Indústria: Ainda Sem Definição
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 14/03/2014

Os últimos dados da produção industrial brasileira colocam em evidência algumas constatações indicativas de que o elevado crescimento da produção em janeiro — 2,9%frente a dezembro do ano passado — não pode ser considerado como demonstração de um bom início de ano para a indústria. Na verdade, delas emergem como conclusão um quadro ainda envolto em dúvidas para 2014. Em si, o progresso observado na produção teve contornos favoráveis: ocorreu em todas as categorias de uso, foi especialmente expressivo em bens de capital (+10%) e envolveu 17 dos 27 ramos da indústria.

Em parte, isso se deu porque no mês de dezembro assistiu-se a um retrocesso tão ou mais generalizado e intenso quanto a evolução que viria a ocorrer em janeiro último. Não foi somente em caminhões que a produção em dezembro foi contida para ser retomada em janeiro. Segundo os dados parecem indicar, em muitos outros segmentos as empresas optaram por descontinuar a produção naquele mês para fecharem o ano com baixos estoques.

Uma forma de lidar com a marcha da atividade industrial nessas condições consiste em suavizar as mudanças na produção considerando, por exemplo, uma média móvel trimestral. Pois bem, a comparação anual por categorias de uso torna claro o predomínio de direções sinalizando retrocesso da produção. De fato, os segmentos apresentam desaceleração progressiva e na maioria deles, percentuais negativos nos últimos meses. Para o conjunto da indústria a média móvel trimestral da variação em janeiro, relativamente ao mesmo período do ano anterior é de -0,5%. Para bens intermediários a queda na produção chega a -1,1%, sobe a -4,6%embens duráveis e a -2,6% em bens não-duráveis. Unicamente em bens de capital há crescimento: 4,9%.

Outro exercício considerando os ramos industriais mostra que de acordo comas taxas de variação na margem dos últimos três meses é possível estabelecer as trajetórias segundo o dinamismo. A grande maioria, em um total de 14 ramos, apresenta direção de queda da produção; para outros nove a indicação é de estagnação; e apenas para quatro ramos é possível identificar um vetor inequivocamente positivo de crescimento. Para esse último grupo os ramos são Bebidas, Farmacêutica, Material eletrônico e de comunicações e Equipamentos médico-hospitalares. O primeiro grupo reúne ramos importantes, dentre os quais, Veículos automotores, Extrativa, Têxtil, Celulose e papel, Edição, impressão e reprodução de gravações, Perfumaria e produtos de limpeza, Minerais não metálicos e Máquinas e aparelhos elétricos. Entre os ramos onde há estagnação, destacam-se Alimentos, Máquinas e equipamentos, Máquinas para escritório e de informática, Calçados e Vestuário.

Em suma, mesmo tendo crescido em janeiro, a indústria não aparece bem no início de 2014 e ainda precisa mostrar que as quedas nos meses finais do ano passado não demarcam um novo período de retração. Não há porque ser especialmente pessimista, mas tampouco há razões para otimismo no crescimento industrial em 2014. O setor ainda sofre com problemas de custos elevados, baixo avanço da produtividade e mercado externo difícil para a colocação do produto manufaturado no Brasil. A situação fica mais complicada porque há um crescente desânimo por parte do empresário industrial, o que inibe a sua decisão de investir. Investir é tudo o que se faz necessário para que a indústria recomponha a sua competitividade.

Nesse contexto, há pouca margem para a desvalorização do real surtir efeito positivo rápido e abrangente para o setor como um todo, muito embora haja sinais parciais de melhora das exportações em determinados segmentos. A baixa inadimplência no crédito concorrendo para o reerguimento do financiamento ao consumo e maiores investimentos em infraestrutura e no setor de petróleo são fatores que podem melhorar o desempenho industrial nesse ano. Diante do quadro atual uma perspectiva realista para 2014 é de um aumento de modestos2%para a produção industrial, o que resultaria em variação zero para os quatro anos do período 2011-14.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda