O Lugar do Brasil nas Cadeias Globais de Valor
 
Julio Gomes de Almeida
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp
Cristina Reis – Economista do IEDI

Brasil Econômico – 01/07/2013

Abordamos no artigo anterior, nesta coluna, certas condições para que o Brasil venha a participar das cadeias de valor internacionais. Estamos dando sequência ao tema, agora colocando em evidência certas características da inserção brasileira nessas cadeias. São utilizados amplamente os trabalhos recentes da OCDE, a associação dos países ricos e da OMC, Organização Mundial do Comércio (Ver: OCDE/OMC, Interconnected Economies: benefiting from global value chains. Preliminary Version, 2013 e Trade In Value Added (TIVA) Indicators, country notes - BRAZIL, 2013). A base de dados da OECD e da OMC mensura o valor adicionado do comércio dos países, o que ajuda muito a compreender a verdadeira procedência de cada etapa das cadeias de valor.

Dois indicadores acerca da participação dos países nas cadeias globais de valor são mais relevantes, conforme a metodologia da OCDE/OMC. O primeiro é a parcela de insumos estrangeiros contidos nas exportações, um indicador para trás da cadeia produtiva. O outro é a parcela de insumos produzidos em um país contidos nas exportações dos outros países, um indicador para frente da cadeia produtiva. A soma dos dois fornece uma aproximação do que seria um índice de participação nas CGV.

A posição do Brasil é baixa na escala dos países e isto decorre do diminuto valor do primeiro índice que em 2009 atingiu somente 9%, significando isto que 91% do valor adicionado de nossas exportações correspondem a bens e serviços de produção doméstica. Este percentual denota o afastamento brasileiro das cadeias globais. É o segundo maior entre o G20 e 15 pontos percentuais acima da média dos países da OCDE. O Brasil é um caso de economia grande com expressivos recursos minerais, o que concorre para as exportações brasileiras terem um valor adicionado doméstico tão alto.

Mas, não é somente isto. Dois outros fatores são relevantes. Primeiro, o fator setorial. Nossa economia especializou-se em commodities industriais, minerais ou agrícolas, o que acentua nossa posição como fornecedora de matérias primas para cadeias internacionais e limita nossas importações de insumos básicos, mas nos afasta dos setores onde a formação de cadeias globais é especialmente dinâmica. Nos faltam setores, em outras palavras, para que tenhamos participação maior, casos das indústrias de média e alta tecnologia, como equipamentos elétricos, de comunicação, bens de informática e veículos automotores.

Também não ajuda a questão regional. As cadeias globais ainda apresentam um caráter marcadamente regional. Assim, em média, nos países da Europa, cerca de 70% do conteúdo de valor adicionado estrangeiro das exportações provém de outros países europeus. No Canadá e México, aproximadamente 50% dos bens intermediários importados contidos em suas exportações provêm do NAFTA. O mesmo se observa na Ásia, sendo que partes e componentes avançados são principalmente de origem sul-coreana e japonesa, então exportados para China e outros países.

Criar bases mais competitivas para a produção doméstica e buscar um modelo favorável de acordos internacionais são condições muito importantes para uma maior inserção do Brasil nos fluxos dinâmicos do comércio mundial, mas se não tivermos êxito em diversificar a base de produção e em potencializarmos a atração de investimentos para o mercado regional - a América do Sul - tudo ficará mais difícil.


Julio Gomes de Almeida é professor do Instituto de Economia da Unicamp
e Cristina Reis é economista do IEDI