24 de setembro de 2014

Indústria
Produtividade x salário


  

 
Artigo reproduzido abaixo e publicado na edição de hoje do jornal Valor Econômico, assinado por Paulo Francini (Diretor do Departamento de Economia da Fiesp) e Rogério César de Souza (Economista-chefe do IEDI), esclarece uma questão relevante para o entendimento da crise que a indústria brasileira atravessa nos últimos anos. O ponto central é que no período mais recente, entre 2010 e 2013, os salários subiram muitíssimo e descolaram-se completamente da produtividade.

Alguns estudos vêm sustentando que os salários não descolaram-se da produtividade, mas que essa última cresceu muito pouco. Problema dessa última tese: ela encontra respaldo em números se o período selecionado for anterior a 2010 (ano em que os salários começaram a explodir) e se é considerada a indústria como um todo (que incluiria construção, utilidade pública, indústria extrativa, além da indústria de transformação) e não somente a indústria de transformação.

A abordagem alternativa coloca mais adequadamente o tema:

1) Não há dúvida que a produtividade na indústria evolui muito pouco (em alguns períodos, negativamente), sendo essa uma variável decisiva – ou mesmo imprescindível – para que o Brasil supere a crise industrial.
 
2) A tese de que não houve descolamento entre salários e produtividade se justifica para períodos anteriores a 2010 e se for considerada a indústria como um todo.  

3) O descolamento se dá de 2010 em diante e é atinente à indústria de transformação, o segmento que é o núcleo da crise industrial, um fator que contribuiu para a redução das margens das empresas da indústria, consequente retraimento dos investimentos do setor e realimentação do processo através da baixa produtividade.