Nova onda de desconfiança na economia
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 27/01/2014

A divulgação das previsões do crescimento econômico mundial do FMI elevou ainda mais a desconfiança na economia brasileira. O Fundo melhorou um pouco sua projeção para a economia global em 2014, de 3,6% para 3,7%,mas reduziu a do Brasil, de 2,5% projetados em outubro de 2013 para 2,3% estimados agora. Para 2015 também indica queda: de 3,2% para 2,8%, enquanto espera o prosseguimento da recuperação da economia mundial. Esta irá cada vez melhor, enquanto o Brasil piora nesse ano, melhora em 2015, mas segue abaixo da média global.

Menor crescimento não facilita as coisas do lado fiscal e não colabora para reerguer a confiança empresarial da qual dependem em parte os investimentos. O Brasil não é o único país emergente importante com avaliação cadente no cenário mundial. Rússia, Índia, Turquia e África do Sul são economias que também não estariam em seus melhores dias.

Pior do que as avaliações vindas do exterior só mesmo as que emanam dos economistas brasileiros. Segundo o último levantamento feito pelo Banco Central, para eles o PIB terá evolução menor no corrente ano, 2%, contra 2,3% em2013. Como cabe sublinhar, tais antecipações são atinentes a um ano de eleições presidenciais, quando, via de regra, os governantes se esmeram em promover o crescimento para fins eleitorais.

O “ciclo político” é antiqüíssimo no Brasil e no mundo e somente poderá não ser adotado em toda a sua plenitude em nosso país devido à baixa ou inexistente folga fiscal e à elevada inflação o que vem levando o Banco Central a aumentar a taxa básica de juros. Juros maiores refreiam as decisões de investir, o que na ausência de um contraponto fiscal reduz o crescimento.

É sempre possível que um quadro econômico de instabilidade se agrave ainda mais. Segundo um recente levantamento da Confederação Nacional da Indústria o índice de confiança do empresário industrial caiu na passagem de dezembro para janeiro. Diz o informe: “A confiança do empresário encontra-se em baixa. Com a queda, o índice passou a registrar o menor valor desde julho de 2009, sendo desconsiderados os meses de julho e agosto de 2013 (manifestações populares)".

Do lado externo, o previsível aumento da taxa de juros longa nos Estados Unidos no decorrer deste ano e suas consequências no movimento internacional de capitais pode detonar nova rodada de depreciação do real e de desconfiança internacional na economia brasileira cujo déficit externo já não é tão baixo.

Mas, mesmo não estando no radar, não pode ser descartada à priori uma melhora no crescimento da economia, desde que a desconfiança internacional na economia não se aprofunde. Não devemos esquecer que muito da perda de ritmo da economia decorreu da crise industrial aberta como consequência da ruptura da economia mundial em 2008 e dos retrocessos em nossa competitividade provocados pela valorização cambial prolongada, baixa produtividade e aumentos de custos.

Contudo, estão ocorrendo mudanças. A desvalorização da moeda, a política de financiamentos a baixas taxas para modernização industrial e ações para reduzir custos industriais podem surtir efeito em 2014 e assim ajudar a remover ao menos parcialmente o efeito recessivo da indústria e reativar o crescimento.

 


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda