25 de abril de 2014

Indústria
Investimento e P&D:
O futuro da indústria farmacêutica


  

 
O IEDI está publicando em sua Carta uma entrevista com seu Conselheiro Carlos Sanches, da EMS, sobre o setor farmacêutico, um segmento muito promissor para o desenvolvimento de novas grandes empresas nacionais. Para ele o segredo do crescimento e do sucesso empresarial reside no investimento:

“Eu acho que um dos grandes segredos da gente, e que eu critico um pouco no empresariado brasileiro, é que tem que investir no negócio. Tem empresário que reclama, reclama, mas não investe. Vai investir, vai ter problema, vai ter um plano x, tem o dólar, tem multinacional, mas você vai ganhando produção, escala e muita gente vai saindo e você vai aproveitando os momentos bons. Aí vieram os genéricos. Por que eu fui o primeiro a lançar genérico? Porque eu tinha acabado de fazer uma grande fábrica. E genérico precisava ter 3 coisas: o DMF (Drug Master File), que é documentação da matéria-prima, precisava ter estudo de equivalência e precisava ter fábrica nova porque a fábrica tinha que ser validada. E as outras empresas, até maiores que a minha na época, não tinham fábricas prontas.

Então, como a gente tinha fábrica, eu peguei o bonde. Se não tivesse investido, não tinha ocorrido isso. Então eu acho que é muito por conta disso. E agora estamos investindo em tecnologia. Eu tenho 300 pesquisadores aqui e invisto 7% do meu faturamento em P&D. O meu laboratório tem 8.000 m2. São 3 laboratórios. Tenho 2 laboratórios em Hortolândia, um que é para inovação incremental e um prédio, nos fundos, que é para genéricos. São grupos diferentes. E outro em São Bernardo do Campo.”

O empresário comenta ainda que “tenho um (laboratório) em Milão, com 40 pesquisadores. Também tenho um fundo de investimento nos EUA. Nesse caso, eu estou financiando o pesquisador. Eu estou pegando a pesquisa na fase 2 e fase 3, financiando, para depois ter uma participação no produto. E estou fazendo isso para o mercado americano. Eu quero os EUA porque representam 40% do mercado mundial, só que para inovação representam 60%. Então, se eu tiver uma droga nova e estiver nos EUA, eu tenho 60% do mercado.”

Para o empresário a inovação é crucial e sugere que a agência reguladora do setor, a Anvisa, promova adaptação mais rápida às necessidades de crescimento e inovação do setor:

“No governo a política industrial envolveu o BNDES, o Ministério da Saúde, o Ministério do Desenvolvimento, só que se esqueceu da Agência. E quem manda é a Agência. O Ministério da Saúde compra, o BNDES financia, mas quem aprova o medicamento é a Agência. Então, sem a Anvisa, não existe política.

Todo esse avanço visto ao longo dos anos, a gente está tentando fazer com que aconteça na Anvisa. Mas está difícil. Um passo para frente, dois para trás. Dois passos para frente, um para trás. Hoje continua demorando dois anos para estudar análise clínica. O recurso à Comissão Científica da Anvisa é opcional, quer dizer, o técnico pode chamar. A Comissão não está obrigada a analisar os pedidos de estudo. Quer dizer, não são médicos que analisam. A própria indústria, era uma indústria farmacêutica que não tinha médico, pois a exigência era outra. É somente quando se começa a fazer pesquisa, inovação, que se recorre ao médico. Antes se recorria ao farmacêutico. A Anvisa ainda é hoje como um corpo de classe, é uma Agência meio que dos farmacêuticos. Mas não é mais o farmacêutico o profissional central. Sua fase já ficou para trás. A qualidade do produto hoje já está dada. Não se discute mais isso. Discute-se, agora, o outro passo.”
 

 

 

 


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