Maior déficit da indústria: causas e consequências
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 04/11/2013

O estudo é do IEDI e procura analisar o comércio exterior de bens produzidos pela indústria de transformação, seguindo uma classificação da OCDE. O trabalho registra um déficit recorde para o período de janeiro a setembro de 2013 de US$ 49,4 bilhões, o que sugere que o ano como um todo irá ter resultado negativo de US$ 65 bilhões, com quase 30% de aumento com relação a 2012. Como cabe notar, o déficit aumentou fortemente mesmo em um contexto de baixo crescimento econômico.

As importações maiores e exportações menores de derivados do petróleo explicam em parte o maior déficit que, convém sublinhar, refere-se a bens da indústria de transformação (excluindo petróleo bruto e outros bens da indústria extrativa mineral). Todavia, mais importante foi o que ocorreu no comércio de outros bens industriais.

Assim, por exemplo, 84% do aumento do déficit podem ser explicados pelos segmentos de alta e média alta tecnologia, onde as importações evoluíram 7,7% e as exportações caíram 3,7%, a despeito de uma grande recuperação das vendas de automóveis ao exterior (8,5%). Esses números sugerem que a baixa competitividade da indústria brasileira continua imutável a despeito de ações da política industrial e do melhor nível da taxa de câmbio, talvez porque o tempo ainda seja curto para que as mudanças se traduzam em resultados.

Sugerem ainda que, nestas condições, o produto importado continua absorvendo o mercado da produção nacional, o que agora se conjuga com perdas de mercados externos de nossas exportações. É claro que em ambos os casos o baixo crescimento da economia global e a situação econômica pior de nossos parceiros regionais (grandes consumidores de produtos industriais brasileiros) têm importância decisiva ao lado de nossa precária capacidade de concorrência.

Quais as consequências da piora do resultado de produtos industriais? As repercussões são muito negativas porque o momento do comércio exterior dos segmentos não industriais se não é de todo desfavorável, já não tem a mesma capacidade de antes de absorver maiores desequilíbrios de bens da indústria. Em 2013, repetindo 2012, o saldo comercial de bens primários para períodos de janeiro a setembro declinou (-6,8% e -12,5%, respectivamente), não tendo, portanto, o mesmo poder dos anos anteriores de transformar déficits industriais em superávits na balança comercial agregada.

O cenário atual do setor primário combina problemas na conta petróleo (inclusive o registro de importações nesse ano de compras realizadas no ano passado) e preços não tão favoráveis de commodities agrícolas e minerais exportadas pelo Brasil. Daí que o saldo desses produtos, que em2012 ainda superava em US$ 15,7 bilhões o déficit de bens industriais, em 2013 perdeu essa condição, de forma que o resultado global do comércio exterior ficou negativo (em US$ 1,8 bilhões) pela primeira vez desde 1999.

Para um país como o Brasil que em sua conta como exterior tem pesados déficits com remessas de lucros e dividendos, pagamentos de juros e viagens internacionais e unicamente tem superávit em suas commodities primárias, o déficit crescente em bens industriais se revela como o mais destacado fator de agravamento de seu desequilíbrio externo que já é preocupante.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda