29 de agosto de 2014

PIB
Queda como consequência
da crise das expectativas


   

 
O PIB brasileiro caiu pela segunda vez consecutiva: –0,2% e –0,6%, respectivamente, no primeiro e segundo trimestres deste ano (na série que compara trimestre com trimestre imediatamente anterior, com ajuste sazonal). Pelo critério usualmente adotado para a demarcação das etapas econômicas, a economia brasileira está em recessão. No acumulado de quatro trimestres, o PIB, que manteve, no primeiro trimestre deste ano, a mesma taxa de crescimento de 2013 (2,5%), apresentou, no segundo trimestre, variação de 1,4% com relação ao mesmo período de 2013. Ao se tomar as taxas acumuladas no ano, o PIB cresceu 1,9% no primeiro trimestre e apenas 0,5% no acumulado do primeiro semestre. Nesse ritmo, o PIB fechará 2014 com crescimento inferior a 1,0%.

Pelo lado da oferta, quem puxa para baixo o PIB são, destacadamente, a Indústria de Transformação, Construção e Comércio. Na comparação trimestre com trimestre imediatamente anterior, considerados os ajustes sazonais, o Valor Agregado (VA) da Indústria de Transformação caiu pelo quarto trimestre consecutivo e a taxas cada vez mais negativas: –1,1%, –0,8%, –1,3% e –2,4%, respectivamente, no terceiro e quarto trimestres de 2013 e primeiro e segundo trimestres deste ano.

O VA da Construção também apresentou quatro quedas consecutivas, com resultados piores neste ano: –1,2%, –0,8%, –2,9% e –2,9%, na mesma ordem. No Comércio, foram duas taxas negativas neste ano: –0,4% e –2,2%, respectivamente, no primeiro e segundo trimestres.

Pelo lado da demanda, o Consumo das Famílias, que havia caído 0,2% no primeiro trimestre, voltou crescer no segundo trimestre deste ano, 0,3%, colaborando para amenizar as quedas de 0,7% no Consumo da Administração Pública e de 5,3% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no mesmo período – dado o elevado peso que o Consumo das Famílias tem no PIB, de mais de 60%.

No entanto, a manutenção das taxas positivas do Consumo das Famílias (decorrente de um mercado de trabalho favorável e de uma evolução ainda positiva do crédito) não minimiza a preocupação com o desempenho dos investimentos na economia brasileira: a FBCF recua a quatro trimestres consecutivos e a elevadas taxas: –1,7%, –1,9%, –2,8% e, como supracitado, –5,3%, respectivamente, no terceiro e quarto trimestres de 2013 e primeiro e segundo trimestres deste ano.

Vale notar que essa retração da FBCF decorre do encolhimento tanto da produção doméstica como das importações de máquinas e equipamentos, além do efeito da recessão na Construção (todas as taxas deste parágrafo calculadas entre um trimestre e o trimestre imediatamente anterior, com ajuste sazonal).

Em suma, a Construção continua amargando resultados negativos decorrentes de um final de ciclo de forte expansão; a Indústria de Transformação, que atravessava um longo período de crescimento volátil e frágil, entrou nitidamente num caminho recessivo; o
Comércio, um dos principais seguimentos dentro de Serviços e que vinha contribuindo muito para o PIB brasileiro, na medida em que fazia frente aos resultados fracos ou negativos de outros setores (notadamente a indústria), dá sinais de que pode apresentar resultados moderados no segundo semestre de 2014.

Por fim, mas não menos importante, a retração dos investimentos deixa claro que as expectativas com relação ao futuro da economia brasileira estão muito deterioradas. A taxa de investimento do Brasil ficou em 16,5% do PIB no segundo trimestre deste ano, voltando ao mesmo patamar do segundo trimestre de 2006; portanto, afastando-se muito da taxa desejada de 24% que poderia propiciar um crescimento futuro do PIB a taxas médias de 4,0% a 5,0% ao ano.

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