As Perspectivas da Economia
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 07/03/2014

Em uma safra de modestos resultados a nível mundial, o aumento real do PIB brasileiro em2013, de 2,3%, não foi dos piores. Porém, em um duplo sentido foi negativo. Primeiro, porque completa um triênio de baixos índices, resultando em uma média próxima a 2%. Um período prolongado de desempenho econômico fraco desanima o empresário, o que concorre para reduzir o investimento e, portanto, a evolução do PIB. Em segundo lugar, porque o Brasil apresenta plenas condições para crescer mais e, nesse sentido, desperdiça oportunidades. A chamada “armadilha da renda média” pode ser considerada como hipótese, mas em se tratando de um país que somente há pouco incorporou dezenas de milhões de novos consumidores ao seu mercado interno, que apenas agora está dando início aos enormes investimentos em petróleo e que tem pela frente toda uma avenida de novas inversões em infraestrutura, não se pode lamentar a falta de alternativas para o crescimento retornar.

Se, ademais, é levado em conta que há todo um setor industrial a ser reconstituído, parece ser claro que nossa economia vem reduzindo seu ritmo, porque não foi possível ou não tivemos suficiente perspicácia para reorientar a política econômica diante da perda de dinamismo do seu ciclo anterior. Em particular, demoramos demais em encontrar um modelo adequado ao investimento em infraestrutura, patinamos nas decisivas inversões do setor de petróleo e subestimamos o impacto de muitos anos de valorização da moeda sobre a competitividade do setor industrial, que,nesse processo, foi perdendo densidade e encolheu como centro inovador e indutor de ganhos de produtividade para a economia. Daí o fraco crescimento que vem nos perseguindo, mas que não deve ser tomado como norma a qual necessariamente deve ser seguida pelo Brasil.

Da crise industrial originou-se um dos mais destacados fatores condicionantes da etapa adversa dos últimos três anos, período em que a indústria de transformação praticamente não cresceu como em2011 (0,1%), declinou no ano seguinte (-2,4%), voltando a crescer no ano passado (1,9%). A propósito, desde o “fundo do poço” da crise industrial no terceiro trimestre de 2012, quando a variação em quatro trimestres do PIB industrial foi de -3%, a indústria vem ganhando ritmo, embora lento, o que já se prolonga por 5 trimestres. Não por acaso, o PIB brasileiro, também vagarosamente, acompanha esse processo e claramente seu curso é de recuperação há 5 trimestres.

Um fator positivo e outro negativo marcaram o ano econômico de 2013. A recuperação do investimento — que cresceu 6,3% do “tombo” sofrido no ano anterior (-4%) — foi notável. Convém observar, no entanto, que na segunda metade do ano o curso das inversões não foi bom (queda de 2,3% no terceiro trimestre contra o trimestre anterior e pequeno acréscimo de 0,3% no último trimestre), o que pode sinalizar recuo dos investimentos no início desse ano.

Quanto ao fator negativo, este não é novo, embora pareça dar sinais de mudança. A elevação no ano como um todo das importações de bens e serviços (8,4%), em percentual muito superior ao das exportações (2,5%), mostra que o cenário externo ainda é um inibidor do crescimento. A economia mundial e o comércio global evoluem pouco e relevantes parceiros comerciais enfrentam sérios problemas, a exemplo de Argentina e Venezuela. O resultado do setor externo evidencia ainda que a competitividade da produção brasileira deixa a desejar, a despeito da mudança cambial. No entanto, o fato é que no quarto trimestre de 2013 as exportações cresceram nada menos do que 4,1%, contra queda de 0,1% das importações. Isso decorreu em parte do registro como exportação da produção doméstica de plataformas de petróleo, mas certamente refletiu outros fatores. Sintoma de que a desvalorização do Real e as reduções de custos promovidos pela política industrial começam a fazer efeito? A possível melhora do comércio exterior talvez seja o mais favorável sinal de um ano novo realmente melhor para a economia brasileira.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda