da Unicamp