Um retrato da economia no pós-crise
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 09/12/2013

Os dados do PIB brasileiro divulgados pelo IBGE confirmam o que já era esperado para o terceiro trimestre: houve retração frente ao segundo trimestre em um percentual superior ao projetado, 0,5%. A queda refletiu recuos expressivos no investimento e nas exportações. No primeiro caso, o tombo de 2,2% foi consequência da piora da confiança empresarial no desempenho da economia e na situação fiscal. Contribuíram para isso as manifestações de junho, mas também as análises muito pessimistas das contas fiscais por agências de rating e consultorias.

No segundo, houve redução de 1,4%, denotando que a despeito das desvalorizações do real e de medidas adotadas pelo governo, a competitividade da indústria por enquanto ainda não se recompôs para fazer frente a um quadro internacional de forte concorrência por mercados. Convém notar que o consumo familiar teve maior evolução (1%) após dois trimestres ruins, mas não ao ponto de compensar os resultados adversos no investimento e nas exportações.

O terceiro trimestre deste ano também não foi favorável do ponto de vista setorial, pois vários segmentos voltaram a recuar após períodos de expansão. Isso ocorreu coma indústria (variação negativa de 0,4%, contra acréscimos de 1,1% e 2,1% nos dois trimestres anteriores) e também com a agropecuária, construção e comércio.

Os últimos dados do PIB permitem ainda uma sugestiva comparação: entre o terceiro trimestre de 2008 e o terceiro trimestre do corrente ano são transcorridos exatos cinco anos desde a ruptura financeira global de setembro de 2008. Qual foi o desenho da economia brasileira nesse período? A economia cresceu relativamente pouco “ponta a ponta” nesse período, ou seja, 10,9% ou uma média anual de 2,1%. Vale dizer, a crise mundial teve não só efeitos imediatos negativos sobre o Brasil, mas concorreu para deixar um rastro de baixo crescimento.

Quem despontou nesse processo? Do lado da demanda, o consumo familiar aumentou em quase duas vezes (20,8%) o crescimento do PIB. Grande destaque também para as importações (+39,6%) contrastando enormemente com o progresso das exportações (4,9%). Apenas modesto foi o crescimento do investimento, 13,5%. Resultou uma economia de baixo investimento, alto consumo, fortemente importadora e pouquissimamente exportadora, delineamentos muito pouco sólidos tendo em vista uma trajetória desejada de crescimento econômico a longo prazo.

Não por acaso, nessa economia de baixo nível de inversão e de exportação a indústria tem pouca ou mesmo negativa expressão, em particular a indústria de transformação que perdeu muito de sua competitividade diante do produto importado e mais recentemente em mercados de exportação. Nesse caso, houve involução de 2,5%, contra ligeiro aumento da indústria total (2,7%), em função do dinamismo da indústria de construção.

Também não por acaso, o destaque setorial foi o setor de serviços (crescimento de 12,7%), especialmente em dois de seus segmentos: o moderno setor de serviços de informação (18,2%) e a intermediação financeira e seguros (21,2%) que acompanhou a evolução do crédito e a maior “bancarização” da população brasileira.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda