Como é de conhecimento geral, a China tem sido um mercado
amplo para produtos primários e ao mesmo tempo um mercado
restrito para os produtos industriais brasileiros. Esta combinação
tem sido favorável porque o saldo comercial dela resultante
é um dos principais mecanismos de sustentação
das contas externas brasileiras desde a última crise cambial
em 2003. Por outro lado, tem sido negativa porque concorre para
formar um modelo de comércio exterior muito dependente
dos preços de bens primários. E também com
tendência ao desincentivo da produção e exportação
de manufaturados de maior valor adicionado e intensidade tecnológica
superior.
Mesmo assim,
a extraordinária expansão chinesa não deixou
de favorecer a exportação brasileira de manufaturas
através de uma via indireta. A explosão dos preços
de commodities determinada pelo fenômeno China levou a um
crescimento econômico maior e ampliou a capacidade de importar
de vários outros países para os quais somos tradicionais
supridores de bens industriais. Países da América
Latina e do Mercosul são os principais exemplos desse encadeamento
que agora corre o risco de se desfazer.
A ameaça
não vem somente do menor vigor do ciclo de commodities
determinado em grande medida pela desaceleração
do crescimento da China, mas também porque os produtos
desse país vêm deslocando o produto brasileiro em
mercados de bens relevantes para a nossa indústria. Além
disso, a penetração chinesa se dá em produtos
de maior dinamismo e melhor expectativa de evolução,
configurando uma perspectiva de que o processo terá continuidade.
A Carta
IEDI de hoje reproduz um estudo que procura transformar em
números as atuais etapas desse processo. Foi analisada
a penetração das exportações chinesas
relativamente às brasileiras entre os anos de 2008 e 2012
nos mercados do NAFTA (América do Norte),ALADI(América
do Sul e América Central) e MERCOSUL (Argentina, Paraguai
e Uruguai, além do Brasil).
Uma primeira
constatação é que a China conquistou maior
espaço principalmente em produtos mais demandados por esses
mercados, ao passo que o Brasil ganhou participação
em produtos com demanda declinante, aumentando muito pouco sua
expressão em produtos com demanda crescente. Nesse último
caso, ou seja, em que o nosso país aumentou sua participação
em produtos com demanda crescente, mostrando-se, portanto, ser
mais competitivo em relação à China, foram
somente em bens com menor elaboração industrial,
como alimentos e bebidas, ou produtos onde o país tem destacada
vantagem competitiva, como refino de petróleo.
O estudo também
avaliou o grau de ameaça das exportações
da China para as regiões sob análise. Há
uma expressiva ameaça direta (76%) em produtos em que o
Brasil vem perdendo oportunidades de mercado. O Brasil sofreu
menor ameaça das exportações chinesas em
2012 em bens que têm perdido participação
relativa nos mercados. Isto significa dizer que o nosso país
revela-se competitivo em relação à China
apenas em produtos com expressão declinante em termos de
mercado nas regiões estudadas. Esses resultados tornam
obrigatório os cuidados com o câmbio, com os custos
sistêmicos da economia e com a política de maior
integração da indústria brasileira nas cadeias
globais de valor.