Surpresa Diante dos Últimos Resultados do PIB
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 09/09/2013

Os últimos resultados do PIB surpreenderam os pessimistas. Mas, um olhar mais distante não autoriza comemorações exageradas. O crescimento de 1,5% no segundo trimestre apresenta uma composição que provavelmente não vai se reproduzir. O investimento teve evolução excepcional(+3,6%) movido, sobretudo, pelos gastos do agronegócio, da construção civil e da indústria, atraída pelos incentivos do financiamento oficial e pela necessidade de modernização de seu parque produtivo. Também foi destacada a colaboração das exportações líquidas.

As exportações cresceram 6,9% e as importações avançaram 0,6% comparadas ao trimestre anterior. Isso representou um ganho de 0,7 pontos na formação da taxa de crescimento ou o equivalente a quase metade da taxa global. Em boa medida esse ganho decorreu da recuperação das exportações do agronegócio, que tiveram brilhante desempenho, e de outros bens primários.

É prematuro projetar esses resultados nos próximos trimestres, ainda que se leve em consideração a desvalorização cambial. Os efeitos mais duradouros de qualquer mudança cambial dependem da percepção dos exportadores e importadores a respeito do nível e da volatilidade da taxa de câmbio. Somente a partir da consolidação de uma taxa cambial que será tomada como referência, as decisões de exportadores e importadores passarão a refletir a mudança, dependendo das condições dos mercados externos.

Todo esse processo pode demandar um lapso de tempo considerável — seis a doze meses — para que sejam efetivadas as decisões empresariais na forma de novos contratos de vendas e de aquisição de insumos. Para mostrar que a elevada contribuição ao crescimento do setor externo não pode ser considerada uma norma, basta observar que o aumento das exportações no segundo trimestre apenas “devolveu” o declínio de percentual equivalente, ou seja, 6,9%, no trimestre anterior. No primeiro semestre do ano, as exportações tiveram acréscimo de somente 0,5% e as importações elevação de 7,6%, indicando com clareza para onde ainda pende o balanço externo da economia brasileira.

Outra consideração se faz necessária. A mais alta evolução do PIB do que era esperado pode ajudar a dissipar o “clima negativo para os negócios” e criar um ambiente favorável para os leilões de concessão de projetos de infraestrutura. Mas, não se pode perder de vista que a confiança do empresário industrial vem caindo desde as manifestações populares de junho, com retrocesso de quase 5% nos meses de julho e agosto, o que poderá ter impacto negativo na formação de capital.

O investimento ainda é uma incógnita para o restante do ano, o que nos remete ao tema do investimento público, tanto aquele executado pelas instâncias de governo e suas empresas, quanto a inversão coordenada pelo Estado na forma de concessões. Faz toda diferença o avanço ainda insuficiente dos mecanismos de impulsão do investimento público adotados nos últimos anos. Tivessem maior efetividade, o aumento da inversão pública auxiliaria na sustentação do gasto de capital privado. Este “investimento autônomo” ampararia um crescimento econômico mínimo enquanto as expectativas empresariais não se recuperam, as exportações líquidas não reagem ao câmbio e não são reconstituídos os mecanismos de geração de renda e de crédito que irão redinamizar o consumo.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda