Há ou não há melhora no emprego no Brasil?
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 25/11/2013

A situação do mercado de trabalho urbano brasileiro parece paradoxal: há progressiva perda de ritmo da ocupação avaliada pelo número de pessoas ocupadas, mas nem assim a taxa de desocupação — a relação entre o número de pessoas desocupadas e o número de pessoas no mercado de trabalho, a PEA — mostra sinais de deterioração. A última pesquisa do IBGE, que cobre as principais regiões metropolitanas, registrou taxa de desocupação de 5,2% em outubro, pouco abaixo da de setembro (5,4%) e levemente menor do que a taxa de outubro de 2012 (5,3%).

Não deve haver dúvida de que a taxa de desemprego é o indicador que melhor avalia as condições do mercado de trabalho e, nesse sentido, a conclusão de qualquer análise a respeito do emprego no Brasil não pode ser outra senão a de que há de fato uma progressiva melhora, muito embora vão se tornando cada vez mais evidentes os sinais de mudança na outra direção.

Por exemplo, a mesma pesquisa mostrou que no mês passado pela primeira vez desde outubro de 2009, portanto, quatro anos depois, foi apurada uma redução no número de pessoas ocupadas, de 0,4% com relação ao mesmo mês do ano anterior. O retrocesso de 2009 tem explicação em um fato da maior envergadura: ainda transcorriam os efeitos dos desdobramentos sobre a economia da grande crise mundial de 2008. Agora a causa principal do recuo não reside em um fator exógeno. É, sim, contrapartida de uma lenta, porém visível perda de capacidade da economia brasileira em gerar os empregos que antes gerava. Este processo somente não levou a uma interrupção do declínio da taxa de desocupação porque a fração da população que se apresenta ao mercado de trabalho em busca de emprego vem caindo em magnitude ainda maior. Assim, em outubro frente outubro do ano passado, a população economicamente ativa teve redução de 0,5%.

Como cabe observar, uma moderação na demanda de trabalho era desejo de muitos dos analistas da cena econômica que identificavam nos gargalos de mão de obra, especialmente de mão de obra qualificada, uma fonte relevante de pressões inflacionárias já que causavam limitações importantes ao aumento da oferta de bens e serviços na economia. Se por este ângulo a referida moderação do mercado de trabalho serve para amortecer pressões sobre os preços, particularmente no setor de serviços, coloca à frente algumas preocupações. Uma delas é que já se forma um contingente de desocupados entre os trabalhadores sem carteira de trabalho assinada. Entre os ocupados com carteira, o emprego ainda cresce (2,4% em outubro),mas sem conseguir compensar a redução do número de pessoas ocupadas sem carteira (-12,5% no mesmo mês). Ou seja, já há um desemprego aberto na população de mais baixa qualificação e com menor proteção social.

Também preocupa o dinamismo em alguns setores relevantes na geração de empregos de qualidade. Na indústria, desde março os resultados adversos se repetem, registrando queda de 2,4% em outubro. A magnitude e o prolongamento do processo neste caso podem estar indicando o início de uma fase nova em que, como resultado de uma maior automação, o setor permaneça por prolongado período de tempo sem aumentar ou elevando pouco seu efetivo de mão de obra.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda