Emprego e massa de rendimento em 2013
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 28/10/2013

A última pesquisa sobre o emprego urbano do IBGE não deixa dúvidas sobre as novidades que o ano de 2013 está trazendo. São modificações não apenas conjunturais. Algumas delas têm repercussões positivas, mas também consequências negativas que poderão aparecer em sua plenitude no ano que vem. Primeiramente, cabe sublinhar a moderação dos aumentos dos rendimentos reais médios da populaçã oocupada. Em setembro último com relação a setembro do ano passado a elevação foi de 1,3%, e, no acumulado dos nove primeiros meses do ano, de 1,6%. São muito inferiores à taxa de 4,1% do ano como um todo de 2012. Tal moderação deve estar relacionada a uma etapa mais branda do ciclo de serviços, que pode arrefecer a forte inflação de serviços que ainda se faz presente na economia brasileira.

Em segundo lugar, podemos estar chegando a um nível mínimo de taxa de desocupação urbana no país, significando isso que a curto prazo a taxa de desemprego poderá voltar a crescer após vários anos de declínio. Efetivamente, a taxa referente a setembro, de 5,4%, é a mesma registrada há um ano, assim como o nível de desocupação no acumulado do corrente ano (5,6%) é muito próximo ao seu correspondente de 2012 (5,7%). Convém ressaltar que o processo somente não se desenvolve mais rapidamente porque a PEA, ou seja, a população economicamente ativa, que corresponde à oferta de trabalho, vem tendo desaceleração ainda maior do que a perda de ritmo com que crescem as novas ocupações. A população brasileira cresce menos e as famílias têm melhores condições financeiras para planejar o ingresso de seus membros no mercado de trabalho, daí o aumento menor da PEA. Esta, em setembro cresceu apenas 0,7% relativamente a setembro do ano passado, enquanto o número de pessoas ocupadas evoluía 0,9%. Para se ter uma ideia do que está ocorrendo de novo nessa área em 2013, basta observar que no conjunto do ano anterior a PEA teve ampliação de 1,7% e a ocupação, 2,2%.

Uma terceira mudança combina o avanço mais modesto do rendimento real com a desaceleração do crescimento do emprego, resultando em expansão relativamente baixa da massa real de rendimentos do trabalho. Em setembro, em uma clara indicação de perda de ritmo, a massa de rendimentos aumentou 2,2% frente ao mesmo mês do ano passado, enquanto no acumulado do ano a elevação chega a 2,8%. Se compararmos esses índices com a taxa referente a 2012, 6,2%, teremos a exata dimensão de quanto enfraqueceu o desempenho de 2013. Como a massa de rendimentos é a base do mercado interno consumidor, em especial para os segmentos menos dependentes de vendas a prazo, a conclusão é que o mercado consumidor brasileiro deve agora progredir bem menos do que crescia até o ano passado. Esse padrão pode se prolongar pelo período em que a economia mantiver seu baixo crescimento e o crédito não retornar a taxas mais significativas.

Por fim, está cada vez mais claro que a piora relativa da ocupação urbana ocorre entre os empregados sem carteira de trabalho, cujo número caiu 11,3% em setembro em comparação com um ano atrás. Cabe notar que entre os empregados com carteira assinada o emprego ainda evolui em percentual razoável (2,5%). Isso ocorre, certamente, pelo menor ônus de desempregar associado ao trabalho informal, que em média é também inferior em qualificação e remuneração.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda