O IEDI está publicando em sua Carta
uma entrevista com seu Conselheiro Carlos Sanches, da EMS, sobre
o setor farmacêutico, um segmento muito promissor para o
desenvolvimento de novas grandes empresas nacionais. Para ele
o segredo do crescimento e do sucesso empresarial reside no investimento:
“Eu
acho que um dos grandes segredos da gente, e que eu critico um
pouco no empresariado brasileiro, é que tem que investir
no negócio. Tem empresário que reclama, reclama,
mas não investe. Vai investir, vai ter problema, vai ter
um plano x, tem o dólar, tem multinacional, mas você
vai ganhando produção, escala e muita gente vai
saindo e você vai aproveitando os momentos bons. Aí
vieram os genéricos. Por que eu fui o primeiro a lançar
genérico? Porque eu tinha acabado de fazer uma grande fábrica.
E genérico precisava ter 3 coisas: o DMF (Drug Master File),
que é documentação da matéria-prima,
precisava ter estudo de equivalência e precisava ter fábrica
nova porque a fábrica tinha que ser validada. E as outras
empresas, até maiores que a minha na época, não
tinham fábricas prontas.
Então,
como a gente tinha fábrica, eu peguei o bonde. Se não
tivesse investido, não tinha ocorrido isso. Então
eu acho que é muito por conta disso. E agora estamos investindo
em tecnologia. Eu tenho 300 pesquisadores aqui e invisto 7% do
meu faturamento em P&D. O meu laboratório tem 8.000
m2. São 3 laboratórios. Tenho 2 laboratórios
em Hortolândia, um que é para inovação
incremental e um prédio, nos fundos, que é para
genéricos. São grupos diferentes. E outro em São
Bernardo do Campo.”
O empresário
comenta ainda que “tenho um (laboratório) em Milão,
com 40 pesquisadores. Também tenho um fundo de investimento
nos EUA. Nesse caso, eu estou financiando o pesquisador. Eu estou
pegando a pesquisa na fase 2 e fase 3, financiando, para depois
ter uma participação no produto. E estou fazendo
isso para o mercado americano. Eu quero os EUA porque representam
40% do mercado mundial, só que para inovação
representam 60%. Então, se eu tiver uma droga nova e estiver
nos EUA, eu tenho 60% do mercado.”
Para o empresário
a inovação é crucial e sugere que a agência
reguladora do setor, a Anvisa, promova adaptação
mais rápida às necessidades de crescimento e inovação
do setor:
“No
governo a política industrial envolveu o BNDES, o Ministério
da Saúde, o Ministério do Desenvolvimento, só
que se esqueceu da Agência. E quem manda é a Agência.
O Ministério da Saúde compra, o BNDES financia,
mas quem aprova o medicamento é a Agência. Então,
sem a Anvisa, não existe política.
Todo esse
avanço visto ao longo dos anos, a gente está tentando
fazer com que aconteça na Anvisa. Mas está difícil.
Um passo para frente, dois para trás. Dois passos para
frente, um para trás. Hoje continua demorando dois anos
para estudar análise clínica. O recurso à
Comissão Científica da Anvisa é opcional,
quer dizer, o técnico pode chamar. A Comissão não
está obrigada a analisar os pedidos de estudo. Quer dizer,
não são médicos que analisam. A própria
indústria, era uma indústria farmacêutica
que não tinha médico, pois a exigência era
outra. É somente quando se começa a fazer pesquisa,
inovação, que se recorre ao médico. Antes
se recorria ao farmacêutico. A Anvisa ainda é hoje
como um corpo de classe, é uma Agência meio que dos
farmacêuticos. Mas não é mais o farmacêutico
o profissional central. Sua fase já ficou para trás.
A qualidade do produto hoje já está dada. Não
se discute mais isso. Discute-se, agora, o outro passo.”