Perspectivas para a economia

Julio Gomes de Almeida – Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e Professor do Instituto de Economia da Unicamp

Brasil Econômico – 05/12/2014

Já é possível delinear o quadro básico para a economia brasileira deixado pelo ano de 2014. O Brasil não vai escapar de assistir a uma queda dos investimentos, o que é disparadamente o pior resultado para o ano. Houve uma recuperação no terceiro trimestre, mas no acumulado até setembro o declínio do investimento alcança 7,4%. Para o ano como um todo pode cair algo como 5%. Investindo menos a economia não avança na solução de seus principais problemas, especialmente no caso da indústria, que precisa melhorar sua produtividade e sua capacidade de concorrer com a produção realizada no exterior.

Dentre os determinantes do adverso desempenho das inversões, as expectativas muito negativas dos empresários quanto ao futuro da economia formam o fator de ordem mais geral mas, simultaneamente, o que mais prontamente poderá ser revertido, já que o colapso da confiança teve relação muito próxima com o ambiente eleitoral e as críticas muito pronunciadas pelo mercado aos desequilíbrios que a economia mostrava quanto à inflação, às contas externas e, principalmente, o desarranjo fiscal.

A formação da equipe econômica do novo governo e o anúncio antecipado dessa mesma equipe para retomar a trajetória de superávits primários teve por fundamento maior reorientar as expectativas para um campo mais favorável ao retorno do crédito, do consumo e de novos investimentos. Dará certo ou não se o remédio ministrado não agravar a enferma economia, vale dizer, se o ajuste fiscal planejado não derrubar de vez as expectativas de financiadores, consumidores e investidores pelo receio de que a economia entre em rota de recessão e desemprego.

Não apenas o efeito expectativas operou sobre o investimento. Os investimentos diretamente executados pelo setor público, ou por ele decididos e coordenados (como em concessões em infraestrutura), e mesmo os investimentos de empresas estatais não evoluíram como era recomendado para neutralizar o desânimo empresarial. A tarefa, portanto, é dupla: não apenas recuperar a confiança empresarial, mas também recuperar a capacidade de crescimento do investimento autônomo, vale dizer, executado ou liderado pelo setor público. O segundo objetivo pode ajudar o primeiro.

A indústria poderá agravar ou amenizar o quadro de desinvestimento da economia. Explica-se: a indústria tem baixa participação no PIB (13%), mas ainda é um dos setores mais relevantes para o investimento na economia, talvez respondendo por cerca de 30% do total. Como seus problemas são estruturais e não está na ordem do dia uma recuperação expressiva desse setor, que este ano deve declinar a sua produção em 3%, poderá ter origem aí uma barreira para a retomada das inversões. Também por esse motivo, uma solução para a crise industrial precisa ser perseguida.

O fato mais destacado de 2014 foi a sistemática queda do consumo das famílias ao longo do ano. Nos três primeiros trimestres as quedas com relação ao trimestre anterior foram de -0,2%, 0% e -0,3%, respectivamente no primeiro, segundo e terceiro trimestre. No acumulado do ano ainda há aumento de 1,2%, mas muito aquém dos 2,8% de 2013. Aqui o relevante é a direção: a tendência é de declínio do consumo, a menos que o crédito rapidamente se recupere e o enfraquecimento do emprego, que já é patente, seja revertido, o que não se faz sem a recuperação da economia. Na direção atual, o menor consumo afeta sobremaneira o setor de serviços, o maior empregador da economia, reduzindo emprego e realimentando a redução do consumo.

Apenas contabilmente podemos esperar uma contribuição positiva ao PIB do setor externo da economia, se a queda que vem sendo registrada neste ano nas importações (-0,2%) for mantida. Tal recuo decorre do nível baixo da atividade econômica, podendo ser alterado tão logo a economia volte a crescer. Quanto às exportações, a conjuntura não é favorável para manter o crescimento real, que chegou a 2,8% nos três primeiros trimestres de 2014. A redução de preços de commodities exportadas pelo Brasil, o crescimento ainda baixo e parcial das economias centrais e a frágil condição brasileira na exportação de manufaturados não recomendam otimismo.


Julio Gomes de Almeida é Ex-Secretário de Política Econômica do
Ministério da Fazenda e Professor do Instituto de Economia da Unicamp