Indústria: uma perspectiva de crescimento menor
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 07/10/2013

Na série com dados dessazonalizados, a produção industrial brasileira teve variação nula em agosto frente a julho,mês francamente negativo (-2,4%). Os destaques positivos foram bens de capital, com melhora acentuada (2,6% sobre julho, contra redução de 4,7% em junho) e bens intermediários, com avanço de 0,6% após três meses de recuo. Do outro lado, bens de consumo duráveis com elevação de 0,2% em agosto ficou longe de reverter o revés de julho (-7,4%) e bens de consumo semiduráveis e não duráveis voltou a ter queda (-0,3% em agosto e -1,8% em julho).

Retirada de incentivos na compra de bens duráveis, exportação em má fase, importações que ainda pressionam a produção doméstica apesar da desvalorização do real e menor ritmo do crédito e da massa real de rendimentos, são os fatores de base para a adversidade em bens de consumo.

A concorrência do importado pode estar afetando também a produção doméstica de bens intermediários. Nesse segmento, a produção virtualmente estagnada (0,1%) nos oito primeiros meses de 2013 constitui a indicação mais geral e direta possível do baixo dinamismo industrial que vem caracterizando o corrente ano. Como se sabe, o setor de bens intermediários tem o maior peso na indústria e resume e reflete as relações interindustriais.

Já o momento favorável em bens de capital,que parece ser generalizado entre os seus ramos, é indicativo de que há de fato uma retomada dos investimentos na economia. No acumulado do ano o aumento de 13,5% mais do que compensa o tombo do ano passado (-11,8%), sugerindo que os estímulos ao investimento adotados pelo governo a partir de medidas fiscais (depreciação acelerada) e, sobretudo, de incentivo do financiamento ao investimento (programas do BNDES com juros subsidiados, como o PSI) surtiram o efeito desejado. Sem isso a recessão industrial de 2012 poderia ter tido continuidade em 2013.

Cabem ainda dois outros comentários. Primeiramente, um período como janeiro a agosto já é suficientemente longo para identificar o padrão industrial no ano como um todo. A evolução da produção industrial de somente 1,5% nesse período sugere que, com alguma dose de otimismo e considerando que o investimento e a produção interna de bens de capital sigam evoluindo no restante do ano no compasso dos oito primeiros meses, a indústria poderá ter progressão de 2% em 2013, um índice que nem sequer devolverá o recuo de 2,6% de 2012. Nossa anterior perspectiva era de crescimento de 2,5%.

Uma rápida análise dos ramos industriais também autoriza cautela na projeção deste ano: 14 dos 27 ramos registram maior produção no período janeiro-agosto de 2013, mas número praticamente equivalente de setores, ou seja, 13, ainda tem queda. Todo o complexo industrial constituído pelas indústrias consideradas tradicionais, com exceção de calçados, está nesta última condição, a exemplo de alimentos, bebidas, têxtil e vestuário.

Outros casos de declínio incluem a indústria farmacêutica, a indústria extrativa, a metalurgia básica, edição, impressão e reprodução de gravações e o segmento de máquinas para escritório e equipamentos de informática. O ramo de maior crescimento foi o que mais recebeu incentivos do governo, a indústria automobilística.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda