Indústria: razões e lições do baixo crescimento
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 10/02/2014

O avanço de 1,2% da produção industrial brasileira em 2013 foi o maior do último triênio. Após a grande expansão de 2010 (10,5%), em 2011, o crescimento foi baixo (0,4%) e em 2012 deu marcha à ré (-2,5%). Desta forma, no triênio como um todo, o recuo chegou a 0,9%. O principal fator que explica esta virtual estagnação foi, a nosso ver, a crise global, a qual ao estreitar o mercado mundial de bens industriais e aprofundar a concorrência dos grandes centros produtores mundiais, desnudou a baixa capacidade de competição da indústria brasileira.

A deficiente competitividade do setor manufatureiro responde, por seu turno, a uma série de fatores, entre os quais a prolongada valorização do real foi decisiva. Custos excessivos de logística, tributação, financiamento e, mais recentemente, custos salariais não compensados por correspondente aumento de produtividade, completam o quadro. Os anos de 2011 e 2012 já haviam deixado claro que os estímulos do mercado interno e os incentivos oferecidos pela política econômica à compra de bens duráveis de consumo e de capitais foram capturados em uma parcela majoritária pela produção realizada no exterior e que penetrou no país através de importações. O ano de 2013 assistiu à continuidade desse processo, talvez com intensidade algo menor, porém com o agravante de uma queda significativa das exportações de bens manufaturados.

Ou seja, além da “invasão de importações” de produtos industriais no mercado brasileiro, no ano passado a indústria perdeu exportação. Isso é evidência de que a desvalorização do real nos dois últimos anos ainda não fez efeito significativo, seja porque isto de fato leva tempo, seja porque o cenário de baixo crescimento do comércio internacional retarda a obtenção de resultados positivos.

Sem ter restaurado sua capacidade de competição relativamente à produção estrangeira, a indústria brasileira deparou-se ademais com o que parece ser o esgotamento dos efeitos de incentivos tributários, sobretudo aqueles destinados a reduzir preços de bens de duráveis. No contexto da crise mundial desencadeada em 2008 esse instrumento revelou-se muito eficaz em ampliar o consumo, mas não só isso. Repercutiu em todo o comércio e indústria porque ajudou a sustentar o otimismo de consumidores e produtores a despeito do contágio da crise. Desta feita, o efeito do incentivo para automóveis, linha branca e móveis foi de menor intensidade. Tiveram relevância no crescimento do setor de bens duráveis apenas no primeiro semestre de 2013 (+5%); na segunda metade houve retrocesso, de modo que no ano como um todo a produção do setor aumentou apenas 0,6%.

O governo também adotou incentivos de financiamento na compra de bens de capital tendo em vista estimular o investimento. A medida surtiu efeito: a produção de bens de capital teve elevação de 13,3% no ano passado. Já os setores que não contaram com incentivos, como bens intermediários e bens de consumo semiduráveis e não duráveis, tiveram pior desempenho: variação zero no primeiro caso e queda de 0,5% no segundo. O ano de 2013 acabou de forma muito desfavorável para a indústria, cuja produção recuou 0,6% em novembro com relação ao mês anterior e 3,5% em dezembro. Tal desempenho
não autoriza expectativas favoráveis de crescimento para o início de 2014.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda