Produção e comércio exterior da indústria
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 06/01/2014

Recente estudo do IEDI agrega a produção e o comércio exterior da indústria de transformação segundo a intensidade tecnológica. Medida pelo acumulado dos três primeiros trimestres, a produção da indústria evoluiu em 2010 tanto quanto caíra no ano da crise mundial de 2009. Foi um pouco além em 2011 para recuar no ano seguinte e voltar a ter um modesto crescimento em2013. Deu ma ponta a outro do período, entre 2008 e 2013, antes e depois da crise mundial, rigorosamente não saiu do lugar, a despeito da evolução média anual do PIB próxima a2%ao ano.

Do lado do comércio exterior, houve uma verdadeira reviravolta: de uma situação de virtual equilíbrio antes da crise, o déficit de bens industriais chega a US$ 49,4 bilhões nos três primeiros trimestres de 2013. Para a indústria esse foi o rastro deixado pela crise internacional: estagnação da produção e explosão do desequilíbrio externo.

A crise e o estreitamento dramático por ela provocado nos mercados de bens industriais ao redor do mundo tornaram claro que a economia brasileira e, em particular, seu setor industrial, se distanciara de padrões internacionais de competitividade devido a distorções prolongadas no câmbio, na produtividade e em custos sistêmicos. Isso foi reduzindo a condição exportadora, ao mesmo tempo em que o produto importado facilmente penetrava no mercado brasileiro.

A desorganização das cadeias de produção e as incertezas sobre até onde iria a redivisão dos mercados de bens industriais detidos por empresas brasileiras paralisou novas decisões de investir por parte do empresário industrial, minando a capacidade da indústria em adequar a oferta interna de bens ao consumo crescente e retardou a superação das desvantagens de competição do produto nacional.

Há sinais de mudança: os investimentos em infraestrutura estão aumentando como programa de concessões, o câmbio tem se tornado mais competitivo, a produtividade industrial e os investimentos em modernização e automação industrial estão aumentando. Um período relativamente longo, no entanto, ainda será necessário para que a indústria recomponha padrões de competição como produto estrangeiro.

Os setores de alta e média-alta tecnologia foram os que mais vivenciaram as condições difíceis no pós-crise mundial. Graças ao setor aeronáutico, o primeiro teve um pequeno aumento de produção, mas, de resto, esbarrou nas mesmas dificuldades gerais da indústria quanto à exportação e à concorrência do produto importado, especialmente nos casos da indústria farmacêutica, informática, indústria eletrônica e de comunicações. Assistiu seu costumeiro déficit comercial subir de US$ 16,7 bilhões para US$ 24,6 bilhões.

A indústria de média-alta tecnologia foi a que mais sofreu a concorrência do importado e onde o governo mais interveio em termos de proteção e incentivos fiscais. Isso permitiu que o setor registrasse apenas um pequeno revés de sua produção com relação ao período pré-crise, mas não evitou uma enorme progressão do déficit comercial, que sai de US$24,5 bilhões para US$ 46,3 bilhões.

É neste segmento que se encontram os mais cobiçados setores da indústria devido ao dinamismo do mercado interno, a começar por veículos, passando por bens de capital, indústria química e equipamentos elétricos.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda