O Menor Crescimento do Emprego e o Ciclo de Serviços
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
 
Brasil Econômico – 29/07/2013

Dois destaques muito positivos ainda dominam o tema do emprego, mesmo em um contexto em que a economia já atravessa o terceiro ano de dificuldades: a) a desocupação se mantém muito baixa para padrões brasileiros (média de 6%), especialmente em regiões metropolitanas como a de Belo Horizonte e Porto Alegre, que estão próximas ao pleno emprego; b) o emprego formal segue com alto desempenho (2,7% em junho frente ao mesmo mês de 2012), enquanto o emprego como um todo nas regiões metropolitanas progride lentamente (0,6%).

Ou seja, o estado do emprego no Brasil segue favorável. O mesmo, no entanto, não se pode dizer de sua evolução recente, a qual poderá em breve começar a afetar a taxa de desocupação e a própria formalização do trabalho.

Para avaliar a perda de ritmo do emprego urbano no país basta a observação de que no segundo trimestre desse ano relativamente ao mesmo período do ano passado, o aumento da ocupação foi diminuto (apenas 0,5%), embora tivesse sido muito maior no último trimestre de 2012 (3%). Compare-se ainda o fraco vigor dos últimos meses com a variação média no ano como um todo de 2011 e 2012, em torno a 2,2%.

A indústria, que após um breve período de recuperação, desde março voltou a desempregar, tem sua parcela de responsabilidade neste retrocesso. A construção também porque interrompeu um período de dois anos de expansão e passou a acumular taxas negativas nos últimos seis meses. Nesse percurso, no primeiro semestre do ano a ocupação teve variação zero na indústria e queda de 2,7% na construção.

Um fator ainda mais destacado entrou em cena nos últimos meses. Trata-se do que pode vir a ser o fim de um ciclo longo e decisivo para a dinâmica do emprego da economia brasileira nos últimos dez anos: o ciclo de serviços, desencadeado pelo boom de consumo que acompanhou a redistribuição da renda. Segmentos fundamentais, como "comércio e reparação"; "intermediação financeira, atividades imobiliárias e serviços prestados à empresa"; e "outros serviços" continuam absorvendo mão de obra, mas experimentam notável desaceleração.

Por exemplo, no primeiro deles foi pouca a evolução em maio e junho com relação aos mesmos meses do ano passado (1,1%), após crescer quatro vezes mais nos três meses finais de 2012. No segundo caso, uma elevação de quase 3% no ano passado foi perdendo fôlego a cada mês ao longo da primeira metade desse ano, de forma que já há registro de taxa negativa em junho (-0,1%). Em outros serviços o ritmo é cada vez menor (1,4% em junho) desde que este setor logrou uma expansão superior a 4% na média do último trimestre de 2012. Do lado oposto, a administração pública, educação, saúde e serviços sociais, onde é preponderante o setor público, teve papel amortecedor dos impactos adversos dos demais segmentos, crescendo 5,7% em média no último trimestre.

Se o ciclo de serviços não é o mesmo, por enquanto não há sinais de regressão do emprego, mas acomodação ou desaceleração na demanda de trabalho, sendo mantido o nível elevado de ocupação. O lado positivo deste cenário é que a inflação de serviços poderá ser menor, contribuindo para a evolução mais branda dos índices de preços ao consumidor, o que, por seu turno, protege a renda real e o consumo da população.


Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda