Emprego e renda: as mudanças em curso
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 30/09/2013

Emprego e renda no Brasil já não são os mesmos de pouco tempo atrás. A mudança é para pior, mas nada que ameace de imediato a situação do mercado de trabalho que, como se sabe, é favorável, devendo permanecer assim nos próximos meses. Algumas repercussões, no entanto já se mostram com clareza. Duas delas se destacam: a primeira, sobre a taxa de desocupação, que é um fundamental determinante do bem estar da população; a segunda, sobre a massa de rendimentos pessoais, um decisivo indicador de capacidade de compra e, portanto, de consumo da população.

A taxa de desemprego em agosto (5,3%) caiu com relação ao mês anterior se for descontada a sazonalidade típica do período,mas isso não deve obscurecer os resultados mais gerais da pesquisa de emprego do IBGE nas principais regiões metropolitanas do país. A sugestão de um desses resultados é que devemos relativizar o menor desemprego de agosto porque tomando comparações mais longas a taxa de desocupação vem tendo uma estabilidade digna de registro.

Assim, em agosto do ano passado, o percentual de desemprego foi da mesma magnitude do índice agora apurado. Mais: considerando as médias anualizadas dos últimos doze meses, o desemprego oscilou muito pouco, em torno a uma média de 5,5% da população economicamente ativa. Assim, a melhor forma de caracterizar a situação do desemprego no país nos dias atuais consiste em dizer que após melhorar muito por vários anos, pouco vem se alterando ultimamente, de forma que a tendência da taxa de desocupação
é de manter-se estável.

Após 2005 o Brasil vivenciou uma inusitada expansão das vendas do varejo e do consumo familiar, um dos principais motores de sua evolução econômica. A elasticidade proporcionada pelo crédito foi um dos determinantes desse processo, mas tão ou mais relevante foi a dinâmica igualmente extraordinária do rendimento da população. Pois bem, é esta base sobre a qual se multiplica o consumo que agora começa a perder ritmo, uma evidência a mais de que o ciclo de consumo na economia brasileira dá sinais de fadiga.

Os dados são bastante esclarecedores: se amassa real de rendimentos do trabalho cresceu 6,2% no ano passado em linha com a elevação média observada nos oito últimos anos, entre janeiro e agosto de 2013 aumentaria somente 2,8% sobre igual período do ano anterior. Nos últimos três meses o crescimento foi de 2,4%. Portanto, há uma clara tendência de desaceleração, em parte porque o número de pessoas ocupadas já não progride tanto como anteriormente.

O resultado responde ainda ao menor ganho real dos rendimentos do trabalho devido à inflação mais elevada, mas certamente também por causa do menor ímpeto com que evolui a demanda de emprego. Ao longo do corrente ano três dos principais segmentos geradores de postos de trabalho apresentaram números especialmente adversos: indústria, construção e intermediação financeira que em determinados meses chegaram a registrar quedas em seus efetivos. Em outros setores a geração de emprego manteve-se positiva, mas em escala muito menor do que antes, casos do comércio e outros serviços (que inclui serviços pessoais).

Somente as atividades predominantemente públicas (administração pública, defesa, educação, saúde e proteção social) preservaram seu padrão anterior, atuando no período como fator anticíclico do emprego urbano do país.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda