A Carta IEDI
de hoje faz uma resenha de dois trabalhos recentes de pesquisadores
do Institute for Manufacturing, da Universidade de Cambridge
(“International approaches to understanding the future
of manufacturing” de Eoin O’Sullivan & Nicola
Mitchell e “What is new in the new industrial policy?
A manufacturing systems perspective” de O'Sullivan,
Antonio Andreoni, Carlos López-Gómez e Mike Gregory)
mostram que a evolução da política industrial
dos países nos últimos vinte anos tem sido em boa
medida pautada pelas mudanças do sistema da indústria
de transformação globais, relacionadas à
operação mundial das cadeias de valor globais. Estas
induziram a evolução das estruturas das indústrias
multinacionais em termos de locação, governança
e propriedade da produção.
Em termos
concretos, nos últimos 40 anos o comércio de bens
intermediários cresceu dez vezes e hoje já corresponde
a mais da metade do fluxo mundial de comércio, sendo que
os países em desenvolvimento, principalmente asiáticos,
ampliaram consideravelmente sua parcela no comércio internacional,
inclusive de bens de média e alta tecnologia. Além
disso, as economias em desenvolvimento têm absorvido cerca
da metade dos fluxos internacionais de IED (investimento estrangeiro
direto).
Daqui pra
frente a expectativa é que as tendências de mercado,
técnicas e de modelos de negócios revolucionem as
estruturas globais da indústria e coloquem novas fontes
de vantagens competitivas nacionais, o que trás desafios
e oportunidades para as firmas e governos. Do lado do mercado,
os principais fatores de propulsão estarão relacionados
à maior individualização dos produtos e da
demanda da classe média emergente do mundo. Do ponto de
vista da oferta, os empurrões tecnológicos mais
fundamentais serão correlatos à grande redução
nas escalas de tempo da produção da indústria
de transformação, os avanços na nanotecnologia
e biotecnologia, novos materiais e novas tecnologias de produção.
E os modelos de negócios e organizacionais mais importantes
serão àqueles associados às redefinições
nas estruturas das cadeias de valor globais e na forma como as
firmas atingem seus consumidores, desenvolvem e vendem seus produtos.
As abordagens
e dimensões analisados pelos autores sobre o "futuro"
da indústria de transformação que são
úteis para formulação de política
industrial podem ser resumidos em 10 itens.
1)
adoção de uma noção mais moderna de
indústria de transformação em torno do conceito
de ecossistema.
2)
os objetivos principais nas políticas industriais dos países
avançados são: desenvolvimento de processos e tecnologia,
sistemas industriais e conceitos de empresa inteligentes, avanços
nas pesquisa das ciências e engenharias, produtos avançados.
3)
distinguir as empresas domésticas nas políticas
industriais (tamanho, tipo de produto/ serviços gerado,
papel na cadeia de valor) - considerando a crescente intersecção
entre os setores nas cadeias de valor globais
4)
reconhecimento das vantagens de se ter produção
e inovação próximas espacialmente.
5)
identificação das tecnologias novas e de alta prioridade,
bem como os campos de pesquisa do futuro - por exemplo, indústria
de transformação sustentável, tecnologias
de produção e fabricação ecológica,
simulação e modelagem, indústria de transformação
aditiva, redes de produção responsivas.
6)
a importância das parcerias público-privadas (PPP)
para endereçar alguns dos desafios em inovação
da indústria.
7)
promover a internacionalização de padrões
tecnológicos domésticos como meio de vantagem competitiva.
8)
participar da comunidade da indústria da transformação,
sejam conferências, reuniões organizadas por stakeholders,
discussões coletivas com diversas comunidades, participação
em feiras e ventos de negócios, etc.
9)
incentivar sempre a Ciência & Tecnologia nos diversos
setores, posto que a pesquisa de qualidade e inovação
efetiva estão na raiz do sucesso da indústria -
especialmente quando se pretende aprofundar a criação
de valor dos produtos e serviços.
10)
proporcionar condições para a indústria de
transformação solucionar desafios sociais futuros,
por exemplo, em cuidados da saúde, mobilidade, mudança
climática e sustentabilidade.
Para o Brasil,
é fundamental estar a par do debate da política
industrial, tanto para repensarmos a nossa política a partir
de uma visão atualizada da indústria de transformação,
quanto para se ter noção sobre a concorrência
potencial que as medidas de política industrial podem exercer
sobre os negócios brasileiros. O planejamento público
e privado precisam se valer do conhecimento mais atualizado para
desenhar as estratégias de futuro, daí a importância
de se acompanhar como as grandes nações industriais
desenvolvidas estão evoluindo no campo da teoria e da práxis,
considerando os desafios particulares que enfrentam em suas economias
de altos salários.
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