Temas do varejo
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 20/06/2014

Em alimentos e bebidas, o maior dos ramos do varejo, o padrão de crescimento baixou aproximadamente a dois terços do nível médio do longo período 2004 a 2012

Os temas do varejo em 2014 interessam tanto aos analistas econômicos quanto aos empresários da área. No primeiro caso, porque o setor vem acumulando quedas a olhos vistos e isso pode piorar ainda mais o desempenho econômico do país. No segundo, porque os retrocessos mês a mês do varejo ainda não se traduziram em um colapso do seu crescimento, tendo por parâmetro o desempenho do ano passado. Há três meses o varejo restrito (não inclui a venda de “Veículos, motos, partes e peças” e “Material de construção”) tem variação nula ou negativa em relação ao mês anterior (0% em fevereiro; -0,5% em março; -0,3% em abril) e este padrão foi reproduzido na maioria dos segmentos, vários deles com intensidade bastante apreciável. Tiveram fortes quedas os ramos de “Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo”, “Tecidos, vestuário e calçados”, “Livros, jornais, revistas e papelaria” e “Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação”.

Não caíram, ou tiveram pequena alta, somente “Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos”, “Móveis e eletrodomésticos” e “Outros artigos de uso pessoal e doméstico”, este último abrange as lojas de departamento. No caso dos ramos incluídos no comércio ampliado, a alternância de bons e maus resultados foi a tônica, prevalecendo no trimestre a queda para “Veículos, motos, partes e peças” e uma ligeira melhora para “Material de construção”. Portanto, a tendência não é favorável para o varejo, o que certamente será fator para um sofrível desempenho econômico no segundo trimestre deste ano.

Como foi observado, os últimos índices adversos não chegaram, pelo menos por enquanto, a contaminar o desempenho do varejo nos quatro primeiros meses do ano frente a igual período de 2013. Seu crescimento em termos reais, de 5%, não chega perto da média do período 2004/2012 — cerca de 8,5% —, o que denota que o ciclo varejista “chinês” foi interrompido. Mas o percentual supera um pouco o de 2013, 4,3%. É muito importante que após quase uma década de forte crescimento dos investimentos e das vendas do comércio, este não tenha um abrupto e radical retrocesso.

A menos que tenhamos um segundo semestre especialmente negro para as vendas varejistas, o que deve prevalecer para 2014 — um ano difícil pelos conhecidos fatores, como eleições, incertezas, expectativas adversas de empresários e consumidores — é um perfil de expansão moderado, entre 4% e 5%. Isso permitirá um “pouso” relativamente suave do segmento, que assim poderá continuar honrando seus compromissos de financiamento e renovando, embora em velocidade menor, seus estoques e investimentos fixos. Para a parcela mais intensiva em capital do setor varejista, que reúne as grandes lojas e os shopping centers, a passagem de uma fase para outra do ciclo sem o choque de uma recessão é de especial relevância. Neste caso uma mini bolha de investimentos acompanhou a expansão do setor, incluindo investidores de pouca experiência no segmento.

Outro tema de interesse consiste em distinguir quem mais sofre com a reversão do varejo e quem vem sendo mais preservado nesse processo. Foi mantido praticamente o mesmo dinamismo dos anos anteriores em “Combustíveis e lubrificantes”, certamente beneficiado por preços convidativos. Em alimentos e bebidas, o maior dos ramos do varejo, o padrão de crescimento baixou aproximadamente a dois terços do nível médio do longo período de dinamismo que perdurou de 2004 a 2012. Uma redução de crescimento proporcionalmente ainda maior apresentou-se em “Móveis e eletrodomésticos”. Em todos esses três casos, o crescimento das vendas nos quatro primeiros meses do corrente ano se mantém em torno a 5%, portanto próximo à média geral do varejo. Quem não parece demostrar nenhuma mudança cíclica foram “Outros artigos de uso pessoal e doméstico” e “Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos”, que preservam expansão próxima a 10%. Transitaram de crescimentos expressivos para declínios três casos: “Tecidos, vestuário e calçados”, “Livros, jornais, revistas e papelaria” e “Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação”.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda