O lado bom dos resultados do comércio e da indústria
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 16/12/2013

Resumidamente, o lado favorável dos últimos resultados do comércio e da indústria está, no primeiro caso, em um nível de crescimento real das vendas bem razoável frente a expectativas negativas formadas no primeiro semestre; do lado da indústria, o lado bom de 2013 reside no aumento da produtividade, ainda incipiente e obtido de forma não inteiramente adequada, mas que, de qualquer forma, contribui para uma melhor capacidade da indústria competir com o produto estrangeiro no mercado doméstico e nos mercados de exportação.

Nos dez primeiros meses de 2013 o crescimento das vendas do varejo restrito alcançou 4% e, como a trajetória é de evolução a cada mês, é possível que chegue a 4,5% no fim do ano. Frente à evolução “chinesa” de 2012 (8,4%), esta expectativa torna muito mais modesto o crescimento do setor, mas deve ser levado em conta que em poucos países da atualidade se assiste a uma progressão como esta do padrão de consumo de bens por parte das famílias. Ou seja, dependendo de confirmação dos resultados para 2013, teremos um novo patamar de vendas, significativamente menor do que fora por quase uma década, mas ainda assim favorável. Desta forma, do lado do consumo poderemos contar com um impulso razoável para o aumento do PIB em 2014, o que poderá contrabalançar possível refreamento do investimento privado nesse ano eleitoral e sujeito a incertezas internas e externas.

Este quadro moderadamente positivo para o varejo não prevaleceu em boa parte do ano. Até junho, o crescimento das vendas desacelerava significativamente, fechando o semestre com baixa variação, 3%, o que em grande medida repercutiu o efeito da alta inflação de alimentos sobre os orçamentos das famílias de baixa e média-baixa renda. A título de exemplo, o segmento de alimentos e bebidas, o de maior peso no conjunto do varejo, teve variação nula em suas vendas reais no período janeiro/abril deste ano e acréscimo de apenas 0,3% no primeiro semestre. Com a menor inflação, este setor voltou a crescer, o mesmo ocorrendo com outros ramos, notadamente móveis e eletrodomésticos, equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação e outros artigos de uso pessoal (com destaque para lojas de departamento), em parte respondendo a incentivos concedidos pelo governo. Onde os benefícios fiscais tiveram o significado de tão somente neutralizar um resultado ainda pior foi em veículos, motos, partes e peças, cuja progressão no ano até outubro não passou de 1,3%. Cabe notar ainda o impulso do setor de material de construção (+7,2%), reproduzindo a forte expansão que se repete pelo sexto ano consecutivo se excluirmos o ano da crise global de 2009.

Não está no desempenho o destaque da indústria em 2013, pois até outubro o aumento da produção foi pequeno (1,6%) e sequer compensou a retração de 2012 (-2,6%). Mas, os meses finais do ano parecem ter reservado algumas tendências positivas. O crescimento, embora baixo, é mais regular e envolve um maior número de ramos. O setor pode também estar se aparelhando para uma maior capacidade de concorrer. A produtividade cresceu 2,6%, o que é um avanço tendo em vista declínios nos anos anteriores. Poderá crescer muito mais e melhor se os investimentos em inovação e modernização acelerarem como retorno do crescimento.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda