19 de setembro de 2014

Balança Comercial
A piora da balança comercial no
primeiro semestre: a contribuição
de produtos industrializados


   

 
Apesar da depreciação cambial nominal recente (desde 2011, pela taxa R$/US$), as exportações brasileiras não têm dado sinais de recuperação: no primeiro semestre de 2014, as exportações totais se retraíram em 3,4% frente a igual período de 2013, ficando em US$ 110,5 bilhões. Tal queda foi puxada pela retração das vendas externas dos bens tipicamente produzidos pela indústria de transformação, de 7,3%, fazendo o montante exportado cair de US$ 67,7 bilhões em janeiro-junho de 2013 para US$ 62,8 bilhões em igual período de 2014. O aumento de 2,2% nas exportações dos demais bens – agropecuários e minerais principalmente – esteve longe de contrabalançar esse recuo.

Dessa forma, a balança comercial teve seu segundo déficit seguido no acumulado em tela. A magnitude do déficit, de US$ 2,5 bilhões, até recuou frente ao mesmo período do ano anterior, mas o fato decorreu da retração das importações. Se dependesse apenas do saldo dos produtos da indústria de transformação, o resultado teria sido ainda pior: o déficit desses bens alcançou US$ 34,8 bilhões, o maior já registrado para primeiro semestre. Nem mesmo com o Brasil importando 3,3% menos desses produtos foi possível mitigar o saldo negativo.

Podem-se esmiuçar os números da balança de bens da indústria de transformação pela classificação por intensidade tecnológica, a saber, alta, média-alta, média-baixa e baixa, o que traz alguns destaques:

  • Mesmo o segmento de baixa intensidade, o único dos quatro que desde 2009 (para primeiro semestre) logra superávit, viu suas exportações retrocederem 3,4% em relação a igual período de 2013, ficando em US$ 27,1 bilhões. As importações cresceram 3,3%, levando a um superávit de US$ 17,7 bilhões, menor do que o obtido no mesmo acumulado de 2013. Tais variações foram em muito ditadas pelos alimentos industriais, bebidas e fumo, cujas exportações recuaram 6,5%. De positivo, o aumento nas vendas externas de produtos madeireiros, de papel, celulose e impressões gráficas – acréscimo de 4,4% – e de produtos têxteis, de vestuário, artigos de couro e calçados – expansão de 9,0%.
     
  • Dentre os quatro segmentos, só o conjunto dos bens da faixa de alta intensidade logrou aumento nas exportações, de 11,0%, atingindo US$ 2,0 bilhões. Porém é um incremento sobre uma base baixa, afora ter sido concentrado principalmente nas aeronaves e afins. As importações aumentaram apenas 0,5%, concorrendo para que o déficit no primeiro semestre de 2014, de US$ 16,2 bilhões, fosse um pouco menor do que o de igual acumulado de 2013. Isto é, o segundo maior déficit da série para primeiro semestre. Ademais as exportações de produtos eletrônicos recuaram sobremaneira.
     
  • A faixa de média-alta intensidade também registrou déficit menor em janeiro-junho de 2014, ficando em US$ 28,8 bilhões. O que não a impediu de permanecer como a mais deficitária das faixas. O déficit menor, todavia, foi acompanhado de exportações cadentes, queda de 9,6%. Apesar de tanto, as vendas externas de máquinas e equipamentos, sejam os elétricos, sejam os mecânicos ou não especificados noutras atividades cresceram 2,0% e 2,1%, respectivamente. Já as exportações da indústria automotiva diminuíram 2,1%.
     
  • A faixa de média-baixa intensidade presenciou novo déficit, de US$ 7,6 bilhões, devendo-se a uma queda de 15,5% nas exportações. Esse recuo se deveu ao menor montante exportado de produtos metálicos, taxa de -5,0%, além do superlativo retrocesso da indústria naval, de 93,5%. Assim, os produtos metálicos que até 2009 contrabalançavam o déficit em derivados de petróleo, combustíveis e afins, não têm exercido tal papel. Ironicamente, as vendas externas desses últimos cresceram 13,3% em janeiro-junho.

Mesmo as indústrias cujos saldos melhoraram devem ser vistas com reservas, como no caso dos produtores de bens de capital, espelhando retração nas importações, significando um evento de todo ruim, a redução dos investimentos. Os números também enfatizam o caráter inócuo de medidas protecionistas, quando estas são tomadas por si só, sem alinhamento com estratégias e projetos de longo prazo e exigência de contrapartidas. E se tornam mais inócuas à medida que a complexidade tributária se mantém e as melhorias de infraestrutura caminham lentamente, contrapondo possíveis desdobramentos positivos por conta da depreciação cambial nominal.
  

 

 

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