Padrões do comércio varejista em 2013
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 20/01/2014

O que parecia ser uma desaceleração muito intensa das vendas reais do varejo brasileiro em 2013 acabou se revelando uma queda significativa de ritmo da atividade do setor, porém bem mais amena do que era previsto no primeiro semestre do ano. Nesse período as vendas em volume superaram as do mesmo período do ano anterior em somente 3%,um índice muito menor do que aquele como qual o setor se habituara ao longo de quase uma década, vale dizer, algo em torno a 8%a 9%.

Em 2012, o setor crescera 8,4%. Uma reativação no segundo semestre em parte compensou tão pronunciada desaceleração, de modo que as vendas acumuladas em 2013 até novembro aumentaram 4,3%, percentual que pode vir a ser a base para a trajetória das vendas do comércio.

A nova referência corresponde a cerca de metade da anterior, mas ainda assim é representativa de um dinamismo bastante razoável do consumo de bens por parte das famílias brasileiras. Isso significa dizer que se por um lado pode ter ficado para trás o “crescimento chinês” que caracterizava o varejo nacional, o padrão que o sucede está longe de ser ruim. Em função disso, não será por uma aguda retração do consumo que a economia brasileira persistirá no percurso de baixo crescimento que vem trilhando nos últimos três anos. O mais baixo nível de elevação das vendas varejistas é explicado pelo menor crescimento do emprego e do rendimento médio da população ocupada e por limitações na evolução do crédito, que não se apresentavam no passado.

O segmento que mais alternância de rotas teve no ano passado foi o de maior peso no varejo: alimentos e bebidas, que passa de uma evolução média de 8,5% em 2012 para 1,9% em 2013 até novembro, obedecendo ao mais modesto crescimento da massa de rendimentos da população e também à alta inflação de alimentos, que no início do ano passado desbalanceou os orçamentos especialmente das famílias de renda mais baixa, o que limitou seu poder de compra. No primeiro semestre, este setor teve aumento próximo a zero. Outros setores também vivenciaram desaceleração, embora não tão intensa. “Móveis e eletrodomésticos” contaram com incentivos do governo não evitando, contudo, que a variação das vendas reais em 2013, de quase 6%, representasse metade do seu correspondente no ano anterior. Em “livros, jornais, revistas e papelaria” e no ramo de “veículos, motos, partes e peças” pertencente ao “comercio varejista ampliado”, também foram registradas menores taxas de crescimento. Nesse último caso, as reduções de impostos autorizadas pelo governo tornaram possível um crescimento positivo das vendas, 1,5% até novembro, porém muito menor do que em 2012 (7,3%), o que sugere ter perdido eficácia o instrumento fiscal.

Em razão de preços favoráveis (caso de combustíveis) ou porque os itens demandados são produtos novos na cesta de consumo da população de menor renda, em seis outros segmentos não houve desaceleração de vendas, mantendo-se aproximadamente imutável o padrão de 2012. Foram os casos de “combustíveis e lubrificantes”, “tecidos, vestuário e calçados”, “artigos farmacêuticos, médicos, de perfumaria e cosméticos”, “equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicações”, “outros artigos de uso pessoal e doméstico” e “material de construção”.

 


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda