1º de agosto de 2014

Indústria
Reflexo da crise de confiança


  

 
Em junho, a produção industrial voltou a recuar. Foi a quarta taxa de variação negativa consecutiva (–0,7%, –0,5%, –0,8% e –1,4%, respectivamente, em março, abril, maio e junho) – todas as taxas calculadas com relação ao mês imediatamente anterior, considerados os ajustes sazonais.

Com relação a igual mês do ano anterior, o resultado foi pior: queda de 6,9% em junho último – essa também foi a quarta taxa negativa consecutiva nesse tipo de comparação. Como resultado dessa evolução negativa, a produção da indústria nacional apresentou retração de 2,6% no acumulado do primeiro semestre deste ano – um dos priores primeiros semestres na série histórica do IBGE, que inicia em 2002.

A Copa exerceu impactos positivos e negativos na produção industrial no mês de junho. Por um lado, o setor de produtos da linha marrom (televisores, aparelhos de som, rádios etc.) cresceu em junho e fechou o primeiro semestre com crescimento expressivo de 20,2%. Por outro lado, os dias que não foram trabalhados por conta dos jogos da Copa colaboraram para jogar mais para baixo os números da indústria brasileira. O fato é que os efeitos negativos se sobrepuseram, já que há um movimento generalizado de queda da produção na indústria.

Foi dito que os dias não trabalhados por ocasião dos jogos “colaboraram para jogar mais para baixo os números da indústria” pois a Copa não foi o único fator que determinou os resultados muito ruins da produção industrial em junho. Fatores como estoques acumulados, menor confiança de empresários e de consumidores tiveram papel importante aí. Aliás, esses são os fatores que prevalecem ao se explicar a evolução desfavorável (já não tão recente) da indústria brasileira – ao lado, evidentemente, das dificuldades de competir com seus produtos seja no mercado doméstico, seja nos mercados internacionais de bens manufaturados. Acrescente-se a isto as maiores dificuldades que a Argentina, nosso principal mercado de produtos industriais na América do Sul, atravessa.

Expectativas menos otimistas de empresários e de consumidores têm afetado, em grande medida, os setores de bens de capital (cuja produção, segundo os números do IBGE, caiu 8,3% no primeiro semestre deste ano) e de bens duráveis (–8,6% no mesmo período). O aumento da taxa de juros e a menor propensão dos bancos privados em ofertar crédito também têm contribuído para o desempenho negativo desse último setor, ou seja, o de bens duráveis.

Ao se considerar também a retração das importações de bens de capital observada neste ano, isso tudo sugere que os investimentos da economia brasileira estão recuando – vale dizer que, por si só, a queda da produção nacional de bens de capital não significaria necessariamente que os investimentos estariam recuando, pois poderia estar ocorrendo um processo de substituição do bem de capital produzido domesticamente pelo bem de capital produzido no exterior.

Dificilmente a indústria conseguirá reverter o resultado negativo do primeiro semestre. É mais provável que o segundo semestre também seja de queda da produção. Tudo indica que a indústria brasileira fechará 2014 com retração de sua produção, com implicações sobre o PIB nacional. Mais uma vez, os números da indústria levam a novas revisões das projeções do comportamento da economia brasileira. Mais uma vez, essas revisões serão feitas para baixo.

Leia aqui o texto completo desta Análise.