Os anos de ouro do emprego
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 03/02/2014

Não foi por acaso. Um ciclo de ouro para o emprego, como ocorreu entre 2005 e 2013, teve correspondência nas políticas de redução da pobreza e redistribuição da renda com amplas repercussões sociais e econômicas. Os índices de miséria e desigualdade melhoraram muito e um “boom” de consumo formou um vetor de crescimento econômico. Nesse processo, todos os setores da economia ampliaram a contratação de mão de obra, a indústria inclusive, embora nesse caso uma parcela expressiva do aumento da demanda tenha sido suprida por importações.

O modelo de crescimento amparado no consumo associado à valorização de commodities e ao intenso ingresso de capitais do exterior levou à valorização da moeda, o que retirou competitividade do setor industrial. Foi em serviços, um segmento intensivo em mão de obra, onde as contratações mais cresceram, especialmente em empregos de baixa remuneração. Daí as elevações expressivas da população ocupada, que em média cresceram entre 2% e 3% ao ano no período. Já que a força de trabalho, ou seja, a população economicamente ativa, não acelerou, pelo contrário, desacelerou seu crescimento, o resultado foi uma contínua redução da taxa de desocupação. Em 2013 o desemprego médio foi de 5,4%, menos da metade do que fora em2004, 11,5%.

Como, por outro lado, foram adotadas medidas para aumentar o rendimento de base da economia - o salário mínimo - e a formalização do trabalho foi maior, esta rápida evolução do emprego no país traduziu-se em significativos acréscimos do rendimento real da população ocupada. A consequência disso foi o extraordinário crescimento da massa real de rendimentos que é a base sobre a qual se desenvolve o crédito. Não raro, o aumento anual da massa real de rendimentos se aproximou ou superou a marca de 6%, definindo limites muito elásticos de crescimento do poder de compra familiar. Isto realimentou o crescimento do consumo e do setor de serviços.

Para avaliar as perspectivas desse processo duas considerações devem ser feitas. Primeira, o ano de 2013 já denota mudanças no quadro acima resumido, muito embora a taxa de desocupação tenha continuado sua queda, ainda que pequena: de 5,5% em 2012 para 5,4% em 2013. O número de pessoas ocupadas, que crescia com força anteriormente (2,2% em 2012), desacelera no ano passado (0,7%), o que elevaria o desemprego da força de trabalho se o número de pessoas que procura trabalho ou está empregada não tivesse uma queda de ritmo maior. A PEA evoluiu apenas 0,6% no ano passado. Ou seja, a taxa de desocupação somente não cresceu em 2013 — mas poderá fazê-lo no corrente ano se as tendências descritas persistirem — porque o número de pessoas que procura trabalho progrediu muito pouco. Os dados referentes aos últimos meses de 2013 mostram que já são registradas quedas da ocupação na comparação com os meses finais do ano anterior, em uma indicação de que a trajetória acima delineada está ganhando intensidade.

Em segundo lugar, o rendimento médio real da população igualmente não evolui tanto quanto antes (1,8% em 2013 contra 4,1% em 2012), em parte pelos menores aumentos do salário mínimo, mas também porque o “boom” de consumo e de serviços perdeu fôlego. Isso sinaliza uma dinâmica mais contida para o consumo familiar brasileiro.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda