As duas tendências do emprego no Brasil
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 30/12/2013

O ano de 2013 pode ser considerado excepcional para o emprego urbano se a avaliação é apoiada na taxa de desocupação – a relação entre o número de desocupados e o número total de pessoas que procuram emprego ou já estão empregadas, ou seja, a população economicamente ativa. Os resultados das últimas pesquisas não deixam margem a dúvidas. Em novembro a taxa de desocupação nas principais regiões metropolitanas, de 4,6%, foi a menor que já se tem notícia. A média do ano até novembro, 5,5%, também não tem paralelo nos últimos 11 anos.

Na comparação como ano passado, o avanço é patente: em novembro de 2012 a desocupação correspondia a 4,9% da PEA, enquanto a média de janeiro a novembro chegava a 5,8%. São conhecidos os relatos de falta de trabalhadores em certas regiões do país e escassez de mão de obra qualificada, o que afeta e encarece a produção de bens e serviços. Portanto, segundo a principal medida das condições do mercado de trabalho, a taxa de desemprego, o panorama brasileiro é muito favorável.

A análise pode seguir outra orientação que torna o tema não tão positivo. A redução da taxa de desemprego vinha ocorrendo com crescimentos pronunciados tanto no número de pessoas ocupadas como no número de pessoas dispostas a trabalhar (PEA), com variação superior no primeiro caso. Mas já não é mais assim. As taxas de desocupação ainda mostram queda. Esse comportamento se dá a despeito da redução do número de pessoas ocupadas. É que esta redução vem sendo contrabalançada por recuo ainda maior da PEA. Estão nesses dois pontos os delineamentos centrais sobre como deverá evoluir o mercado de trabalho daqui para frente. O que fez com que a ocupação, que crescia a taxas superiores a 2% até a entrada deste ano, tenha declinado paulatinamente até recuar 1% em novembro último? Oque fez com que a evolução da PEA se tornasse tão baixa ou mesmo negativa como foi em novembro (-1%), enquanto até o início de 2013 crescia por volta de 1,5%?

Indústria e construção vêm despedindo pessoal e, juntamente com o emprego doméstico, são os segmentos que explicam a queda na ocupação. Pode ser estrutural a causa que leva às demissões na indústria, como reflexo do progresso técnico e da automação nesse setor. No caso de construção, o processo tem dimensão cíclica e em algum momento será revertido. Tão ou mais relevante é analisar os segmentos do comércio e serviços, os quais comandavam o aumento do emprego urbano como um todo. Essa capacidade de liderança do setor de serviços foi perdendo força em 2013, de modo que o emprego aí gerado não mais foi capaz de contrabalançar eventuais reveses em outros setores importantes. Por seu turno, a etapa de menor capacidade de geração de ocupações por serviços corresponde à gradativa perda de ritmo do ciclo de consumo que vinha comandando o crescimento da economia brasileira.

Quanto à PEA, a influência de fatores demográficos – menor taxa de natalidade – é relevante, mas fatores sociais também estão presentes. Como aumentou o rendimento médio, as famílias puderam planejar com maior autonomia a inserção de seus membros no mercado de trabalho. Maior dedicação ao estudo técnico e superior tem o efeito de reduzir a PEA, mas, pelo menos em parte, isto pode ser passageiro. Em nossa avaliação a taxa de desocupação poderá aumentar em 2014.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda