27 de dezembro de 2013

Indústria
O futuro da indústria e a política industrial


  

 
A Carta IEDI de hoje faz uma resenha de dois trabalhos recentes de pesquisadores do Institute for Manufacturing, da Universidade de Cambridge (“International approaches to understanding the future of manufacturing” de Eoin O’Sullivan & Nicola Mitchell e “What is new in the new industrial policy? A manufacturing systems perspective” de O'Sullivan, Antonio Andreoni, Carlos López-Gómez e Mike Gregory) mostram que a evolução da política industrial dos países nos últimos vinte anos tem sido em boa medida pautada pelas mudanças do sistema da indústria de transformação globais, relacionadas à operação mundial das cadeias de valor globais. Estas induziram a evolução das estruturas das indústrias multinacionais em termos de locação, governança e propriedade da produção.

Em termos concretos, nos últimos 40 anos o comércio de bens intermediários cresceu dez vezes e hoje já corresponde a mais da metade do fluxo mundial de comércio, sendo que os países em desenvolvimento, principalmente asiáticos, ampliaram consideravelmente sua parcela no comércio internacional, inclusive de bens de média e alta tecnologia. Além disso, as economias em desenvolvimento têm absorvido cerca da metade dos fluxos internacionais de IED (investimento estrangeiro direto).

Daqui pra frente a expectativa é que as tendências de mercado, técnicas e de modelos de negócios revolucionem as estruturas globais da indústria e coloquem novas fontes de vantagens competitivas nacionais, o que trás desafios e oportunidades para as firmas e governos. Do lado do mercado, os principais fatores de propulsão estarão relacionados à maior individualização dos produtos e da demanda da classe média emergente do mundo. Do ponto de vista da oferta, os empurrões tecnológicos mais fundamentais serão correlatos à grande redução nas escalas de tempo da produção da indústria de transformação, os avanços na nanotecnologia e biotecnologia, novos materiais e novas tecnologias de produção. E os modelos de negócios e organizacionais mais importantes serão àqueles associados às redefinições nas estruturas das cadeias de valor globais e na forma como as firmas atingem seus consumidores, desenvolvem e vendem seus produtos.

As abordagens e dimensões analisados pelos autores sobre o "futuro" da indústria de transformação que são úteis para formulação de política industrial podem ser resumidos em 10 itens.

1) adoção de uma noção mais moderna de indústria de transformação em torno do conceito de ecossistema.

2) os objetivos principais nas políticas industriais dos países avançados são: desenvolvimento de processos e tecnologia, sistemas industriais e conceitos de empresa inteligentes, avanços nas pesquisa das ciências e engenharias, produtos avançados.

3) distinguir as empresas domésticas nas políticas industriais (tamanho, tipo de produto/ serviços gerado, papel na cadeia de valor) - considerando a crescente intersecção entre os setores nas cadeias de valor globais

4) reconhecimento das vantagens de se ter produção e inovação próximas espacialmente.

5) identificação das tecnologias novas e de alta prioridade, bem como os campos de pesquisa do futuro - por exemplo, indústria de transformação sustentável, tecnologias de produção e fabricação ecológica, simulação e modelagem, indústria de transformação aditiva, redes de produção responsivas.

6) a importância das parcerias público-privadas (PPP) para endereçar alguns dos desafios em inovação da indústria.

7) promover a internacionalização de padrões tecnológicos domésticos como meio de vantagem competitiva.

8) participar da comunidade da indústria da transformação, sejam conferências, reuniões organizadas por stakeholders, discussões coletivas com diversas comunidades, participação em feiras e ventos de negócios, etc.

9) incentivar sempre a Ciência & Tecnologia nos diversos setores, posto que a pesquisa de qualidade e inovação efetiva estão na raiz do sucesso da indústria - especialmente quando se pretende aprofundar a criação de valor dos produtos e serviços.

10) proporcionar condições para a indústria de transformação solucionar desafios sociais futuros, por exemplo, em cuidados da saúde, mobilidade, mudança climática e sustentabilidade.

Para o Brasil, é fundamental estar a par do debate da política industrial, tanto para repensarmos a nossa política a partir de uma visão atualizada da indústria de transformação, quanto para se ter noção sobre a concorrência potencial que as medidas de política industrial podem exercer sobre os negócios brasileiros. O planejamento público e privado precisam se valer do conhecimento mais atualizado para desenhar as estratégias de futuro, daí a importância de se acompanhar como as grandes nações industriais desenvolvidas estão evoluindo no campo da teoria e da práxis, considerando os desafios particulares que enfrentam em suas economias de altos salários.
 

 

 
Em especial, no âmbito do tema 5) sobre prioridades estratégicas, segundo os autores do relatório os estudos internacionais priorizam os seguintes domínios da pesquisa e das políticas industriais: indústria de transformação sustentável, tecnologias de produção e fabricação ecológica, simulação e modelagem, indústria de transformação aditiva, redes de produção responsivas. Tais domínios, necessariamente, envolvem agentes e instituições prioritários para a operação das políticas, a saber, parcerias público-privadas, as pequenas e médias empresas industriais, o papel dos padrões no apoio à competitividade industrial, desafios futuros de clusters de indústrias de transformação regionais, a força de trabalho da indústria no futuro.

 

 

 

 

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